Críticas
CRÍTICA: A Night of Horror – Nightmare Radio (2019)
[Por Frederico Toscano]*
A Night of Horror – Nightmare Radio é um filme esquisito. Começa pelo título, longo demais (podia ser ou “A Night of Horror” ou “Nightmare Radio”, né?). Mas além disso, é um apanhado de curtas de horror que não foram produzidos para esta antologia especificamente.
Pois é, os caras tiveram a manha de pegar alguns filmes que já circulavam por aí, principalmente em festivais e até no YouTube, criaram uma trama central envolvendo um DJ atendendo ligações de ouvintes em uma madrugada chuvosa, juntaram tudo e pronto: antologia instantânea. Não deixa de ser uma abordagem original, e pode até inspirar outros cineastas, inclusive brasileiros, a conectar seus trabalhos, apresentá-los como partes de um longa e assim ganhar mais visibilidade.
O resultado aqui é meio desconjuntado e a qualidade varia bastante… o que é verdade para, bem, quase todas as antologias que existem por aí. O filme está listado como uma produção da Argentina e dos Países Baixos, tem roteiristas uruguaios e diretores italianos no segmento principal, além de gente de tudo o que é lugar na produção dos curtas em si.
Daí já se imagina o tamanho da salada: o DJ que conta e escuta histórias de horror é claramente americano, trabalhando em uma rádio nos Estados Unidos, mas atende ligações de croatas e ingleses, além de compartilhar causos sobrenaturais falados em espanhol. Lógica não tem, mas com um pouco de suspenção de descrença, dá para comprar a ideia. Assim, sem mais delongas, vamos aos curtas propriamente ditos, na ordem em que aparecem na antologia A Night of Horror – Nightmare Radio:
– In the Dark Woods
Curtinho, direto ao ponto e com clima de contos de fadas (infernais, claro). É basicamente a história de uma mulher invisível que não se contenta com sua situação e chega a extremos para ficar com o homem que ama. Bons efeitos e sanguinolência na medida.
– Post-Mortem Mary
Sabia que antigamente as pessoas pagavam para que tirassem fotos de parentes falecidos? Em casa, com suas melhores roupas e arrumados para parecerem vivos. Uma história de horror oitocentista com uma reprodução de época bem-feita e clima gótico, em plena luz do dia. Um dos melhores da coletânea.
– A Little off the Top
Uma história de inveja capilar que descamba em tortura e sangue. É isso mesmo que você leu, inveja capilar. Sendo muito curto, melhor não falar muito da história. Basta dizer que mesmo um salão de cabeleireiro pode ser um local de horrores. Meio paradão, mas o gore salva.
– The Disappearance of Willie Bingham
Para mim, o melhor. Uma nova lei permite que a família de uma pessoa assassinada possa mutilar o criminoso aos poucos, até se sentirem vingados. O tal Willie Bingham é um bêbado, assassino e estuprador. E ainda assim, depois de uma série de cirurgias horripilantes, garanto que você vai chegar a ter pena do desgraçado. Horror corporal dos bons e uma história que te faz pensar o que, afinal, significa conseguir justiça.
– Drops (ou Gotas, no original em espanhol)
Uma mulher está presa em casa com uma criatura horripilante enquanto sente dores terríveis…ou não. Boa produção espanhola, como uma reviravolta interessante no final.
– The Smiling Man
Criança encontra…algo em sua casa. Achei a história pouco original, a criatura visualmente fraca e a protagonista infantil com a expressividade de um Cigano Igor depois do botox. Mas parece que fez sucesso quando lançado na Internet, vai entender.
– Into the Mud
Uma mulher acorda nua e ferida no meio da floresta, e passa a ser perseguida por um caçador. O roteiro só funciona porque o homem é ruim de mira e toma algumas decisões imbecis, mas tem uma surpresinha boa no final, além de uma carniceira honesta.
– Vicious
Mais uma história de mulher presa em casa com um bicho feio à espreita. Clichê e com uma atriz que parece mais estressada do que aterrorizada, é bem mediano. Parece que também fez sucesso na Internet. Sei de mais nada.
Assim, juntando tudo, bem medido e bem pesado, leva aí 3 caveiras de 5. O formato permite assistir aos poucos e, sendo 9 curtas, não é possível que você não ache algo do seu agrado. O filme não saiu no Brasil e nem parece estar em qualquer serviço de streaming. Logo, obtenham-no através do seu bucaneiro favorito ou simplesmente corram atrás dos curtas individualmente, no YouTube ou em outras plataformas de vídeo. Assim, dê uma chance e fique em casa se aterrorizando de forma segura.

Direção geral: Oliver Park
Diretores dos segmentos: Jason Bognacki, A.J. Briones, Joshua Long, Sergio Morcillo, Adam O’Brien, Luciano Onetti, Nicolás Onetti, Pablo S. Pastor e Matthew Richards
Produção: Black Mandala
Ano de lançamento: 2019
* Especial para o Toca o Terror
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Críticas
CRÍTICA: O Jogo da Invocação (2023)
O ano de 2023 está no finalzinho e grandes lançamentos de terror já foram exibidos. Ou seja, fora raríssimas exceções, os estúdios evitam esta época de dezembro para mostrar o filé. É por isso que não tenham grandes expectativas com mais esta produção chegando aos cinemas nacionais agora. “O Jogo da Invocação“ (All Fun and Games), longa produzido pelos irmãos Russo, responsáveis pelos últimos filmes dos Vingadores, é nada menos do que um slasher sobrenatural.
Na trama acompanhamos uma família que tenta se reerguer depois de ter sido abandonada pelo patriarca. A mãe trabalha em várias coisas e os filhos adolescentes se revezam entre o cotidiano e a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo. O pentelho, aliás, é indiretamente responsável pelo que vai acontecer.
Um dia, a caminho de casa, ele encontra uma velha casa (detalhe que a história se passa na cidade de Salém nos dias atuais). Atraído por uma voz sinistra que o incita a pegar uma faca com o cabo feito de ossos humanos, ele se transforma em uma pessoa má. Note o clichê… como o filme se chama “O Jogo da Invocação”, é claro que alguém (no caso, o garoto) será possuído por uma entidade maligna e sairá atrás de sangue fresco.
Olha, pensem num filme feito com o troco do pão… Fazia tempo que não assistia algo tão amador e idiota. Eu sei que não dá muito pra exigir de slashers, mas esse passa do ponto ao quebrar as regras que estabelece o tempo todo. A questão de conveniência do roteiro é usada à exaustão. A produção parece que é de fundo de quintal e tem uns efeitos a la Chapolin, errando até na coloração do sangue.
O elenco conta com rostos famosinhos de séries como Natalia Dyer, de Stranger Things, e Asa Butterfield, de Sex Education, sendo elas o chamariz para essa bomba. Mas para não ser injusto, gostei do ator que faz o papel do irmão mais novo. Tomara que tenha mais sorte em outros projetos.
A direção é praticamente nula e parece que os técnicos e co-roteiristas estavam fazendo o trabalho de qualquer jeito para terminar o filme mais rápido possível. E nesse sentido ainda ajudaram os espectadores já que a produção é bem curtinha e possui apenas 75 minutos contando com os créditos.
Mas assim, sério, o roteiro parece ter sido escrito por alguém do colegial. É uma bagunça completa. No clímax eu já tinha entregue os pontos e só queria que terminasse. Enfim, “O Jogo da Invocação” é algo que deve ser evitado como o diabo foge da cruz. E independente de como se decida assistí-lo, lembre que você estará perdendo um tempo precioso da sua vida.

Título original: All Fun and Games
Direção: Eren Celeboglu, Ari Costa
Roteiro: Eren Celeboglu, Ari Costa, J. J Braider
Elenco: Asa Butterfield, Natalia Dyer, Laurel Marsden e outros
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Críticas
CRÍTICA: When Evil Lurks (2023)
O ano de 2023 está sendo cabuloso de bom para os fãs de terror. Faltando apenas 2 meses pra acabar o ano, eu achava que minha lista de melhores já estava definida, até que WHEN EVIL LURKS (Cuando Acecha la Maldad), uma machadada cabulosa vinda da Argentina, pega todo mundo de surpresa.
WHEN EVIL LURKS (QUANDO O MAL ESPREITA em tradução livre) é escrito e dirigido por Demián Rugna (ATERRADOS, 2017), que nos apresenta um cenário sinistro no qual possessões demoníacas não apenas são realidade factual, mas são parte da rotina daquela sociedade. Acompanhamos os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jimi (Demián Salomón) que cuidam de uma fazenda. Certo dia, os fazendeiros têm sua paz abalada quando descobrem que o filho da vizinha está possuído e apodrecendo enquanto vivo. Daí pra frente é só desgraça.
Rugna entrega praticamente um road-movie desgracento em que nossos heróis cometem um erro atrás do outro, tipo uma versão maligna de FARGO, a comédia de erros dos irmãos Coen, só que sem a comédia. Com uma direção certeira e extremamente sádica, o cineasta argentino mantém o clima de tensão constante com picos pontuais que, por mais que ele trabalhe muito bem a antecipação de certas situações, consegue pegar a audiência desprevenida. Até quando a pessoa se achar esperta, na verdade está sendo manipulada para pensar assim.
O roteiro de Damián é enxuto e bem amarrado, contando com poucos diálogos expositivos, deixando muito pra imaginação do espectador a respeito do universo apresentado. Não tem textinho nem clip inicial contextualizando. Aqui, o espectador pega o bonde andando e segue recebendo migalhas de informações ao longo de toda jornada maldita. Para tudo isso funcionar, é preciso que as personagens sejam críveis e o elenco se empenhe para isso. Todos do núcleo principal estão muito bem, mas é Ezequiel Rodríguez que pega na mão do público, arrastando todos para a gradual desgraça de Pedro. Aliás, suas ações, aliadas a pitadas de informações, traz julgamentos e dúvidas sobre o caráter do protagonista que enriquece a experiência.
Tecnicamente eficaz, WHEN EVIL LURKS não tem maneirismos e tudo é mostrado de forma crua e franca. Os efeitos práticos são de uma beleza horrenda. Se brincar, dá pra sentir o fedor de um certo possuído em específico. Apesar de muito ser filmado em planos fechados nas personagens, a sensação de que aquela sociedade já vive um inferno na Terra é aos poucos muito bem construída. A fotografia também é sádica até em certos desfoques. A banda sonora, trilha e efeitos, é discreta mas cumpre bem o papel de dar o tom sem serem apelativos. Ou seja, aqui, tudo é arquitetado para causar mal estar.
Há algumas coisas que incomodam durante o longa – nada que estrague a experiência – como as fracas performances do elenco mirim num momento de grande importância, e algumas decisões tomadas por alguns personagens que soam forçadas, principalmente do nosso protagonista, por exemplo. Falando nisso, no meu caso, foi curioso que acompanhar a trágica empreitada de Pedro, me trazia à mente o refrão da música “Meu amigo Pedro” de Raul Seixas me fazendo falar para a tela: Não, Pedro! Eu não quero ir aonde você for.
Demián Rugna é um nome que merece ficar no radar da galera, pois WHEN EVIL LURKS é um filme maligno que fica na cabeça, como se fosse um trauma, e que provavelmente vai se destacar no topo das listas de melhores do ano de muitos fãs de terror, como é o caso deste que vos escreve.

Título original: CUANDO ACEHA LA MALDAD
Direção: Demián Rugna
Roteiro: Demián Rugna
Elenco: Ezequiel Rodríguez, Demián Salomón, Silvina Sabater e outros
Origem: Argentina
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CRÍTICA: Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim (2023)
Houve um ligeiro ceticismo com a notícia de que a franquia de games “Five Nights at Freddy’s” ganharia uma adaptação para os cinemas. Atualmente, como se sabe, a tendência é tirar leite de pedra de qualquer produto da cultura pop que alcance um grande sucesso, além de fazer com que ele seja ainda mais conhecido para um público maior. A franquia criada por Scott Cawthon, também co-roteirista e produtor do longa, no momento tem um total de 11 jogos.
“Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” é mais uma aposta da Blumhouse (responsável pela trilogia mais recente de “Halloween“, por exemplo) em uma franquia de fama e bem estabelecida. Tudo indica o projeto deve fazer um bom número nas bilheterias mundiais, obviamente mais por conta da popularidade dos jogos. O porém é que o projeto não deve ser capaz de empolgar ninguém que não seja fã ou não conheça o video game que o inspirou.
O protagonista é um rapaz azarado chamado Mike Schmidt (Josh Hutcherson), que tem uma irmã pequena para criar, mas não consegue parar em nenhum emprego. Ele aceita uma proposta de trabalhar por cinco noites na Pizzaria Freddy Fazbear, fechada ainda nos anos 80 por conta de histórias envolvendo o misterioso desaparecimento de crianças. Mike passa a entender que há algo de mais estranho acontecendo e que, inclusive, os quatro bonecos robóticos que eram usados para animar o público da pizzaria começam a funcionar sozinhos e não aparentam ser nada amigáveis.
Ok que o “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” é produzido de olho em um público juvenil, então a censura vai ser mais baixa e a violência muito branda. Só que também não dá para perdoar tanto uma direção que sempre busca fazer o que é seguro, sem ousar em nenhum momento, apelando sempre para os sustos fáceis. Apesar dos ótimos efeitos, os robôs animados que “tocam o terror” (opa) na produção também não conseguem convencer nas cenas de ameaça e a tensão que o filme precisaria ter.
Em termos de roteiro, o buraco é ainda mais embaixo. Os personagens humanos são todos desinteressantes, o que dificulta o envolvimento do espectador. O desenrolar da narrativa é enfadonho e previsível, tanto que é possível identificar o maior vilão do filme com léguas de distância da conclusão. A maneira como o longa explora o trauma do protagonista (é, de novo) chega a ser preguiçosa, servindo apenas para ‘encher uma linguiça’ e inchar a duração. Ficou muito ruim.
Talvez se “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” tivesse menos personagens envolvidos, não precisasse de uma personagem infantil, e fosse mais claustrofóbico e focado em ser um terror de sobrevivência, o filme funcionasse mesmo com a violência mais leve para o público adolescente. Como está, não passa de nada além de ser algo assistível para quem tiver curiosidade, um filme que apenas existe e é isso.

P.S.: “Willy’s Wonderland – Parque Maldito” guarda muitas semelhanças com “Five Nights at Freddy” e fica impossível de não se lembrar deste filme se você não o assistiu antes. Na dúvida entre os dois, fique com Nicolas Cage vs. os robôs.
P.S.2: Filme visto em Cabine de Imprensa promovido pela Espaço Z no Cinemark Rio Mar Recife.
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