Críticas
VERSÕES: The Body Snatchers
Por Geraldo de Fraga
Quando Jack Finney publicou a história “The Body Snatchers”, na revista Colliers, em 1955, não deveria ter imaginado que sua obra renderia tantas adaptações ao cinema. Foram quatro no total. Curiosamente, cada uma se passando na época em que foi filmada com média de 15 anos de diferença entre si. Prova de que “Os Invasores de Corpos”, como o livro foi chamado no Brasil, é uma história atemporal. O blog Toca o Terror apresenta um resumo dos quatro filmes. Ou quase.
1 – Invasion of the Body Snatchers
Dir: Don Siegel – 1956 (br.: Vampiros de Almas)
A primeira adaptação aconteceu no ano seguinte à publicação do conto. Invasion of the Body Snatchers (Vampiros de Almas), de 1956, foi dirigido por Don Siegel e trás Kevin McCarthy no papel do médico Miles Bennel. O filme se passa na cidade fictícia de Mira, na Califórnia. Dr. Bennel retorna de uma viagem e descobre que algumas pessoas estão desconfiadas sobre seus parentes serem ou não quem dizem ser
Com a ajuda de sua namorada de infância, ele descobre que alienígenas estão “roubando” a personalidade das pessoas e as transferindo para corpos idênticos ao dos mesmos. Assim como várias ficções científicas dos anos 50, Vampiros de Almas conta com uma série de diálogos inverossímeis e atuações caricatas, mas isso era uma marca da época.
Esse filme, até hoje, levanta suspeitas sobre possíveis metáforas contra e favor do comunismo. Apesar do diretor negar veementemente, os críticos de época debateram sobre o assunto, já que o roteirista Daniel Mainwaring foi perseguido durante o macartismo. Nada de se espantar, já que a principal função da ficção científica, além de entreter, é informar de uma forma inteligente.
Status: Merece ser visto
2 – Invasion of the Body Snatchers
Dir: Philip Kaufman – 1978 (br.: Invasores de Corpos)
Essa versão traz muito do primeiro filme, mas ao invés de uma pequena cidade, a invasão alienígena toma proporções gigantescas e começa por San Francisco. Aqui o diretor Philip Kaufman abandona qualquer metáfora política e se concentra em uma história de ação com um enredo bem pessimista. Nada mais pode ser dito para não estragar o final. Vale destacar o elenco estrelado com Donald Sutherland, Brooke Adams, Jeff Goldblum, Veronica Cartwright e Leonard Nimoy.
Status: Essencial
3 – Body Snatchers
Dir: Abel Ferrara – 1993 – (br: Os Invasores de corpos – A Invasão Continua)
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=okW2UfLNaJc?feature=player_detailpage&w=640&h=360]
Dessa vez, a história se passa em uma base militar. Eu poderia mentir, mas não vou. Não assisti essa versão, pois absolutamente todas as críticas sobre o filme são negativas. Ninguém gostou dessa adaptação dirigida por Abel Ferrara. Então, quem tiver coragem que se habilite. Eu abri mão.
Status: Não faço a menor idéia
4 – The Invasion
Dir: Oliver Hirschbiegel – 2007 (br: Invasores)
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=4g17NzKK-pY?feature=player_detailpage&w=640&h=360]
Chegamos à versão estrelada por Nicole Kidman e Daniel Craig e dirigida por Oliver Hirschbiegel. Nessa adaptação, o diretor eliminou os “corpos” para os quais os alienígenas transferem as consciências roubadas das pessoas. A mudança deve ter sido pensada para dar mais agilidade e a história agora mostra os invasores se apossando dos terráqueos através de um líquido lançado pela boca dos mesmos para a boca da vítima. Líquido esse que também é colocado em uma vacina, sob o falso argumento de que a cidade passa por uma epidemia de gripe.
Outra coisa é que, dessa vez, a chegada dos invasores é descoberta pelo governo logo no início e descarta a invasão silenciosa dos outros filmes. Uma forma de entregar tudo mastigado aos expectadores de multiplexes.
O filme ainda faz algumas referência às duas primeiras obras, mas, como era de esperar na Hollywood de hoje, a adaptação é insosa. Fizeram um filme de ação mais do mesmo. Parece até que o nome no conto de Jack Finney está ali, apenas como a marca de uma grife famosa em uma roupa vagabunda. Além de tudo, um final patético.
Status: Dispensável
Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!
Críticas
CRÍTICA: When Evil Lurks (2023)
O ano de 2023 está sendo cabuloso de bom para os fãs de terror. Faltando apenas 2 meses pra acabar o ano, eu achava que minha lista de melhores já estava definida, até que WHEN EVIL LURKS (Cuando Acecha la Maldad), uma machadada cabulosa vinda da Argentina, pega todo mundo de surpresa.
WHEN EVIL LURKS (QUANDO O MAL ESPREITA em tradução livre) é escrito e dirigido por Demián Rugna (ATERRADOS, 2017), que nos apresenta um cenário sinistro no qual possessões demoníacas não apenas são realidade factual, mas são parte da rotina daquela sociedade. Acompanhamos os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jimi (Demián Salomón) que cuidam de uma fazenda. Certo dia, os fazendeiros têm sua paz abalada quando descobrem que o filho da vizinha está possuído e apodrecendo enquanto vivo. Daí pra frente é só desgraça.
Rugna entrega praticamente um road-movie desgracento em que nossos heróis cometem um erro atrás do outro, tipo uma versão maligna de FARGO, a comédia de erros dos irmãos Coen, só que sem a comédia. Com uma direção certeira e extremamente sádica, o cineasta argentino mantém o clima de tensão constante com picos pontuais que, por mais que ele trabalhe muito bem a antecipação de certas situações, consegue pegar a audiência desprevenida. Até quando a pessoa se achar esperta, na verdade está sendo manipulada para pensar assim.
O roteiro de Damián é enxuto e bem amarrado, contando com poucos diálogos expositivos, deixando muito pra imaginação do espectador a respeito do universo apresentado. Não tem textinho nem clip inicial contextualizando. Aqui, o espectador pega o bonde andando e segue recebendo migalhas de informações ao longo de toda jornada maldita. Para tudo isso funcionar, é preciso que as personagens sejam críveis e o elenco se empenhe para isso. Todos do núcleo principal estão muito bem, mas é Ezequiel Rodríguez que pega na mão do público, arrastando todos para a gradual desgraça de Pedro. Aliás, suas ações, aliadas a pitadas de informações, traz julgamentos e dúvidas sobre o caráter do protagonista que enriquece a experiência.
Tecnicamente eficaz, WHEN EVIL LURKS não tem maneirismos e tudo é mostrado de forma crua e franca. Os efeitos práticos são de uma beleza horrenda. Se brincar, dá pra sentir o fedor de um certo possuído em específico. Apesar de muito ser filmado em planos fechados nas personagens, a sensação de que aquela sociedade já vive um inferno na Terra é aos poucos muito bem construída. A fotografia também é sádica até em certos desfoques. A banda sonora, trilha e efeitos, é discreta mas cumpre bem o papel de dar o tom sem serem apelativos. Ou seja, aqui, tudo é arquitetado para causar mal estar.
Há algumas coisas que incomodam durante o longa – nada que estrague a experiência – como as fracas performances do elenco mirim num momento de grande importância, e algumas decisões tomadas por alguns personagens que soam forçadas, principalmente do nosso protagonista, por exemplo. Falando nisso, no meu caso, foi curioso que acompanhar a trágica empreitada de Pedro, me trazia à mente o refrão da música “Meu amigo Pedro” de Raul Seixas me fazendo falar para a tela: Não, Pedro! Eu não quero ir aonde você for.
Demián Rugna é um nome que merece ficar no radar da galera, pois WHEN EVIL LURKS é um filme maligno que fica na cabeça, como se fosse um trauma, e que provavelmente vai se destacar no topo das listas de melhores do ano de muitos fãs de terror, como é o caso deste que vos escreve.

Título original: CUANDO ACEHA LA MALDAD
Direção: Demián Rugna
Roteiro: Demián Rugna
Elenco: Ezequiel Rodríguez, Demián Salomón, Silvina Sabater e outros
Origem: Argentina
Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!
Críticas
CRÍTICA: Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim (2023)
Houve um ligeiro ceticismo com a notícia de que a franquia de games “Five Nights at Freddy’s” ganharia uma adaptação para os cinemas. Atualmente, como se sabe, a tendência é tirar leite de pedra de qualquer produto da cultura pop que alcance um grande sucesso, além de fazer com que ele seja ainda mais conhecido para um público maior. A franquia criada por Scott Cawthon, também co-roteirista e produtor do longa, no momento tem um total de 11 jogos.
“Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” é mais uma aposta da Blumhouse (responsável pela trilogia mais recente de “Halloween“, por exemplo) em uma franquia de fama e bem estabelecida. Tudo indica o projeto deve fazer um bom número nas bilheterias mundiais, obviamente mais por conta da popularidade dos jogos. O porém é que o projeto não deve ser capaz de empolgar ninguém que não seja fã ou não conheça o video game que o inspirou.
O protagonista é um rapaz azarado chamado Mike Schmidt (Josh Hutcherson), que tem uma irmã pequena para criar, mas não consegue parar em nenhum emprego. Ele aceita uma proposta de trabalhar por cinco noites na Pizzaria Freddy Fazbear, fechada ainda nos anos 80 por conta de histórias envolvendo o misterioso desaparecimento de crianças. Mike passa a entender que há algo de mais estranho acontecendo e que, inclusive, os quatro bonecos robóticos que eram usados para animar o público da pizzaria começam a funcionar sozinhos e não aparentam ser nada amigáveis.
Ok que o “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” é produzido de olho em um público juvenil, então a censura vai ser mais baixa e a violência muito branda. Só que também não dá para perdoar tanto uma direção que sempre busca fazer o que é seguro, sem ousar em nenhum momento, apelando sempre para os sustos fáceis. Apesar dos ótimos efeitos, os robôs animados que “tocam o terror” (opa) na produção também não conseguem convencer nas cenas de ameaça e a tensão que o filme precisaria ter.
Em termos de roteiro, o buraco é ainda mais embaixo. Os personagens humanos são todos desinteressantes, o que dificulta o envolvimento do espectador. O desenrolar da narrativa é enfadonho e previsível, tanto que é possível identificar o maior vilão do filme com léguas de distância da conclusão. A maneira como o longa explora o trauma do protagonista (é, de novo) chega a ser preguiçosa, servindo apenas para ‘encher uma linguiça’ e inchar a duração. Ficou muito ruim.
Talvez se “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” tivesse menos personagens envolvidos, não precisasse de uma personagem infantil, e fosse mais claustrofóbico e focado em ser um terror de sobrevivência, o filme funcionasse mesmo com a violência mais leve para o público adolescente. Como está, não passa de nada além de ser algo assistível para quem tiver curiosidade, um filme que apenas existe e é isso.

P.S.: “Willy’s Wonderland – Parque Maldito” guarda muitas semelhanças com “Five Nights at Freddy” e fica impossível de não se lembrar deste filme se você não o assistiu antes. Na dúvida entre os dois, fique com Nicolas Cage vs. os robôs.
P.S.2: Filme visto em Cabine de Imprensa promovido pela Espaço Z no Cinemark Rio Mar Recife.
Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!
Críticas
CRÍTICA: O Exorcista – O Devoto (2023)
Prezades leitores do Toca o Terror,
ao longo deste 10 anos de site e convivência mais direta com o universo do cinema de horror, confesso que nunca antes presenciei algo tão deplorável quando “O Exorcista – O Devoto“. Vejam só… nesta última década tivemos uma série de filmes que tentaram emular a alma do filme original de William Friedkin, mas que obviamente falharam em gênero, número e grau. Tivemos exorcismo baseado em fatos reais, tivemos exorcismo em estilo found-footage e tivemos até um exorcista a mando do Papa.
Mas eis que 50 anos depois do lançamento daquele clássico, a Blumhouse resolveu investir mais uma vez no tema e resgatar a franquia com uma espécie de continuação/remake/reboot/revival da história. Então tendo isto em mente, preparem-se. “O Exorcista – O Devoto” é uma tragédia. Em vários sentidos. Permitam-me aqui dar alguns spoilers, porque afinal de contas é merecido.
Tenha em conta que este novo filme quer se inserir no cânone original da produção que o finado Friedkin nos deixou como legado trazendo algo daquela atmosfera pros dias atuais. Sendo que tudo é tão superficial que se não fosse o título, mal saberíamos a relação deste longa com os anteriores.
Para não dizer que “O Exorcista – O Devoto” não tem ligação com a obra original, ele resgata no meio do roteiro a personagem de Ellen Burstyn como a mãe da possuída Reagan e tenta pincelar algo a respeito de como ela viveu nos anos posteriores ao exorcismo. Ainda assim, não se deixe enganar. É um fan-service que não se sustenta diante da coleção de absurdos que é o que se chama de roteiro.
E aí diante das inevitáveis comparações com a obra de 1973, o que mais poderiam inventar? Pois creiam… ao invés de uma criança possuída, “O Exorcista – O Devoto” agora tem duas crianças que encarnam demônios! E nenhum dos dois seres malignos é Pazuzu. Aliás, eles nem tem nome nem origem, já que a possessão é realizada numa muito mal contada tentativa de comunicação com espíritos no meio da floresta(!). Algo tipo “Evil Dead” com “Fale Comigo” mas executado da pior forma possível, uma vez que não fica convicente nem pros personagens nem pra ninguém que esteja ali assistindo.
Por sinal, é difícil ter algo convincente ali. Nem o padre se salva. Escolheram um ator que sequer tem jeito ou a impostação necessária para fazer os ritos de exorcismo. Aqui abro parênteses para falar que os diretores de elenco estão vacilando bem na escolha de sacerdotes na ficção, optando por caras jovens, mas que não demonstam um pingo de sofrimento ou resignação necessárias a um papel desta magnitude. E pela cara do sujeito, a gente já imagina que ele não vai dar conta da missão.
Diante da amarelada do padre por conta das burocracias impostas pela diocese, o filme inaugura uma nova modalidade: o Exorcismo Comunitário. Sim, uma espécie de intervenção ecumênica onde estão juntos os pais das crianças, um pastor, uma ex-noviça e uma mulher de religião mística afroamericana. Se em outros filmes similares vemos o ritual como um ponto alto da trama, aqui a tentativa de tirar o demônio do couro das crianças acaba virando uma longa sequência que me provocou sentimentos conflitantes de incredulidade e riso. Rola até uma “briga” entre a fumaça exalada pelos demônios e pelo fogo beatificado.
Não bastasse a precariedade das cenas, o texto tem uma leve inclinação pra doutrinação cristã, onde do nada, uma personagem constata que deveria ter batizado logo sua filha para evitar o mal. Fãs de “Som da Liberdade” e do infame “Nefarious” certamente vão curtir o recado.
Ah, mas assusta? Rola um ou outro jumpscare para dizer que é da estética de horror desta geração, mas nada que lhe tire o sono. É tudo tão desastroso que até os momentos que deveriam ser tensos, ficam naquele lugar-comum de nada-acontece-feijoada. E assim mais uma franquia vai pro ralo por gente que aparentemente odeia filmes do gênero e acha que basta seguir uma fórmula com personagens já conhecidos para garantir uma grande bilheteria. Ou não.

Título original: The Exorcist – Believer
Diretor: David Gordon Green
Elenco: Ellen Burstyn, Olivia O’Neill, Leslie Odom Jr, Ann Dowd e outros
Ano de lançamento: 2023
P.S.: Só para lhe dar um alento e não perder a fé, indico fortemente “O Exorcista III“, dirigido pelo próprio autor do livro original, William Peter Blatty, que tem uma das maiores cenas de terror da história do cinema.
* Filme visto na Cabine de Imprensa promovida pela Espaço Z no UCI Recife.
Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!
-
Críticas3 anos atrás
CRÍTICA: Tumba Aberta (2013)
-
Críticas4 anos atrás
CRÍTICA: February (2015)
-
Críticas4 anos atrás
CRÍTICA: Banana Splits – O Filme (2019)
-
Críticas2 anos atrás
CRÍTICA: O Homem nas Trevas (2016)
-
Críticas10 anos atrás
CRÍTICA: Begotten (1991)
-
Críticas8 anos atrás
CRÍTICA: A Bruxa (2016)
-
Dicas4 anos atrás
DICA DA SEMANA: Flu (2013)
-
Críticas4 anos atrás
CRÍTICA: A Visita (2015)
2 Comments