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CRÍTICA: Lobisomem (2025)

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Lobisomem

Não sei se vocês lembram, mas rolou uma tentativa fracassada de criar um Dark Universe, projeto que teria os monstros clássicos da Universal revisitados em um tipo de “monstroverso”. A estreia e abandono ocorreu após o flop de “A Múmia” (2017). Após isso, a Blumhouse assumiu o desafio de reformular esses ícones do horror com uma abordagem mais intimista, focada em narrativas mais dramáticas e pessoais, como já visto em “O Homem Invisível” (2020) e agora retomada em “Lobisomem” (2025), ambos escritos e dirigidos por Leigh Whannell.

Lobisomem” começa nos apresentando o pequeno Blake (Zac Chandler), criança com características de TEA (Transtorno do Espectro Autista) que convive com a criação rígida e controladora de seu pai (interpretado por Sam Jaeger). Em uma caçada pelos bosques do Oregon, a dupla se depara com uma criatura humanóide peluda que por pouco não faz com que virem a caça. Após esse encontro, o pai de Blake, decide que vai caçar o monstro que os índigenas da região chamam de “cara de lobo“.

Lobisomem - Cena em que Blake conversa carinhosamente com sua filha Ginger

Trinta anos depois, reencontramos Blake (agora interpretado por Christopher Abbott, o Paulo Betti jovem deles), o carinhoso pai da pequena Ginger (Matilda Firth) que, assim como seu próprio pai, tenta proteger sua filha dos perigos do mundo, só que de uma forma diferente, através de diálogo e compreensão. Sua esposa Charlotte (Julia Garner) é uma jornalista que vive o dilema entre ser uma profissional de sucesso e ser uma mãe mais presente. A reinvenção do relacionamento balançado do casal surge da oportunidade de passar uns dias na antiga casa do pai de Blake, que após anos desaparecido foi oficialmente declarado morto.

No caminho para a casa, Blake joga o caminhão que dirigia para fora da estrada quando quase atropela, vejam só, uma criatura humanóide peluda que consequentemente ataca a família e fere o homem. E vocês sabem o que acontece quando uma pessoa é arranhada por uma criatura que parece um lobisomem, né?

Lobisomem - Blake está sentado no chão começando a sentir os efeitos de sua transformação. Ele está ladeado por sua filha e esposa

Vale salientar que o “lore” do lobisomem como conhecemos termina aí. Nada de transformação nas noites de lua cheia e nada de bala de prata. A licantropia no filme é tratada como um tipo de doença e não uma maldição. E é tentando fugir do lobisomem exterior que o lobisomem interior de Blake começa a surgir.

Trancados na casa, ele começa a passar por mudanças sensoriais. Seu olfato e audição aumentam, sua visão se altera e a comunicação com a família começa a ficar cada vez mais difícil, fazendo com que ele entre cada vez mais “em seu mundinho”, como reclamava seu pai. Após algumas transformações físicas que remetem mais ao “A Mosca” de Cronenberg que ao Um Lobisomem Americano em Londres o agora papai-lobo vai entrar em um embate com a criatura que espreita lá fora. Só resta saber se isso é para proteger sua família ou se é porque ele vê a família como comida…

Lobisomem - Charlote tenta conversar com Blake (que já não consegue mais distinguir suas palavras)

Dramas familiares envolvendo licantropia não são bem uma novidade. O filme em alguns momentos inclusive me lembrou A Maldição da Lua Cheia, de 1973, com um final choroso tipo “O Campeão” (1979) só que com pelos. Seria o nome da filha do protagonista uma singela homenagem ao canadense “Ginger Snaps” (2000)? Outro filme que também conta com o dilema do homem-lobo tentando proteger sua família é “Lua Negra” (1996) entre muitos outros (Paul Naschy que o diga…).

Um dos maiores trunfos de “Lobisomem” está na fotografia sombria e atmosférica de Stefan Duscio, colaborador frequente de Whannell. O bom design de som intensifica cada momento da transformação de Blake reforçando o horror físico e psicológico do processo mostrado através de uma boa combinação entre efeitos práticos (Uhulll!!!) e CGI.

Lobisomem - Ginger está na estufa sem perceber que está sendo observada pelo lobisomem

“Lobisomem” não apenas revive o legado dos monstros da Universal, mas também redefine como esses personagens podem ser explorados no cinema moderno. Whannell entrega uma obra que é tanto um thriller quanto um drama emocional, talvez um pouco menos que “O Homem Invisível”, mas com potencial para que outras criaturas, como Frankenstein ou o Monstro da Lagoa Negra, sejam trazidas de volta às telas.

Escala de tocância de terror:

Título original: Wolf Man
Direção: Leigh Whannell
Roteiro: Leigh Whannell e Corbett Tuck
Elenco: Christopher Abbott, Julia Garner, Matilda Firth
País de origem: EUA

BASTIDORES

TRAILER

* Filme visto em Cabine de Imprensa promovida pela Espaço Z no Cinemark RioMar

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Simpático de corpo™ Vimeo: https://vimeo.com/jotabosco/ Youtube: https://www.youtube.com/user/sonicbosco/videos

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CRÍTICA: Presença (2025)

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Presença

No fim de 2024, o anúncio do novo filme de Steven Soderbergh surge dando o que falar. Primeiro por se tratar de um filme de gênero do diretor e, segundo, por prometer nos colocar literalmente no ponto de vista do malassombro.

Em PRESENÇA (Presence), acompanhamos a rotina de uma família que acaba de chegar de mudança, porém nunca saímos da casa, pois, como dito, vemos tudo pelo olhar da presença sobrenatural que ali habita. Nesta dinâmica, vagamos com o fantasma por todos os cômodos, sempre procurando ficar perto dos personagens, ora evitando ser notado, ora interagindo com o ambiente.

É interessante que de início temos uma estranheza por estarmos no ponto de vista da tal presença, mas não demora pra nos acostumarmos ao ponto de chegarmos a ser o malassombro em si. É legal que suas – ou seriam nossas? – Interações físicas com as personagens e ambiente são simples, eficazes e críveis. Detalhe que a câmera não flutua, mas anda com movimentos humanos reforçando sempre que este personagem existe em cena.

Seteven Soderbergh é um cineasta com uma longa trajetória no audiovisual. Desde a década de 80 vem realizando vídeos clipes, curtas, séries, filmes etc, somando mais de 40 anos de carreira com produções undergrounds e mainstreams, sempre buscando experimentar formatos com muito apuro estético. Como o parâmetro geral é o Oscar, ele já teve 3 indicações, vencendo em 2001 pela direção de TRAFFIC. Para além, ele tem muitos filmes conhecidos como ONZE HOMENS E UM SEGREDO, 2 longas sobre Che Guevara (um deles com Rodrigo Santoro no elenco), CONTÁGIO, que foi amplamente revisitado durante a pandemia da COVID-19, um remake de SOLARIS e muitos outros.

Aqui em PRESENÇA, o cineasta também busca experimentar. Agora com uma câmera de mão e uma lente 14mm que funciona como o olhar do espírito – e nosso! – que passeia pelos cômodos da casa. O uso de mínimo de equipamentos não é uma novidade na filmografia de Soderbergh. Vide o seu interessante DISTÚRBIO (Unsane, 2017), também de terror, que foi filmado só com um iPhone 7.

Estamos diante de um caso raro em que a busca pelo realismo funciona sem perder a magia. Soderbergh trabalha o drama familiar de uma forma tão palpável que beira a realidade. Os diálogos soam naturais e precisos, rendendo momentos legitimamente ternos e tensos. Apesar de termos a veterana Lucy Liu, que vive a mãe, no elenco, é focada na sua filha Cloe, vivida por Callina Liang, na qual todas as motivações pairam. Os outros arcos das demais personagens são muito bem trabalhados também.

Apesar das qualidades, nem tudo é legal aqui. Por exemplo, o excesso de cortes secos com longas pausas em tela preta que sinalizam saltos temporais. Isso não seria um problema se não fosse pela quantidade e em curtos espaços de tempo. Essas interrupções constantes podem incomodar e até tirar da imersão pretendida que vinha sendo bem construída. Algo que também pode desagradar, é a simplicidade de toda situação. Pra quem espera sequências mais elaboradas, tão comuns e esperadas em filmes da mesma temática, a falta de muita “pirotecnia” pode soar frustrante.

Simples, direto e eficaz, PRESENÇA acerta o tom dentro do formato proposto, entregando exatamente o que promete sendo um ótimo começo de ano para o terror. Sem contar que é sempre bom ver cineastas de longa data se aventurando em filmes “menores” e de gênero.

Escala de tocância de terror:

Título original: Presence
Diretor: Steven Soderbergh
Roteiro: David Koepp
Elenco: Lucy Liu, Chris Sullivan, Callina Liang
Origem: EUA
Ano de produção: 2024

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CRÍTICA: Desconhecidos (2025)

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Desconhecidos

A graça de ver filmes em uma narrativa não-linear é que a todo instante nossa atenção está em jogo para ligar os pontos e entender melhor a história como um todo. É com base neste recurso de edição que “Desconhecidos” (Strange Darling) de JT Mollner se dá bem.

É explicado desde o início que esta é uma história em seis capítulos. Sendo que o filme já começa no Capítulo 3! E esta é justamente uma das sequências mais instigantes do longa para prender a atenção do espectador desde o começo.

O lance, é que nesta aparente perseguição entre homem e mulher em alta velocidade, sabemos muito pouco sobre cada um deles. A introdução de quem é quem e suas motivações só aparece na parte 5 de “Desconhecidos“, que equivale ao “Capítulo 2”.

Pode parecer confuso, mas funciona como um slasher também. Ainda assim, a Miramax que lançou o filme não estava botando fé e tentou na pós-produção organizar o filme em um formato convencional na ordem em que as cenas ocorrem sem consentimento do diretor.

Diante dessa briga, JT Mollner retomou as rédeas da obra se apegando a cláusulas contratuais. E foi possivelmente por conta desse impasse que estamos vendo este filme sendo lançado tão tardiamente.

Mesmo passando metade de “Desconhecidos” sem termos certeza de quem está com razão ou quem é a real vítima, a atuação de Willa Fitzgerald é a que engrandece um filme com um roteiro aparentemente tão simples, mas cheio de reviravoltas. Mas se o título nacional se refere de forma vaga aos principais personagens, isso também se deve porque eles não tem nome na trama. Foi até uma boa sacada.

Veja sem ficar com pé atrás e curta a diversão regada a sangue e muitos tiros.

Escala de tocância de terror:

Título original: Strange Darling
Diretor: JT Mollner
Roteiro: JT Mollner
Elenco: Willa Fitzgerald, Kyle Gallner, Madisen Beaty, Barbara Hershey e outros
Ano de lançamento: 2025

* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z e Paris Filmes

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CRÍTICA: Entre Montanhas (2025)

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Entre Montanhas

Diretor de O Exorcismo de Emily Rose, Livrai-nos do Mal e O Telefone Preto, é inegável que Scott Derrickson transformou seu nome numa pequena grife. Com um currículo recheado de filmes medianos, mas lucrativos, foi nele que a Apple TV apostou para comandar Entre Montanhas (The Gorge, 2025), escrito por Zach Dean, autor de A Guerra do Amanhã e Velozes & Furiosos 10.

Na trama, acompanhamos dois snipers excepcionais que são recrutados para passarem um ano vigiando um desfiladeiro num lugar remoto, cuja localização é desconhecida de ambos. Levi (Miles Teller) é um ex-fuzileiro americano, deprimido e sem amigos. Drasa (Anya Taylor-Joy) é uma mercenária bielorrussa em luto pela morte do pai.

Descobrimos então que o tal precipício é o lar de criaturas maléficas e que a missão deles é impedir que as coisas saiam do buraco. Eles, porém, não estão juntos, cada um fica de um lado do abismo, isolado em sua própria torre, armados até os dentes, mas impedidos de se comunicarem.

Essa regra, claro, é quebrada. Aí rola uma química, uma paquera, o casal se apaixona e resolve se encontrar. Quando os monstros promovem um ataque pesado e eles precisam agir juntos, Entre Montanhas vira uma mistura de Sr. & Sra. Smith com Resident Evil, que passeia por vários gêneros: terror, ficção científica, ação e comédia romântica.

O problema é que, em nenhum deles, o filme empolga. E olhe que são quase duas horas e um roteiro que entope o longa com várias revelações. Scott Derrickson até nos brinda com uma cena boa, aqui e ali, e a dupla de protagonistas se esforça para nos dar um casal com um mínimo de química.

Só que a história de Zach Dean funcionaria melhor como um videogame, onde a jogabilidade preencheria o espaço da ação. Apenas assisti-la é totalmente desinteressante. A sub-trama sobre quem comanda a vigilância do desfiladeiro ainda deixa a participação de Sigourney Weaver subaproveitada.

Entre Montanhas começa com uma premissa interessante, um bom background dos personagens, mas quando o bicho pega é uma repetição de tudo que a gente já viu. Isso nem seria ruim, se fosse uma repetição de tudo que a gente já viu e gostou. Com ação genérica e soluções fáceis, é só tédio mesmo.

Escala de tocância de terror:

Título original: The Gorge
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Zach Dean
Elenco: Anya Taylor-Joy, Miles Teller e Sigourney Weaver
Origem: EUA e Inglaterra

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