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Críticas

CRÍTICA: Penny Dreadful (3ª temporada)

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[Por Geraldo de Fraga]

Em Penny Dreadful sempre existiu uma profecia milenar que falava de algum personagem, um destino divino do qual não se poderia fugir e que todos tinham um papel gigantesco e decisivo em um evento que decidiria o futuro da humanidade. Tudo era muito dramático e megalomaníaco, mas não passava de uma tentativa de dar à história uma grandiosidade que nunca lhe coube.

Essa dramaticidade exagerada era até compreensível, já que o roteiro baseava-se na literatura de horror gótica e suas vertentes, onde se observa um tom poético mesmo em se tratando de temas violentos, assustadores e fúnebres. Foi assim nas duas primeiras temporadas, e nessa terceira a pegada foi a mesma.

O problema é que o que sobrava de empolgante na parte visual (direção de arte, fotografia, figurino, efeitos especiais), faltava em texto. Enxertar poemas e frases de efeitos não dava aos diálogos a profundidade que a série queria, mesmo que o elenco fizesse lá suas caras e bocas para interpretá-los. Na verdade, soava bem brega.

E eis que, para a surpresa de muitos fãs, logo após a exibição da season finale, o criador John Logan anunciou a série não voltaria. Segundo ele, não faria sentido continuar já que a história da protagonista Vanessa Ives havia sido encerrada. O que não fez muito sentido também foi esse comunicado não ter sido dado antes.

Enfim, vamos por partes…

Drácula de volta
Para encerrar a série, o maior dos vilões precisou retornar. Mas nada da versão animalesca da primeira temporada e sim a versão romantizada e galã, tão difundida pelo cinema. Também foram inseridos outros personagens do clássico de Bram Stoker mesmo que (para variar) descaracterizados.

Drácula se apresenta como o irmão de Lúcifer (risos) e quer Vanessa Ives (Eva Green) como sua amante. Para isso, infesta Londres de vampiros, a fim de montar seu reinado na terra. Esse arco principal, usado obviamente para fechar a trama, não convenceu nem os fãs mais calorosos. A sensação que fica é que John Logan enrolou até o episódio final que, inclusive, foi resolvido às pressas e com uma conclusão pra lá de clichê.


The Bad, The Good, The Ugly
Como todo mundo viu no fim da segunda temporada, Ethan Chandler (Josh Hartnett) foi deportado de volta aos Estados Unidos para pagar pelos seus crimes. Só que, no meio do caminho, seu pai envia mercenários para tomá-lo das mãos da lei e o levarem para casa. Atrás dele também estão Sir Malcolm (Timothy Dalton) e o índio apache Kaetenay (Wes Studi), figura importante no passado de Chandler (mais uma vez com aquele blá blá blá de profecias e destino).

Arco bastante promissor, mas que se perde por conta de outra característica mal resolvida da série: a dualidade dos personagens. Em um universo onde todo mundo tem um podre, espera-se isso, mas o roteiro aqui coloca Chandler como alguém que muda de opinião e de personalidade de cinco em cinco minutos. O tema velho oeste , no entanto, tem bons momentos (destaque para a participação de Brian Cox), mas é confuso.

Sufragistas

O movimento feminista é mostrado de relance, mas logo se torna parte da trama através de Lily (Billie Piper) que resolve montar um exército de mulheres que sofrem nas mãos dos homens safados da cidade para se vingar deles. Ao seu lado, o insosso Dorian Gray (Reeve Carney) que a apoia no início, para em seguida perceber a cilada na que se meteu.

O Médico e o Monstro
A trama de Lily e Dorian se junta a de Victor Frankenstein (Harry Treadaway) que quer sua amada a todo custo e para isso recorreu à mais nova aquisição da série: Dr. Henry Jekyll (Shazad Latif). Com sua famosa fórmula ainda em fase de testes, o médico topa auxiliar seu colega de profissão na missão de fazer de Lily uma mulher comportada e submissa.


John Clare

A criatura de Frankenstein (Rory Kinnear) já sofreu um bocado desde que ganhou vida e seguiu comendo o pão que o diabo amassou nessa temporada. Após perambular sozinho longe de Londres, ele retorna disposto a retomar a vida que tinha quando era vivo (com o perdão do trocadilho). Sempre sozinho e sem participar dos grandes eventos da história, o personagem pareceu ainda mais deslocado dentro do universo da série.


Conclusão

Penny Dreadful tinha uma história que poderia ter rendido muito mais se respeitasse a mitologia dos personagens em suas obras originais. Mas talvez o seu criador não acreditasse que o grande público fosse entender as referências literárias, caso fossem usadas.

Com o trio de protagonistas, que não foi extraído de livros, a decepção é menor, mas o tom dramático ao extremo que a série escolheu os arrastou para a chatice junto com os outros. Foi um potencial desperdiçado de forma frustrante e que só deixará na memória dos espectadores uma ou outra cena bem feita e bonita visualmente. Nada mais. Tchau, querida!

Escala de tocância de terror:

https://www.youtube.com/watch?v=gCFABhWtqVc

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0 Comments

  1. Emily

    22 de junho de 2016 at 21:40

    Não poderia discordar mais dessa resenha.
    Num ano em que GoT só decepciona com os episódios chatos e perdidos sem a mão poderosa de titio Jorge Martin o que salvou a humanidade foi o tão querido Penny Dreadful.
    A interpretação dos atores foi ótima e esperar fidelidade na história de personagens retirados de livros para viverem juntos uma história particular de um trio sem história prévia é como acreditar que Hollywood produzirá um filme sobre personagem bíblico totalmente fiel a bíblia, ou seja, inocência.
    Num mundo em que seriados de terror aclamados são TWD, carnifica gratuita, ou AHS, ecat!, que venham outros Penny Dreadfuls transbordantes de poesias e doenças da alma dignas de Poe, e o drama vivido por pessoas que travam internamente aquela batalha entre bem e mal pela qual todos nós já passamos.
    Detalhe especial para a última frase da Vanessa. “Eu vejo o nosso Senhor!” o que já dá toda uma ideia de esperança e de vitória do bem sobre o mal no final das contas.
    Na minha opinião só faltou mais pegas entre Vanessa e Ethan por motivos de torci legal por Ethanessa! =P
    Fiquei realmente esperando uns sataneses se manifestarem aqui em casa nas cenas em que ela estava possuída ou falando na língua antiga.
    Me angustiei com as torturas sofridas pelos alvos dos fetiches das bruxas.
    Me chateei com as muitas horas de sexo anal do Dorian Gray, o cara passou o pinto no bigode de geral da série.
    Vibrei com a morte da Hecate!
    E finalmente chorei com o encerramento. Digno pra mim.
    Uma obra de arte.

    • Pandora

      2 de setembro de 2016 at 23:59

      Minha filha…Por favor…vai cheirar uma rôla, nunca vi tanta merda num texto desde o roteiro de “Noite das Galinhas Mortas”.

      • Daniel Lucena

        16 de fevereiro de 2017 at 23:23

        Ela escreveu de forma meio exagerada mas na essência concordo com ela. Frente a outras séries que exploram violência gratuita e babaca como TWD, Penny Dreadful tinha uma boa atmosfera gótica e um ótimo leque de personagens. Acho que você não gostava porque talvez estivesse muito ocupada vendo a sua “Noite das galinhas mortas”…

      • paralelo7

        16 de fevereiro de 2017 at 23:26

        A Emily pode ter escrito de forma exagerada mas em essência concordo com ela. Em meio a séries que apelam pra violência gráfica babaca como TWD, Penny era um bom alívio com sua atmosfera gótica e um bom leque de personagens adultos. Sei lá, talvez você não tenha curtido por estar muito ocupada vendo… “Noite das galinhas mortas”…

  2. carmoj

    17 de novembro de 2016 at 16:28

    Ficou muito óbvio que o final foi abrupto e que o término da serie só foi decidido após alguns episódios já terem sido gravados. Houve atriz que inclusive já havia dito publicamente que possuía contrato assinado para outra temporada.

    O fato é que John Logan deveria ter sido honesto e dito que a serie foi abortada não por mera escolha dele e sim devido a baixa audiência, frente ao alto custo de produção. O resultado final foram arcos mal fechados (alguns nem isso) e fatos esquecidos como se não houvesse sido citados no decorrer da trama.

    Em suma, mais um papelão do canal Showtime, especialista em cancelar series sem a devida conclusão e do sr. Logan que mentiu descaradamente e sem uso de óleo de peroba.

  3. Eu Mesmo

    19 de julho de 2017 at 03:50

    O problema não foi ela morrrer. O problem não foi a série acabar de repente. O problema foi a “amada” do Drácula morrer e ele aceitar de boa, sem querer enfiar a porrada em todo mundo (ninguém mais notou que ele, simplesmente, sumiu após ela morrer, cacete?!?!??). O problema foi a forma tosca que eles arranjaram de “distrair” o capiroto enquanto o libisomen (que não se transformou em lobisomen para o confronto final !?!!?????!!!!!) se esgueirava para matar a Ives. O problema foi ela ter se convertido ao mal, ter se tornado vampira (ou ele mordeu ela à toa?) e quando ela finalmente encontrou o Chandler o roteirosta ignora tudo isso e ela pede para morrer (cacete, ela não tinha se convertido ao mal???).

    O problema foi essa incoerência dos infernos no roteiro que cagou de vez essa série, que teve bons momentos e ótimas atuações.

    PS: prêmio especial de personagem mais supérfluo e mal inserido e mal aproveitado da história das séries ao Dr. Jeckyll, que é absolutamente inútil e poderia ser cortado de todas as suas cenas.

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CRÍTICA: Predador – Terras Selvagens (2025)

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Predador - Terras Selvagens

Dan Trachtenberg se empolgou tanto com a franquia Predador que, só em 2025, o diretor lançou duas produções sobre o alienígena caçador. Depois da animação Assassino de Assassinos, temos agora Predador: Terras Selvagens (Predator: Badlands), que chega aos cinemas nesta quinta-feira.

Para quem não lembra, Trachtenberg já havia revivido o personagem em O Predador: A Caçada, mantendo a mitologia criada nos dois primeiros filmes (com Arnold Schwarzenegger, em 1987; e Danny Glover, em 1990). A pegada no mais recente longa, porém, dá um ‘duplo twist carpado’.

Ao invés de antagonista, o Predador é quem acompanhamos em Terras Selvagens. Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi) é um jovem extraterrestre da raça Yautja. Como todo membro dessa espécie, ele precisa passar por um ritual de caça para obter lugar em seu clã.

Dek, no entanto, não é um dos mais atléticos da sua linhagem. Assim, para provar de uma vez por todas o seu valor como guerreiro, ele resolve enfrentar Kalisk, um super monstro que é supostamente imortal.

O problema é que esse bichão vive em um planeta onde existe uma centena de ameaças tão grandes quanto ele. Nessa saga, Dek vai contar com a ajuda de Thia (Elle Fanning), uma androide avariada que ele encontra no meio do caminho.

A ideia de acompanhar o ETzão numa jornada nem é tão novidade (algo parecido já havia acontecido no famigerado Alien vs. Predador). Mas vê-lo alçado à categoria de anti-herói. lutando por justiça e fazendo amizades é bem esquisito.

Antes de qualquer coisa, falta carisma a Dek (e nem é pela clássica feiura da criatura). Pela personalidade do Predador, estabelecida ao longo dos anos, não é possível lhe atribuir características clássicas de protagonista, como senso de humor ou transparência emotiva.

A interação com a sintética Thia tenta dar uma carga dramática à história, e por vária vezes servir de alívio cômico, só que fica bem deslocado. Também é preciso muita força de vontade para acompanhá-lo numa peregrinação que culminará apenas num objetivo pessoal.

Predador: Terras Selvagens, todavia, não é um estudo de personagem, então vamos à ação e efeitos especiais. Infelizmente, também não são lá grande coisa. O planeta Genna é até decepcionante, o design de produção foi bem preguiçoso na criação da fauna local e nenhum dos monstrengos é muito marcante. Nem a conexão com a franquia Alien (a Weyland-Yutani aparece como oponente) enche os olhos, poderia ser qualquer megacorporação do mal que tava ok.

Não dá para dizer, apesar de tudo isso, que Dan Trachtenberg estragou a franquia. Mas, ao final, fica muito óbvio que a intenção do realizador é levar a trama para uma espécie de aventura espacial, numa vibe mais próxima de filme de super herói do que de terror sci-fi de carnificina. Eu prefiro o Predador caçando e desmembrando humanos do que pagando de íntegro, porém fica a critério de cada um.

Escala de tocância de terror:

Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Patrick Aison
Elenco: Elle Fanning, Dimitrius Schuster-Koloamatangi e Reuben de Jong
Origem: EUA

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CRÍTICA: Bom Menino (2025)

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Bom Menino

O filme que viralizou nos últimos meses, graças ao seu protagonista canino em um filme de terror, estreia em pleno Halloween, nos cinemas nacionais. No entanto, “Bom Menino” (Good Boy) não se resume apenas à fofura do doguinho (e adianto que ele é muito fofo mesmo).

Na trama, acompanhamos Indy, um cachorro leal que se muda com seu tutor para uma casa no meio da floresta, após o homem enfrentar um sério problema de saúde. O cão percebe imediatamente que há algo de errado com o local, e, com o tempo, essas manifestações sobrenaturais colocarão suas vidas em perigo.

Indy é, indiscutivelmente, a estrela do filme. Garanto que muitos atores gostariam de ter metade de seu carisma e presença de tela. Em poucos minutos de projeção, já estamos torcendo por ele. O trabalho de adestramento foi impecável, e é difícil imaginar o esforço que o realizador, que também é o tutor real do animal deve ter tido. Desde as cenas de afeto até as de terror, nota-se o cuidado e a boa realização em “Bom Menino“.

O diretor acerta ao usar enquadramentos e jogos de câmera quase sempre na perspectiva de Indy. Em alguns momentos, me lembrei do desenho dos Muppets Babies, em que nunca vemos o rosto da babá, embora aqui, em planos mais convencionais, sejam mostrados vislumbres ou o rosto inteiro dos personagens humanos.

O terror aqui é mais contido: uma sombra aqui e ali, vultos passageiros, mas sem o uso de trilha sonora alta ou aparições exageradas. O ritmo é lento, e a ambientação vai da casa inicialmente decrépita à mata semienevoada, com suas árvores sinistras.

Temos um longa envolto a uma atmosfera de desconforto e medo. Não espere sustos frequentes e jumpscares. Eles existem, mas em quantidade bem menor.

Apesar de em termos técnicos, a coisa funcionar, nem tudo são flores. Mesmo sendo um filme curto, com pouco mais de 70 minutos, é possível notar que a história seria mais bem contada em um curta ou média-metragem. Existem recursos narrativos que se repetem pelo menos três vezes em uma clara tentativa de esticar a duração.

A trama é a clássica da casa mal-assombrada, e a verdadeira inovação está em ser contada sob a perspectiva do cachorro. É algo eficiente que não teria o mesmo destaque se fosse narrada por humanos.

“Bom Menino” é uma agradável surpresa neste ano, dando novo fôlego a uma história que já vimos inúmeras vezes. Indy é um poço de carisma e fofura. Podem assistir sem medo, mas não espere um filme de gritos e sustos constantes.

Escala de tocância de terror:

Título original: Good Boy
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Ben Leonberg e Alex Cannon
Elenco: Indy, Shane Jensen, Arielle Friedman

* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z

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CRÍTICA: Medo Real (2025)

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Medo Real

Nesta temporada de Halloween de 2025, a Netflix trouxe para seus assinantes a série documental “Medo Real” (True Haunting), que aborda dois casos sobrenaturais ocorridos na história recente dos EUA. A produção ainda tem a grife de James Wan para agregar mais valor, mas será que vale seu tempo ou está mais para um derivado sem graça de tantas outras obras sobrenaturais?

As histórias mostradas são:
O Caso de Erie Hall: Nos anos 80, um jovem promissor consegue entrar numa renomada faculdade de NY. Entre estudos e farras, o jovem começa a ser assediado por uma força sobrenatural que cerca o local e que, com o tempo, se mostra uma ameaça a todos que o cercam.
Essa Casa Me Matou: Mostra uma família que se muda para a casa dos sonhos e acaba descobrindo que é um lar de pesadelos.

Esses eventos são mostrados ao longo de cinco episódios – três para o primeiro caso e dois para o segundo, respectivamente. A série conta com a presença de vários envolvidos, e seus relatos são dramatizados.

Embora seja em caráter documental, é inegável a influência da série de filmes “Invocação do Mal” nos momentos de dramatização. Inclusive, o casal Warren faz uma rápida participação em um dos casos (claro, interpretado por outros atores). O tom e a trilha sonora remetem muito aos filmes famosos, mas com uma vibe mais contida. Não espere sustos a cada cinco minutos.

Medo Real” tem alguns bons momentos exatamente por não optar por exageros, embora eles também existam, o que demonstra a indecisão dos realizadores sobre o tom que queriam dar ao material. A forma de conduzir as histórias lembra programas como “Linha Direta” e as matérias sobrenaturais vistas no “Domingo Legal” nos anos 90. Sim, existem programas assim no exterior, e inclusive alguns produtores daqui são desse tipo de programa, mas quis usar exemplos nacionais.

No geral, a série é bacana, servindo mais como uma diversão escapista do que algo sério e relevante. Não existem contrapontos para a história, e, para mim, essa é a pior falha – não dá para acreditar em tudo o que é mostrado como verdade absoluta.

Finalizando, “Medo Real” é uma série relativamente curta, com episódios de cerca de 30 minutos, que se mostra superior (mas nem tanto) ao que normalmente chega ao catálogo de originais da Netflix quando o assunto é terror.

Escala de tocância de terror:

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