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Críticas

CRÍTICA: February (2015)

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February

Parece que estamos diante de mais um daqueles filmes que você ama, ou odeia. E se baseando na polêmica que o controverso A Bruxa (The VVitch, 2016) causou no primeiro semestre deste ano,  A Enviada do Mal (February ou The Blackcoat’s Daughter) tem tudo pra ser odiado, e até ignorado, pelo público em geral. O que é uma pena.

Segundo sua sinopse, a parada aqui é bem simples:
“Em um colégio interno para meninas, acompanhamos a história de duas garotas ligadas a uma série de eventos sinistros”.
Se for assistir, vá fundo com apenas essa informação e, se conseguir evitar, nem veja o trailer. Apesar de não entregar nada também, mas quanto menos souber, melhor.

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February (ou The Blackcoat’s Daughter) é escrito e dirigido pelo estreante Osgood Perkins que é simplesmente filho de Anthony Perkins. Isso mesmo! O eternizado Norman Bates de Psicose (1960). Oz, como é creditado, se mostra muito seguro em sua estreia na direção, optando por uma narrativa que, além de extremamente lenta e minimalista, vai contra o estilo do cinema de horror mainstream atual.

O roteiro, também escrito pelo próprio Oz, é bem sutil e daqueles que conforme o filme avança, tudo vai se configurando um puta quebra-cabeça cabuloso pra montar. Não há apelação com sustos gratuitos aqui. Tudo se sustenta pelo clima tenso e depressivo das personagens, nas quais, tudo gira em torno. Neste aspecto, o longa lembra o ótimo filme vampiresco sueco Deixe Ela Entrar (Låt den rätte komma in, 2008), inclusive por suas paisagens gélidas e desoladoras.

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A produção conta com atuações pra lá de eficientes que nos conferem personagens intrigantes. Primeiro temos Kat (Kiernan Shipka), uma garota que, esquecida por seus pais, é obrigada a ficar na escola durante o feriado. Logo em seguida temos Rose (Lucy Boynton), que não foi esquecida, mas literalmente ignorada pelos pais e que de repente se vê obrigada a fazer companhia a Kat durante o recesso. Kat é obviamente uma moça dispersa e sem vida social, ao contrário de Rose que parece ser bem popular.

Um pouco mais pra frente, já no segundo ato, uma terceira moça entra na jogada: Joan. Encarnada pela já conhecida Emma Roberts (American Horror Story e Scream Queens), essa não está na escola, mas está indo pra lá com a ajuda de um casal de bons samaritanos que lhe oferece carona. Diferente da dupla inicial, Joan surge como uma incógnita na trama se mostrando bem indiferente a tudo.

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O mistério é a grande força de February (ou The Blackcoat’s Daughter). O fato é que não estamos diante de um filme fácil. Não há diálogos expositivos aqui. Tudo é na base da sugestão onde praticamente todas as cenas tem uma função narrativa e dizem muito sobre cada personagem. Todos os ambientes internos são pequenos e claustrofóbicos, mas é impressionaste como Oz consegue aproveitar o pouco espaço que tem. Ele também faz um ótimo uso de flashbacks e visões bizarras pra nos dar dicas pontuais da trama.

A trilha e os efeitos sonoros são praticamente contínuos e funcionam organicamente a cada cena. A música segue sempre baixinha como uma presença maligna que ao ganhar volume em certas situações, mostra a que veio. Nem espere sair cantarolando, pois não há frases melódicas para isso, mas sim, muita dissonância. É uma constante atmosfera sonora de melancolia e incômodo lembrando até o climão de Silent Hill (tanto no filme de 2006 quanto na franquia de jogos).

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Apesar do roteiro ser bem escrito e de uma direção segura, algumas “más” escolhas em certos detalhes técnicos podem atrapalhar no entendimento da trama. Até entendo o porquê dessas escolhas pra narrativa, mas ao meu ver, foram um pouco prejudiciais. Claro que essas coisas podem não ser um problema pra você. Aliás, recomendo até uma revisada independente de ter entendido ou não, pois muita coisa que pode passar batida na primeira vista, pode fazer mais sentido na segunda, fazendo o filme crescer muito. Também não chega a ser como os filmes do David Lynch. Nem se preocupe.

Fico feliz em concluir que February (ou The Blackcoat’s Daughter) surge como mais um filme sinistro e medonho em conceito como deve ser. Com certeza vai ser bem apreciado pelos amantes do bom e cabuloso horror de verdade. É bom saber que sempre vai ter alguém competente e com potencial remando contra a maré do horror pastelão.

Escala de tocância de terror:

Direção: Osgood Perkins
Roteiro: Osgood Perkins
Elenco: Emma Roberts, Lauren Holly, Lucy Boynton
Origem: EUA | Canadá

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Anarquista, quase cinéfilo, diretor de arte, fotógrafo, cervejeiro, rockeiro doido e crítico/podcaster do Toca o Terror

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CRÍTICA: Abigail (2024)

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Abigail

Abigail” é o filme de vampiro da vez que vem sob a tutela da Radio Silence, grupo responsável pelo sucesso dos novos filmes da franquia “Pânico” e do já cult “Casamento Sangrento“. A proposta aqui é homenagear e revitalizar as histórias com esses seres dentuços.

Como posso começar? Bem..se você viu o trailer já sabe pelo menos uns 80% do que vem por aí. O trabalho de marketing do filme foi bem ruim porque claramente a ameaça não deveria ter sido revelada no trailer. E como se a gente não soubesse o que vem aí, o longa gasta um bom tempo fazendo mistério do que pode acontecer. Na minha sensação, isso até demorou um pouco além do que deveria nesse quesito.

Na trama acompanhamos um grupo de bandidos que sequestram a jovem Abigail, mantendo-a refém numa casa no meio do nada. O problema é que a garota não é nem um pouco inocente como aparenta e está determinada a fazer de todos sua próxima refeição.

O problema aqui é a previsibilidade. Sabemos muito bem como a história vai caminhar. Tirando um ou outro detalhe, nada me surpreendeu. Os personagens são qualquer coisa e na maioria das vezes soltam frases engraçadinhas, mas que não fizeram ninguém no cinema rir.

Os diretores tentam fazer algo parecido com os trabalhos anteriormente citados, mas o que rola é uma tentativa pálida de remeter a essas histórias de gato-e-rato. A principal questão aqui é a inexistência de tensão. Temos um cenário bacana e uma antagonista carismática, só que isso tudo não funcionou bem.

O verdadeiro destaque, como não poderia deixar de ser, é a Abigail, personagem-título que transita entre vulnerabilidade e deboche de forma bem condizente. Alisha Weir, no papel de vampirinha, é boa e carismática, mas a tentativa quase desesperada de transformá-la na nova M3gan tiram um tanto do seu poder. As cenas da personagem dançando como em um video de TikTok são muitas e em determinados momentos não condizem com o comportamento de um vampiro centenário.

É preciso dizer que a produção tem momentos onde o sangue jorra deixando personagens encharcados de vermelho. Ainda assim, temos só umas duas cenas no máximo com gore real. Uma delas ainda me lembrou “Zombi” de Lucio Fulci onde vemos a pele do pescoço sendo desprendida por uma mordida.

Bem, eu acabei falando um pouco mal de “Abigail“, mas ele não é pavoroso. Dá pra assistir se não tiver pretensão alguma. Aqui se encontra um típico filme de shopping que é fraco no geral, mas bem superior se comparado às tralhas atuais da Blumhouse.

Diretores: Matt Bertinelli-Olpin e Tyler Gillet
Roteiro: Guy Busick e Stephen Shields
Elenco: Alisha Weir, Melissa Barrera, Dan Stevens, Giancarlo Esposito e outros
Ano de lançamento: 2024

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CRÍTICA: A Primeira Profecia (2024)

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Primeira Profecia

Após três continuações, um remake e uma série de TV, A Profecia (1976) completou o ciclo da vida de um clássico do terror e ganhou um prequel. A Primeira Profecia (2024), dirigido por Arkasha Stevenson, que assina o roteiro com Tim Smith e Keith Thomas, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira.

Nesse novo capítulo da história, vamos acompanhar os fatos que precederam o nascimento de Damien. Para isso, somos apresentados a Margaret (Nell Tiger Free), noviça americana que se muda para Roma, onde irá fazer seus votos e seguir uma vida de servidão no convento comandado pela madre Silva (Sonia Braga).

Logo na sua chegada ao local, que também hospeda um orfanato e uma maternidade, ela dá de cara com uma freira esquisita e com uma criança atormentada por pesadelos (e que vive fazendo desenhos esquisitos). Tudo piora quando o padre Brennan (personagem do primeiro filme, agora interpretado por Ralph Ineson) entra em contato para dizer que tem algo sinistro rolando com essa menina.

O que joga contra A Primeira Profecia, e contra esse tipo de ‘história de origem’, é que já sabemos o que acontece num futuro próximo. A conspiração satânica vence, Damien nasce e é entregue ao embaixador americano para que cresça no meio político. Tá tudo lá no clássico de Richard Donner.

Então o que quer que tenha acontecido até o bebê do mal vir ao mundo não foi muito relevante. Aí o roteiro do prequel precisa criar mistérios onde não tem muita margem para isso. A saída mais fácil é apostar no horror gráfico, mesmo que isso rompa com o clima atmosférico do original, com jumpscares, risadas fantasmagóricas, aparições.

Alguns desses artifícios funcionam, principalmente para audiências mais sensíveis. Outros, porém, não surtem efeito, como a repetição da morte por enforcamento, incluindo a última frase da suicida (não é spoiler, isso está no trailer). Olhares mais atentos vão notar ainda referências a outras produções clássicas como o Bebê de Rosemary (1968) e Possessão (1981).

No entanto, não faltam esforços para dar personalidade ao longa, o que é alcançado com o protagonismo feminino. Arkasha Stevenson consegue tirar de Nell Tiger Free uma boa atuação que faz com que sua Margaret desperte simpatia ao longo do filme. É aí onde diretora e atrizes se juntam em harmonia para levantar temas como perda da fé, submissão, maternidade, sexo e até mesmo sororidade.

O trio de roteiristas também acerta ao levantar questões sobre o poder da religião sobre as massas, mas não dá para se alongar sem revelar detalhes específicos da trama. No fim das contas, A Primeira Profecia fica numa categoria curiosa: é irrelevante e desnecessário como prequel (fazendo até referências constrangedoras), mas se mostra uma obra melhor que a média do que vem sendo feito no terror mainstream. Isso, vamos combinar, ninguém profetizou.

Escala de tocância de terror:

Direção: Arkasha Stevenson
Roteiro: Arkasha Stevenson, Tim Smith e Keith Thomas
Elenco: Nell Tiger Free, Ralph Ineson e Sonia Braga
Origem: EUA
Ano de lançamento: 2024

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CRÍTICA: Feriado Sangrento (2023)

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Feriado Sangrento

Sabe aquele filme que é tão ruim, mas tão ruim que você se vê na obrigação de falar a respeito para que ninguém caia nessa? Então, se algum de vocês se deparar com “Feriado Sangrento” (Thanksgiving) na vitrine da (HBO)Max, fuja assim como um peru foge da ceia.

Mas antes do filme em si, vamos recapitular e contextualizar a parada. “Feriado Sangrento” nasceu como um trailer, ou melhor, um fake trailer do projeto “Grindhouse” de Tarantino e Robert Rodriguez. Além de “Machete” e “Hobo With a Shotgun” que eram trailers de mentira mas que também ganharam longas depois, “Thanksgiving” era um dos que estavam ali no meio.

O trailer em si enganava bem porque parecia mesmo emular uma produção slasher dos anos 80 com uma fotografia suja e escura junto de uma voz macabra. Inclusive digo com certeza que essa pequena produção foi a melhor coisa que Eli Roth já fez. O que, convenhamos, não é lá algo muito difícil.

Mas enfim, tudo o que o trailer entregava de misterioso e macabro, o filme real apresenta hoje de forma superficial e superbatido. Em primeiro lugar, o longa de “Feriado Sangrento” se passa nos dias atuais. Então esqueça aquela aura de slasher oitentista. Aqui as mortes ocorrem em live de Instagram, com ameaças por inbox e com todos os problemas que os jovens e adultos de hoje enfrentam, tal como a ansiedade para a Black Friday.

E vejam, não é a data comemorativa de Ação de Graças que desencadeia a matança no roteiro e sim uma ação de Black Friday que dá muito errado! Imagine só um pessoal na frente do Supermercado Guanabara esperando as portas se abrirem no dia de seu esperado aniversário. Multiplique a ansiedade e a agonia popular por 10 e aí vira a turba que estava afim de entrar num Walmart genérico afim de promoções pra qualquer produto.

No meio da confusão causada pelo alvoroço do povão, um bocado de gente acaba se acidentando, é pisoteada e morre de forma trágica. E por conta do trauma, o assassino do filme resolve se vingar dos donos da loja e das pessoas que entraram ali primeiro. No entanto, não espere nenhum tipo de crítica anticapitalista ou anticonsumista, o assassino que veste uma máscara de John Carver, um dos primeiros peregrinos estadunidenses, quer apenas uma vingança macabra de forma rasteira.

E aí voltamos ao trailer… o que tinha de cena interessante ou mais soturna, no longa vira algo caricato. Sério! Além das cenas que já tínhamos visto e que são refeitas de uma forma ruim, as novas sequências criam um gore desnecessário mesmo quando sabemos que o que pode rolar é macabro. Isso porque para provar que o longa é realmente de terror, Eli Roth claro que tinha que forçar a barra e dar um tom 10 vezes acima do que a cena pede de forma gratuita.

Resumindo: Não veja! Fique com as lembranças do trailer nostálgico e assista algum slasher da época, mesmo com suas limitações. Eli Roth sequer se esforça em trazer algo novo como fizeram produções recentes como “Dezesseis Facadas” (Totally Killer) e “Morte Morte Morte” (Bodies Bodies Bodies). Ao invés de tentar um slasher diferente ou repassar a produção pra Ti West dar um clima que realmente remetesse ao trailer, Roth simplesmente fez um longa só pra gente passar raiva com um produto demasiadamente clichê.

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