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CRÍTICA: Ao Cair da Noite (2017)

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Ao cair da noite

[Por Jarmeson de Lima]

Insegurança, desconfiança mútua e paranoia norteiam “Ao Cair da Noite” (It Comes at Night), do novato Trey Edward Shults, que fez desta produção o seu segundo longa. Com um orçamento enxuto e sem grandes nomes no elenco, temos aqui um filme de respeito mas que infelizmente não vai ser respaldado pelo grande público.

Esta última constatação não vem ao acaso. Tivemos com “A Bruxa” no ano passado um exemplo de que se o filme que é vendido como horror não vem com jumpscares e vilões facilmente identificáveis, o público dos multiplexes vai achar ruim e reclamar nas caixas de comentários.

Depois de uma hora e meia de projeção de um filme tenso em uma tarde no shopping, antes que pudesse me recuperar da paulada, já ouvi da fileira de trás um “que merda!” seguido por outra pessoa que murmurava “não sei porque perdi meu tempo com isso”.

Para quem se acostumou com filmes mastigados onde não temos obrigação de pensar sobre o que acontece na tela, este filme realmente é um desafio. Claro que não chega a ser uma obra de Tarkovski apesar do ritmo um tanto lento, mas ao privilegiar o drama e a introspecção ao invés da ação, Edward Shults criou um universo que poderia até estar num arco de The Walking Dead, caso a série não tivesse chegado no lenga-lenga que está.

“Ao Cair da Noite” começa sem que a gente saiba direito onde e o que está acontecendo. As cenas se sucedem e você vai juntando as peças para entender que os personagens estão em um mundo assolado por uma ameaça biológica que deixa feridas fatais em suas vítimas. No fim das contas, este mundo se resume a uma floresta e uma casa ali no meio com uma família armada contra os possíveis perigos externos.

A casa está aparentemente segura, bem trancada e seus moradores sabem usar máscaras de gás e luvas para evitar uma possível contaminação. Entretanto desde o começo esta autoconfiança é abalada quando vemos um ente da família ser morto, queimado e enterrado. Ainda assim, o equilíbrio familiar só acaba mesmo quando um visitante inesperado chega até lá com sua própria família.

Em uma analogia com a Peste que devastou a Europa na Idade Média com a cena inicial que mostra em detalhes o quadro “Triunfo da Morte” de Pieter Bruegel, a tal doença está no ar e aparentemente ninguém está à salvo dela. É quando surgem dilemas morais em um resto de sociedade já fragilizada onde cada um está em busca da sobrevivência da SUA família e não de quem aparentemente pode lhe ajudar.

A tensão permeia o filme. A todo instante um pesadelo pode se confundir com a realidade e ficamos na expectativa de que algo possa a vir ou não a acontecer. É neste limiar do não-visível e sugerido que trabalha esta produção da A24 (a mesma de “A Bruxa”, vejam só!).

O terror de “Ao Cair da Noite” é maior do que está nas cenas projetadas nos cinemas com gente esperando o momento ideal para gritar ou cair na gargalhada. Sem momentos claros de comédia ou tragédia, só resta a este público reclamar ou ignorar o que viu por mais forte que tenha sido a história.

Escala de tocância de terror:

Direção: Trey Edward Shults
Roteiro: Trey Edward Shults
Elenco: Joel Edgerton, Carmen Ejogo, Kelvin Harrison Jr e Christopher Abbott
País de origem: EUA
Ano: 2017

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CRÍTICA: MaXXXine (2024)

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MaXXXine

Após o sucesso de “X: A Marca da Morte“, Ti West surpreendeu o mundo anunciando que o filme fazia parte de uma trilogia e que seu prequel já estava filmado e em vias de finalização. “Pearl“, lançado no mesmo ano, também agradou público e crítica e elevou a níveis estratosféricos o hype para o final da série de filmes. Dois anos depois, chega aos cinemas o tão aguardado “MaXXXine“.

Ti West, apesar de extremamente talentoso, produz algo que chamo de “emulador de Nintendo 64 cinematográfico”. Os ingredientes estão lá, a sensação de nostalgia também, o resultado final é satisfatório mas falta alguma coisa para que a experiência seja completa. É o que acontece em filmes como “A Casa do Diabo“, em que ele administra muito bem todo o clima de filme do final dos anos 70 / início dos 80 envolvendo satanismo (e idosos) mas o resultado final é bem qualquer coisa.

O problema se repete em “O Último Sacramento“, onde recria com quase perfeição cenas de filmes como “Guyana Tragedy: The Story of Jim Jones” e de documentários como “Jonestown: Paradise Lost” e “Jonestown: The Life and Death of Peoples Temple“, mas que caminha para um resultado fraco e pueril. Daí pra frente, após dirigir episódios para várias séries de TV (entre elas “Pânico“, “Outcast” e “O Exorcista“) e tentar até a incursão no faroeste, ele chega à Trilogia com a Neta da Atriz Brasileira Maria Gladys.

Vale bem dizer que “X: A Marca da Morte“, até sua metade, é um pastiche de filmes como “O Massacre da Serra Elétrica” e “Devorado Vivo“, ambos do falecido mestre Tobe Hooper. Mas essa é a parte boa! Daí pra frente temos uma história que só se sustenta devido à boa atuação de Mia Goth (interpretando tanto a aspirante à atriz de filmes adultos, Maxine, quanto a idosa Pearl). Goth também é o tripé estrutural de “Pearl“, onde mesmo interpretando, a meu ver, uma das personagens mais insuportáveis da história do cinema, ela realmente brilha e o diretor também consegue um resultado melhor que suas outras incursões pelo gênero. Talvez por não ficar tão preso à missão de recriar outros filmes (como a história se passa em 1918, provavelmente fazer um filme preto e branco sem som não teria um retorno comercial muito bom…).

A “Trilogia X“, mesmo tendo vínculo óbvio entre os filmes, trabalha esses três filmes independentemente tendo como pano de fundo as produções cinematográficas e a busca pela fama de suas protagonistas. A frustração em ser atriz de cinema, levou Pearl à loucura. A vontade de ser uma estrela fez com que Maxine Minx sobrevivesse ao massacre no Texas e agora, em 1985, a mesma personagem continua a busca pela realização de seu sonho em “MaXXXine“.

Com uma carreira consolidada, mas ciente que sua trajetória na indústria de filmes adultos estaria com dias contados, Maxine Minx tenta começar a fazer “filmes de verdade”. Após muita ralação, finalmente consegue passar no teste para um papel no filme “A Puritana 2“. Porém, ao mesmo tempo em que as luzes da ribalta começam a brilhar para ela, antigas colegas de trabalho começam a ser assassinadas de forma brutal, num cerco que parece se fechar a seu redor.

Além disso, a atriz começa a ser chantageada por um inescrupuloso investigador particular (Kevin Bacon, excelente), que ameaça trazer sua participação nos assassinatos do rancho no Texas à tona, sob ordens de um misterioso cliente. Ao ser procurada pelos detetives Williams (Michelle Monaghan) e Torres (Bobby Cannavale), Maxine se recusa a ajudar no caso e resolve tomar as rédeas da investigação com a ajuda de seu amigo Leon, que trabalha numa locadora, junto a seu agente Teddy Night (Giancarlo Esposito).

Com as peças no tabuleiro, Ti West faz um filme que lembra vagamente “Os Olhos de Laura Mars“, só que cheio de referências à filmes que pouco ou nada acrescentam à trama como uma das atrizes de “A Puritana” comentando que seu grito com a boca escancarada ficou eternizado no cinema (feito o de Felissa Rose, a Angela de “Sleepaway Camp“) ou o Bates Motel e a casa nos fundos. Mas, ué? “Psicose” não é dos anos 80! É de 1960! Sim. Mas estamos falando de… “Psicose 2“! (Um personagem fala que fizeram a sequência no local recentemente).

Mesmo enchendo os olhos com muita cor, muito neon, muita Split-Screen à la “Vestida para Matar” e “Blow Out“, de Brian de Palma, muita cocaína e muito rock farofa, o roteiro é frouxo e não consegue decidir se a protagonista de Maxxxine é uma heroína chutadora de bundas (e esmagadora de testículos) ou uma jovem atormentada pelo trauma do que viveu no passado. Suas ações e de seus parceiros são burras. A investigação que ela resolve assumir se resume a ler o que está escrito num envelope e o diretor e roteirista finda apelando para um clássico Deus Ex Machina para poder fechar, de forma muito fraca, a história.

Apesar de ter mortes violentas e um certo gore, “MaXXXine ” aponta mais para um suspense hitchcockeano da série B do que para um slasher ou um giallo. O horror do filme se restringe a alguns poucos momentos de tensão provavelmente por que o diretor não quer tirar a câmera de Mia Goth (o que eu também faria, afinal ela é maravilhosa!). Enfim, dei algumas risadas, me irritei com outras coisas, mas no final me diverti mais do que nos filmes anteriores. É um bom fechamento para a trilogia? Não. Mas a trilogia também não é lá essas coisas, então tá lá mais um produto com o selo Ti West de qualidade.

Escala de tocância de terror:

Título original: MaXXXine
Direção: Ti West
Roteiro: Ti West
Elenco: Mia Goth, Elizabeth Debicki, Moses Sumney
País de origem: EUA

* Filme visto em Cabine de Imprensa promovida pela Espaço Z e Universal Pictures no Cinemark RioMar

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CRÍTICA: Entrevista Com o Demônio (2024)

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Entrevista Com o Demônio

Pela quantidade de pessoas na internet que perguntam se “Entrevista com o Demônio” (Late Night With the Devil) foi baseado em uma história real, logo concluímos que o objetivo dos seus produtores foi bem sucedido. O fã do cinema de horror, no entanto, já conhece o esquema. E quem via as atrações mais pitorescas do programa do Gugu já devia estar escaldado também.

O longa aqui é o simulacro de um programa de TV dos anos 1970 com toda a direção de arte, fotografia e estilo que emula direitinho a estética das produções daquela época. E quem já viu um found-footage, sabe bem onde o filme quer chegar. Ele parte do convencimento e do background das audiências de programas de auditório para nos mostrar um suposto momento na história da televisão norteamericana em que tudo deu errado.

Mas antes mesmo de “Entrevista com o Demônio” começar de fato com o programa “Night Owls“, somos apresentados à uma breve biografia de Jack Delroy (David Dastmalchian) e sua aspiração ao estrelato. Sabendo que muita gente que verá o longa pode não entender o contexto, o filme se inicia com um bom prólogo sobre os EUA nos anos 70, a contracultura e o fenômeno “satanic panic” com “reportagens” sobre cultos satanistas onde mistura casos reais com o caso a ser mostrado na trama.

Daí corta e vamos à atração principal. “Night Owls“, apresentado por Jack Delroy tem aquele clássico formato de programa de variedades de fim de noite com uma bandinha fazendo a trilha sonora ao vivo, entrevistados diversos e uma plateia que também atua como claque e coadjuvante. No desespero por audiência e sem o mesmo prestígio de antes, Delroy e seus produtores começam a apelar pegando personagens cada vez mais pitorescos.

Eis que a última grande cartada da equipe vem com o Halloween. Delroy e equipe torce que o freak show deste episódio supere todos os índices do Ibope estadunidense. No entanto, o que ele não esperava, é que não se deve brincar com as forças ocultas ao vivo em rede nacional.

Assim como falei antes, “Entrevista com o Demônio” é bem eficaz nesse sentido de pegar a gente pela mão para embarcar numa viagem a uma nostálgica produção de horror. Agora, claro, neste formato em que se propõe, o longa possui pontos altos e baixos. Se por um lado é interessante apresentar o programa “na íntegra”, os cortes para “intervalos comerciais” baixam a bola e quebram o ritmo, mesmo sendo parte de toda a mise-en-scène.

De positivo, destacamos facilmente o elenco como um todo. Desde o vidente Christou (Fayssal Bazzi) até a garota possuída Lilly (Ingrid Torelli), todos no filme dão seu nome em uma produção repleta de rostos pouco conhecidos. A cena da possessão e a entrevista em si são de arrepiar. O que destoa, entretanto, é a profusão de efeitos visuais no último segmento quebrando um pouco o clima de suposto realismo que a gente tinha até então. Mas bem, faz parte da magia da TV.

Escala de tocância de terror:

Título original: Late Night With the Devil
Direção: Colin Cairnes e Cameron Cairnes
Roteiro: Colin Cairnes e Cameron Cairnes
Elenco: David Dastmalchian, Laura Gordon, Ian Bliss, Ingrid Torelli
País de origem: Australia

* Filme visto em Cabine de Imprensa promovida pela Espaço Z e Diamond Films no Cinemark RioMar

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CRÍTICA: Um Lugar Silencioso – Dia Um (2024)

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Um Lugar Silencioso - Dia Um

Quando um filme faz muito sucesso é esperado que se torne uma franquia. Aí lembramos que Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018) não fugiu à regra e poucos anos depois a sequência chegou. Agora em 2024 vimos o primeiro spin-off desse universo que foca no primeiro dia da invasão alienígena. Como prequel, já sabemos onde “Um Lugar Silencioso – Dia Um” vai dar, mas valia a pena saber tantos detalhes? Acompanhem…

Num dia comum, a jovem e debilitada Samira (Lupita Nyong’o) vai com seu grupo de uma clínica de cuidados paliativos contra o câncer em NY. Na cidade, se preparam para assistir a uma apresentação artística quando são surpreendidos por algo inimaginável e mortal. O choque e o medo tomam conta das ruas e a luta pela sobrevivência se inicia.

Bem, era um filme com bastante possibilidades, mas para o bem e para o mal, ele se apoia muito nos filmes anteriores. Um Lugar Silencioso – Dia Um se foca mais numa jornada intimista ao invés de mostrar algo maior. À princípio, a jornada solitária da protagonista é o foco, deixando as consequências do ataque mais em segundo plano. Sendo que quem espera mais explicações sobre os aliens pode sair da sessão decepcionado.

Acho que devo destacar que a dupla principal de personagens tem uma boa química e dão o suficiente para que o publico torça pela salvação de ambos. Ainda assim, a principal estrela é o gato de Samira que rouba a cena em vários momentos.

As cenas de ação/terror são boas, mas em menor escala que os filmes anteriores. Mesmo assim, fiquei na ponta da cadeira em algumas situações. O gore, infelizmente é bem fraco sendo mascarado por cortes rápidos ou fotografia escura.

Um Lugar Silencioso – Dia Um é um prato-feito bem organizado, bem honesto. Tem uma ótima atuação de Lupita Nyong’o e uma carismática participação do Joseph Quinn. Poderia ser bem mais épico, mas deve agradar ao fã desta recente franquia.

Escala de tocância de terror:

Título original: A Quiet Place – Day One
Direção: Michael Sarnoski
Roteiro: Michael Sarnoski, John Krasinski, Bryan Woods
Elenco: Lupita Nyong’o, Joseph Quinn, Alex Wolff e outros
Ano de lançamento: 2024

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