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LIVRO: Pesadelos Infaustos

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Nevoeiros povoam as utopias e cotidianos das infaustas criaturas dos mundos desde as remotas eras. O que de profano, ultrarromântico, caótico e celestial ecoa nas narrativas dos andarilhos dos mundos? Há espaço para a contraditória natureza angélica e demoníaca do ser? Tudo isso é o que “Pesadelos Infaustos“, livro de Breno Torres, se propõe a mostrar. A obra que está à venda pela Editora Arwen é a estreia do autor no gênero horror literário.

Com 280 páginas e acabamento em brochura, “Pesadelos Infaustos” possui dez contos. “Cada conto tem como protagonista uma criatura sobrenatural famosa do mundo da Fantasia e do Terror. Há um conto sobre Demônios, outro sobre Bruxas, outro sobre Lobisomens, Musas, Vampiros, Anjos, Elfos, Fadas e Sereias”, explica Breno. Leia aqui com exclusividade o trecho do conto que abre o livro, “O Canto do Querubim”.

O CANTO DO QUERUBIM
“and I’m going straight to hell…
and I’ve got a lot of friends there…!”
GANG BANG, Madonna

Não havia nada de extraordinário naquela madrugada que previsse o fato conseguintemente contado. Não haveria um porquê de haver; ora, torna-se ordinário o horrendo que o cotidiano passa a ser. Era, como muitas, uma noite clara, tão clara que os automóveis naquela rua do subúrbio do Rio reluziam em suas superfícies polidas. Clara, de um céu límpido, onde nenhuma nuvem impedia o alcance fulgurante da gigantesca lua cheia, que se esparramava no guaxe azul-marinho pontilhado de gotas de prata celeste.

A noite orgulhosamente se impunha com suas joias favoritas; era verão. Estava calor. E a mais impressionante construção na dita rua do subúrbio seria a mais retumbantemente silenciosa – como deveria ser – se, ao se aproximar, um transeunte qualquer não se surpreendesse com a força dos passos que reverberavam, aparentemente apressados, dentro dela.

Do fundo da belíssima igreja de São Sebastião, a escuridão só hesitava, assustada, nas pequenas áreas que, por conta dos singelos vitrais ao longo das paredes, esticavam-se fechos de luz da lua pelo piso branco. O resto era negro. O ar não fazia reluzir a poeira no alcance dos raios lunares; eram indefiníveis os contornos barrocos das paredes, com suas camadas quebradiças de restauração descuidada há pouco financiada; o teto e seu grande afresco dourado e violentamente cristão parecia amaldiçoado pela camada quase brumosa de escuridão, que defronte às imagens santas serpenteava; e qualquer ser que andasse por aquele corredor central entre as duas principais fileiras de bancos largos, arrastando seus pés pelo breu e rumando qualquer que fosse a direção, estaria destinado a um encontro violento com o silêncio e quietude ensurdecedores entre os passos, cuidadosos ou não.

Exceto o causador de nosso barulho. Ele, obviamente, conhecia cada centímetro e milímetro daquele âmbito: de frente a ele, no altar, em suas aclamadas e transcendentais missas, aprendera desde o primeiro dia dos passados trinta anos, que ali dedicaria toda sua vida à missão de evangelizar cada pequeno coração que lhe atravessasse o caminho. Seria capaz de apontar cada pequena rachadura das paredes laterais; saberia dizer quais lajotas fariam sons mais ocos quando pisoteadas; quais longos bancos de madeira ainda precisavam ser envernizados, quais os significados das
simples cenas católicas desenhadas nos vitrais apáticos, quando foi pela primeira vez que observou o nariz torto e mal desenhado do Jesus representado no afresco lá no alto e quem fora, demônio!, o pequeno moleque que fizera aqueles riscos de tinta no início do caminho que se estendia pelo corredor principal, o qual ele, agora, afobadamente atravessava. Não apenas era um profundo conhecedor de seus textos de estudo bíblico e de sua Bíblia, como também do lugar ao qual tanto se dedicara por toda sua vida a salvar seus fiéis dos males. E que, conscientemente, agora, também utilizava para seus desprezíveis atos pecaminosos.

(…)

Título: Pesadelos Infaustos
Autor: Breno Torres
Gênero: Ficção / Terror
Ano: 2017
Páginas: 280
À venda em www.arwenbooks.com.br/pesadelos-infaustos

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DICA DA SEMANA: Aterrorizante (2016)

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Até que enfim, trago um slasher para a dica da semana. Ultimamente, imagens de um palhaço sinistro tem rodado as redes sociais e despertado o interesse de quem é fã de terror. Estas cenas são do recém lançado ATERRORIZANTE 2 (Terrifier 2, 2022). Mas a dica não é deste, mas sim do seu antecessor: ATERRORIZANTE (Terrifier, 2016), longa de seis anos atrás.

Escrito e dirigido por Damien Leone, ATERRORIZANTE é um slasher brutal no qual acompanhamos um palhaço cabuloso que toca o terror numa noite de Halloween matando qualquer um que cruza seu caminho. O filme tem um roteiro que não se propõe à profundidade e é cheio de situações que forçam a barra pra trama andar, mas compensa pela boa direção.

Bem filmado e fotografado, ATERRORIZANTE tem uma violência extremamente gráfica. É daquela dói de ver! Os efeitos práticos são criativos, funcionam muito bem dentro da proposta e provavelmente vai te fazer desviar o olhar da tela em alguns momentos. A fotografia é bem estilosa e com cores vivas, trazendo um clima mais surreal pra toda trasheira apresentada.

Assim como Myers, Jason e muitos outros em suas respectivas franquias, o palhaço Art é a força que move o filme. Sem dizer nada, David Howard Thornton manda muito bem nas expressões faciais e corporais, nos conferindo um psicopata sádico, debochado e imprevisível, pois quando se acha que ele vai aloprar, ele, não só dobra a aposta, mas subverte qualquer “regra” de assassino em série do gênero que se espera.

É curioso que Art não surge neste “primeiro” filme, mas sim em um curta homônimo de 2011 e em um longa de 2013 chamado ALL HALLOW’S EVE (2013), sendo todos do mesmo diretor/roteirista.

Em suma, é um filme chocante e sem escrúpulos que é recomendável pra quem curte uma bagaceira com muito sangue. Se você é esta pessoa doente, vai fundo que este slasher vai te divertir. ATERRORIZANTE se encontra no catálogo da Amazon Prime Video.

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DICA DA SEMANA: Night Train to Terror (1985)

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Night Train to Terror

Vez por outra a gente comenta ou recomenda antologias. De antologias antigas, boa parte vem da década de 1970. Mas desta vez estou aqui para citar “Night Train to Terror“, uma obra que vem dos loucos Anos 80 com um certo grau de ousadia, gore e transgressão.

Disponível no catálogo do Mubi, “Night Train to Terror” traz simplesmente como anfitriões ninguém menos do que Deus e o Diabo jogando xadrez num vagão de trem que passeia pelo espaço rumo à destruição total. Durante a jornada, ambos se questionam sobre a natureza humana e o livre arbítrio que faz com que umas pessoas façam coisas inimagináveis. E é aí onde entram os casos que viram sequências desta antologia.

De antemão, digo que o primeiro (“The Case of Harry Billings“) é o mais problemático. Por ter sido derivado de um outro filme não concluído, as cenas foram editadas de forma a caber nessa obra de uma maneira meio apressada. É uma clássica trama de cientistas loucos onde Harry Billings vira um homem em transe que se submete às ordens de um médico que quer obter mais “pacientes” e órgãos de forma ilegal para comercializar. Ok, tem um fiapo de história, mas podia ter sido melhor.

Já no segundo segmento (“The Case of Gretta Connors“), vemos um caso de traição e vingança. O que seria uma clássica história de amor à primeira vista, logo se torna um caso de psicopatia e ambição em que a jovem Gretta Connors se torna atriz pornô ao se envolver com um empresário de meia idade. Não bastasse essa reviravolta na carreira da mulher, ela entra na mira de outro sujeito que se apaixona por ela ao ver sua performance adulta. Mas aí, os planos do marido traído serão bem mais ardilosos quando ela convida o casal para participar de um clube, que não é de swing, mas de um culto à morte. Veja só a doideira!

Por fim, “The Case of Claire Hansen” é o que aparenta ter um roteiro mais intrincado, mas que sofre um pouco por efeitos especiais que ficam no limite entre a criatividade e a precariedade. Desta vez, temos uma cirurgiã renomada que começa a ter pesadelos sobre demônios e nazistas. Em paralelo, seu marido que é um escritor ganhador do Prêmio Nobel, começa a divulgar um novo livro com temática bastante polêmica para pessoas religiosas. Em meio a alucinações, acontecimentos estranhos e mortes esquisitas que os protagonistas testemunham, existe ainda um misterioso homem que se revela ser um servo de Satã operando maldades há séculos.

E entre uma história e outra, Deus e o Diabo voltam à cena para comentar o ocorrido e questionar o destino da humanidade enquanto em outro vagão uma turma bota pra quebrar com sexo, drogas e rock’n’roll. Gratuito? Exagerado? Violento? Claro, mas “Night Train to Terror” é meio que uma síntese dos Anos 80.

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DICA DA SEMANA: Saint Maud (2019)

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Eu me perguntei um dia desses: o que foi que aconteceu para a gente nunca ter falado de Saint Maud aqui no Toca o Terror? Provavelmente o motivo foi a bagunça que é para filmes mais alternativos serem lançados oficialmente no Brasil. Falamos em algum programa na rádio, mas texto não rolou. Bom, esse erro será corrigido hoje, graças à sua, à minha, à nossa Dica da Semana.

Em uma cidade litorânea do norte da Inglaterra, a enfermeira Maud (Morfydd Clark) é designada como cuidadora da ex-bailarina e coreógrafa Amanda (Jennifer Ehle), que vive sozinha e enfrenta um linfoma na medula em fase terminal. Essa relação desencadeia uma série de atritos, pois, enquanto a jovem é extremamente católica, a paciente adora os prazeres mundanos.

Com um trauma em seu passado recente, Maud encara o emprego na casa de Amanda como uma missão divina: salvar a alma daquela mulher depravada à beira da morte e mandá-la para o céu. É aí, claro, que as coisas começam a se complicar. Produzido pela A24, o filme é o primeiro longa da carreira da diretora Rose Glass e é uma alegoria magnífica sobre fanatismo religioso, mas paremos por aqui. Saint Maud é curto, só tem 1h20, então falar mais é certeza de spoiler.

Para finalizar, vale destacar o desempenho de Morfydd Clark. Hoje mundialmente conhecida pelo papel da elfa Galadriel, na Série d’O Senhor dos Anéis, a atriz sueca dá show como a enfermeira confusa que tenta interpretar sinais divinos em tudo que vê. O filme está disponível nos streamings Prime Video e Apple TV. Se você tem TV por assinatura, ele entrou recentemente na programação do canal Space e, vira e mexe, passa por lá. Com o perdão do trocadilho, vá na fé.

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