conecte-se conosco

Críticas

CRÍTICA: O Cemitério das Almas Perdidas (2020)

Publicados

em

O Cemitério das almas perdidas

Ao mestre José Mojica Marins.” Com essa frase, o diretor e monstrólogo Rodrigo Aragão, que teve o prazer e o privilégio de trabalhar com o maior ícone do horror nacional em As Fábulas Negras“, começa seu sexto longa metragem, “O Cemitério das almas perdidas”. A emoção causada por essa homenagem é apenas a primeira de muitas que qualquer fã do gênero terá durante os próximos 95 minutos da obra.

Cipriano e o Cramunhão

Quem tem mais de 30 anos já conhece ou ouviu falar do Livro Negro de São Cipriano. A obra, que é um tipo de manual de feitiços e bruxarias que teria sido sussurrado pelo cramunhão em pessoa no ouvido do citado santo, é o pivô do filme. Após ser roubado, o livro vem parar aqui no Brasil do século XVI nas mãos de sanguinários jesuítas. Após massacrar uma tribo inteira, o autodenominado Cipriano (Renato Chocair), escraviza sexualmente uma jovem índia chamada Aiyra (Allana Lopes), que será resgatada por membros de uma tribo canibal. Para evitar a derrota, Cipriano conjura um feitiço e se torna um vampiro/zumbi junto de seus asseclas!

Cipriano

Apesar da vitória iminente, em um último momento do embate, o livro tem algumas páginas arrancadas e o grupo de vampiros é confinado ao espaço da pequena capela e seu cemitério graças a um feitiço invocado pelo jovem missionário Joaquim (Caio Macedo). A sobrevivência da trupe será mantida por um grupo de pessoas que, para evitar a danação das crianças de seu pequeno vilarejo, se torna responsável por matar a sede dos vampiros arrastando forasteiros para o cemitério.

O Espetáculo Mausoleum

Muitos anos se passam e num Brasil mais recente conhecemos um jovem chamado Jorge (Diego Garcias). Integrante de um espetáculo mambembe administrado por Fred (Francisco Gaspar) chamado “Mausoleum“, Jorge tem um pesadelo recorrente onde se encontra com uma jovem índia (adivinha quem é essa índia?) e é empurrado do penhasco ao lado de uma igreja (adivinha que igreja é essa?). Após o grupo de artistas entrar em conflito com um bando de religiosas por causa do conteúdo do show ser considerado inapropriado (parece que esse Brasil é ainda mais recente do que imaginávamos!) são emboscados por encapuzados e arrastados para o cemitério, onde o sonho que repetidamente atormenta Jorge se tornará realidade.

Crentes do cu quente

Se Rodrigo, sua esposa Mayra Alarcón e todo o pessoal da Fabulas Negras Produções já conseguia tirar leite de pedra, agora com um orçamento na faixa de R$ 2 milhões, que ainda é troco de bala para um longa, eles obtém um resultado que não deixa nada a dever à produções hollywoodianas de gênero. Impressionante como com um pouco mais de dinheiro conseguiram transformar um galpão em Guarapari-ES em praticamente uma Weta Workshop (produtora neozelandesa de efeitos que foi responsável por filmes como “O Senhor dos Anéis”). Estátuas de anjos da morte, armaduras, espadas, criptas e um cemitério inteiro! (Já quero uma cópia Blu-ray pra poder ficar vendo e revendo os detalhes) estão na cenografia do filme. Eduardo Cardenas, responsável pelo departamento de arte, fez um trabalho impecável. Podemos dizer que temos o mesmo esmero tanto na fotografia de Alexandre Barcelos, quanto na música incidental de João MacDowell.

A índia Aiyra

Rodrigo Aragão, assim como seu personagem Jorge, viu seus sonhos serem realizados em “O Cemitério das almas perdidas“. Graças a um edital do Fundo Setorial do Audiovisual (saudades, Ancine), finalmente conseguiu tirar do papel um roteiro que começou a escrever há cerca de 18 anos e com elementos que estavam presentes em toda sua obra. O Livro de São Cipriano? Já tinha sido citado em “Mar Negro”, “A Mata Negra” e “A Noite do Chupacabras”. A igrejinha do cemitério? Já tava lá em “Mangue Negro”… e deve ser massa ver tudo isso acontecer ao lado de pessoas que estão lá com ele desde o começo, como o ator Marcos Konká, que aqui interpreta o líder dos fantasiosos canibais, e que é o único ator a participar de todos os filmes do diretor.

Gore

“O Cemitério das almas perdidas” é uma obra que se conseguir a distribuição que merece, tem tudo para ser um divisor de águas no gênero. Temos aqui um filme com enredo e atuações eficientes, tecnicamente irrepreensível para agradar gregos e troianos e com muito gore para agradar aos fãs de horror. Um filme com potencial para abrir muitas portas, mesmo em tempos difíceis para as artes como o que vivemos. Já passou da hora de acabar com esse preconceito besta com o cinema nacional e, principalmente com o cinema nacional de gênero.

P.S.: Senti falta de mais momentos no espetáculo Mausoleum, pois são deliciosamente divertidos. Já valia aí um “spin off”, hein, Rodrigo? 😉

LEMBRETE: O filme estreia em uma sessão no Belas Artes Drive-In, em São Paulo, no dia 6 de setembro e no dia 7, das 18h às 23:59h, na programação do 10ª edição do Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico, que ocorre entre os dias 6 e 20 de setembro na plataforma Belas Artes à la Carte.

Quer ouvir mais curiosidades sobre a produção do filme e conhecer um pouco melhor o diretor Rodrigo Aragão? Escute aqui o programa que fizemos com ele.

Escala de tocância de terror:

Título: O Cemitério das Almas Perdidas
Direção e roteiro: Rodrigo Aragão
Elenco: Renato Chocair, Allana Lopes, Diego Garcias
Ano de produção: 2020

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Simpático de corpo™ Vimeo: https://vimeo.com/jotabosco/ Youtube: https://www.youtube.com/user/sonicbosco/videos

Continue lendo
2 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Críticas

CRÍTICA: O Jogo da Invocação (2023)

Publicados

em

O Jogo da Invocação

O ano de 2023 está no finalzinho e grandes lançamentos de terror já foram exibidos. Ou seja, fora raríssimas exceções, os estúdios evitam esta época de dezembro para mostrar o filé. É por isso que não tenham grandes expectativas com mais esta produção chegando aos cinemas nacionais agora. O Jogo da Invocação (All Fun and Games), longa produzido pelos irmãos Russo, responsáveis pelos últimos filmes dos Vingadores, é nada menos do que um slasher sobrenatural.

Na trama acompanhamos uma família que tenta se reerguer depois de ter sido abandonada pelo patriarca. A mãe trabalha em várias coisas e os filhos adolescentes se revezam entre o cotidiano e a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo. O pentelho, aliás, é indiretamente responsável pelo que vai acontecer.

Um dia, a caminho de casa, ele encontra uma velha casa (detalhe que a história se passa na cidade de Salém nos dias atuais). Atraído por uma voz sinistra que o incita a pegar uma faca com o cabo feito de ossos humanos, ele se transforma em uma pessoa má. Note o clichê… como o filme se chama “O Jogo da Invocação”, é claro que alguém (no caso, o garoto) será possuído por uma entidade maligna e sairá atrás de sangue fresco.

Olha, pensem num filme feito com o troco do pão… Fazia tempo que não assistia algo tão amador e idiota. Eu sei que não dá muito pra exigir de slashers, mas esse passa do ponto ao quebrar as regras que estabelece o tempo todo. A questão de conveniência do roteiro é usada à exaustão. A produção parece que é de fundo de quintal e tem uns efeitos a la Chapolin, errando até na coloração do sangue.

O elenco conta com rostos famosinhos de séries como Natalia Dyer, de Stranger Things, e Asa Butterfield, de Sex Education, sendo elas o chamariz para essa bomba. Mas para não ser injusto, gostei do ator que faz o papel do irmão mais novo. Tomara que tenha mais sorte em outros projetos.

A direção é praticamente nula e parece que os técnicos e co-roteiristas estavam fazendo o trabalho de qualquer jeito para terminar o filme mais rápido possível. E nesse sentido ainda ajudaram os espectadores já que a produção é bem curtinha e possui apenas 75 minutos contando com os créditos.

Mas assim, sério, o roteiro parece ter sido escrito por alguém do colegial. É uma bagunça completa. No clímax eu já tinha entregue os pontos e só queria que terminasse. Enfim, “O Jogo da Invocação” é algo que deve ser evitado como o diabo foge da cruz. E independente de como se decida assistí-lo, lembre que você estará perdendo um tempo precioso da sua vida.

Escala de tocância de terror:

Título original: All Fun and Games
Direção: Eren Celeboglu, Ari Costa
Roteiro: Eren Celeboglu, Ari Costa, J. J Braider
Elenco: Asa Butterfield, Natalia Dyer, Laurel Marsden e outros

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Continue lendo

Críticas

CRÍTICA: When Evil Lurks (2023)

Publicados

em

When Evil Lurks

O ano de 2023 está sendo cabuloso de bom para os fãs de terror. Faltando apenas 2 meses pra acabar o ano, eu achava que minha lista de melhores já estava definida, até que WHEN EVIL LURKS (Cuando Acecha la Maldad), uma machadada cabulosa vinda da Argentina, pega todo mundo de surpresa.

WHEN EVIL LURKS (QUANDO O MAL ESPREITA em tradução livre) é escrito e dirigido por Demián Rugna (ATERRADOS, 2017), que nos apresenta um cenário sinistro no qual possessões demoníacas não apenas são realidade factual, mas são parte da rotina daquela sociedade. Acompanhamos os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jimi (Demián Salomón) que cuidam de uma fazenda. Certo dia, os fazendeiros têm sua paz abalada quando descobrem que o filho da vizinha está possuído e apodrecendo enquanto vivo. Daí pra frente é só desgraça.

Rugna entrega praticamente um road-movie desgracento em que nossos heróis cometem um erro atrás do outro, tipo uma versão maligna de FARGO, a comédia de erros dos irmãos Coen, só que sem a comédia. Com uma direção certeira e extremamente sádica, o cineasta argentino mantém o clima de tensão constante com picos pontuais que, por mais que ele trabalhe muito bem a antecipação de certas situações, consegue pegar a audiência desprevenida. Até quando a pessoa se achar esperta, na verdade está sendo manipulada para pensar assim.

O roteiro de Damián é enxuto e bem amarrado, contando com poucos diálogos expositivos, deixando muito pra imaginação do espectador a respeito do universo apresentado. Não tem textinho nem clip inicial contextualizando. Aqui, o espectador pega o bonde andando e segue recebendo migalhas de informações ao longo de toda jornada maldita. Para tudo isso funcionar, é preciso que as personagens sejam críveis e o elenco se empenhe para isso. Todos do núcleo principal estão muito bem, mas é Ezequiel Rodríguez que pega na mão do público, arrastando todos para a gradual desgraça de Pedro. Aliás, suas ações, aliadas a pitadas de informações, traz julgamentos e dúvidas sobre o caráter do protagonista que enriquece a experiência.

Tecnicamente eficaz, WHEN EVIL LURKS não tem maneirismos e tudo é mostrado de forma crua e franca. Os efeitos práticos são de uma beleza horrenda. Se brincar, dá pra sentir o fedor de um certo possuído em específico. Apesar de muito ser filmado em planos fechados nas personagens, a sensação de que aquela sociedade já vive um inferno na Terra é aos poucos muito bem construída. A fotografia também é sádica até em certos desfoques. A banda sonora, trilha e efeitos, é discreta mas cumpre bem o papel de dar o tom sem serem apelativos. Ou seja, aqui, tudo é arquitetado para causar mal estar.

Há algumas coisas que incomodam durante o longa – nada que estrague a experiência – como as fracas performances do elenco mirim num momento de grande importância, e algumas decisões tomadas por alguns personagens que soam forçadas, principalmente do nosso protagonista, por exemplo. Falando nisso, no meu caso, foi curioso que acompanhar a trágica empreitada de Pedro, me trazia à mente o refrão da música “Meu amigo Pedro” de Raul Seixas me fazendo falar para a tela: Não, Pedro! Eu não quero ir aonde você for.

Demián Rugna é um nome que merece ficar no radar da galera, pois WHEN EVIL LURKS é um filme maligno que fica na cabeça, como se fosse um trauma, e que provavelmente vai se destacar no topo das listas de melhores do ano de muitos fãs de terror, como é o caso deste que vos escreve.

Escala de tocância de terror:

Título original: CUANDO ACEHA LA MALDAD
Direção: Demián Rugna
Roteiro: Demián Rugna
Elenco: Ezequiel Rodríguez, Demián Salomón, Silvina Sabater e outros
Origem: Argentina

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Continue lendo

Críticas

CRÍTICA: Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim (2023)

Publicados

em

Five Nights At Freddy’s

Houve um ligeiro ceticismo com a notícia de que a franquia de games “Five Nights at Freddy’s” ganharia uma adaptação para os cinemas. Atualmente, como se sabe, a tendência é tirar leite de pedra de qualquer produto da cultura pop que alcance um grande sucesso, além de fazer com que ele seja ainda mais conhecido para um público maior. A franquia criada por Scott Cawthon, também co-roteirista e produtor do longa, no momento tem um total de 11 jogos.

Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” é mais uma aposta da Blumhouse (responsável pela trilogia mais recente de “Halloween“, por exemplo) em uma franquia de fama e bem estabelecida. Tudo indica o projeto deve fazer um bom número nas bilheterias mundiais, obviamente mais por conta da popularidade dos jogos. O porém é que o projeto não deve ser capaz de empolgar ninguém que não seja fã ou não conheça o video game que o inspirou.

O protagonista é um rapaz azarado chamado Mike Schmidt (Josh Hutcherson), que tem uma irmã pequena para criar, mas não consegue parar em nenhum emprego. Ele aceita uma proposta de trabalhar por cinco noites na Pizzaria Freddy Fazbear, fechada ainda nos anos 80 por conta de histórias envolvendo o misterioso desaparecimento de crianças. Mike passa a entender que há algo de mais estranho acontecendo e que, inclusive, os quatro bonecos robóticos que eram usados para animar o público da pizzaria começam a funcionar sozinhos e não aparentam ser nada amigáveis.

Ok que o “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” é produzido de olho em um público juvenil, então a censura vai ser mais baixa e a violência muito branda. Só que também não dá para perdoar tanto uma direção que sempre busca fazer o que é seguro, sem ousar em nenhum momento, apelando sempre para os sustos fáceis. Apesar dos ótimos efeitos, os robôs animados que “tocam o terror” (opa) na produção também não conseguem convencer nas cenas de ameaça e a tensão que o filme precisaria ter.

Em termos de roteiro, o buraco é ainda mais embaixo. Os personagens humanos são todos desinteressantes, o que dificulta o envolvimento do espectador. O desenrolar da narrativa é enfadonho e previsível, tanto que é possível identificar o maior vilão do filme com léguas de distância da conclusão. A maneira como o longa explora o trauma do protagonista (é, de novo) chega a ser preguiçosa, servindo apenas para ‘encher uma linguiça’ e inchar a duração. Ficou muito ruim.

Talvez se “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” tivesse menos personagens envolvidos, não precisasse de uma personagem infantil, e fosse mais claustrofóbico e focado em ser um terror de sobrevivência, o filme funcionasse mesmo com a violência mais leve para o público adolescente. Como está, não passa de nada além de ser algo assistível para quem tiver curiosidade, um filme que apenas existe e é isso.

Escala de tocância de terror:

P.S.: “Willy’s Wonderland – Parque Maldito” guarda muitas semelhanças com “Five Nights at Freddy” e fica impossível de não se lembrar deste filme se você não o assistiu antes. Na dúvida entre os dois, fique com Nicolas Cage vs. os robôs.

P.S.2: Filme visto em Cabine de Imprensa promovido pela Espaço Z no Cinemark Rio Mar Recife.

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Continue lendo

Trending