Resenhas
RESENHA: Uma Noite de Crime: Anarquia (2014)
[Por Júlio César Carvalho]
Em 2013, Uma Noite de Crime (The Purge) chamou a atenção do público por sua premissa ousada que era a seguinte: Nos EUA, em um futuro próximo, o governo decide liberar uma vez por ano 12 horas contínuas de crimes sem a interferência da polícia, bombeiros etc afim de aliviar a tensão do povo americano. Tudo isso em acordo com a população que em troca ficaria boazinha durante 364 dias do ano esperando esse dia de expurgo anual pra liberar a raiva geral sem sofrer as consequências perante a lei. Apesar dessa premissa instigante, o filme decepcionou. Mesmo assim, a Platinun Dunes (Michael Bay) decidiu por uma sequência e aqui está com o subtítulo de Anarquia. Vamos lá e que “Deus abençoe os Pais Fundadores e a América: uma nação renascida“.
Uma Noite de Crime: Anarquia é novamente escrito e dirigido por James DeMonaco, só que agora decide sabiamente abordar a tal noite de expurgo, e seu reflexo na sociedade, de uma forma mais abrangente estendendo o cenário às ruas. O ano é 2023 e falta pouco mais de duas horas para o toque de recolher. Quando a sirene toca indicando que o expurgo está valendo, o filme começa a mostrar pra que veio. Ou pelo menos ameaça.
Ao contrário do primeiro onde somos obrigados a ficar trancados junto com uma família chata em sua casa, aqui a gente tem noção do que acontece pelas ruas durante tal período. Pandemônio total! Dessa vez acompanhamos um grupo de desconhecidos, e desarmados, que em meio ao caos encontram sua salvação em um misterioso homem fortemente armado, porém bem intencionado, que ronda as ruas em seu Dodge Charger blindado bancando o justiceiro. Infelizmente os personagens (e atores) não tem carisma algum e nem valem a pena o aprofundamento a respeito.
Claro que só quem perde com essa lei são os pobres, já que não podem pagar pelos inúmeros serviços oferecidos para proteção. Já a indústria de armamentos pira! Tem gente se oferendo “no precinho” como guarda-costas a cada esquina da cidade. A violência é retratada de forma crua e em certos momentos impressiona traduzindo bem o quão absurdo essa tal medida governamental é.
Tem mascarado por todo lado, gente comum bancando franco atirador da janela do seu apartamento, fuzilamentos e linchamentos nos becos e até novas abordagens como o escroto comércio de vítimas pobres para o divertimento de famílias doentias. Tem momentos que lembram muito o controverso jogo GTA (Grand Theft Auto) e é justamente este clima de desordem que diverte nesta sequência. Mas há situações que insultam a inteligência do espectador como quando o grupo se esconde de uma gangue que está tocando o terror a poucos metros dali e de repente, assim do nada, um rato enorme que está passeando de boa na calçada resolve subir pelas pernas da moça que grita chamando a atenção dos mascarados. PORRA! Sério mesmo?
Infelizmente no terceiro ato, Uma Noite de Crime: Anarquia muda completamente de estilo se assumindo apenas como um “filme de tiro” como outro qualquer. Todo o discurso crítico é deixado de lado e passamos a acompanhar o aspirante a Frank Castle e sua trupe se metendo em altas confusões tentando sobreviver na base da bala. É nítido que essa sequência consegue se mostrar mais interessante que o longa anterior em todos os sentidos, mas acaba literalmente atirando pra todos os lados perdendo assim o foco discursivo proposto pela ideia central.
No fim das contas, tudo caminha para um final forçadamente esperançoso que não se encaixa com o contexto antes apresentado, se equiparando assim de forma negativa ao seu antecessor. Mais uma vez a ótima premissa é mal aproveitada. Aí fica aquela dúvida: Será que James DeMonaco é só mais um cagão mesmo ou simplesmente é vítima da bundice da indústria cinematográfica americana? De qualquer forma, o terceiro filme vem em 2015 e nos resta apenas aguardar pra ver o que vai acontecer.
VEREDITO: Apesar dos pesares, é melhor que o primeiro.
Título original: The Purge – Anarchy
Direção: James DeMonaco
Roteiro: James DeMonaco
Elenco: Frank Grillo, Carmen Ejogo e Zach Gilford
Origem: EUA e França
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Resenhas
RESENHA: O Telefone Preto (2022)
O Telefone Preto (The Black Phone), novo horror da Universal Pictures, tem co-produção da ilustríssima Blumhouse, direção de Scott Derrickson (O Exorcismo de Emily Rose, A Entidade) e roteiro baseado em um conto de Joe Hill, escritor badalado, filho de ninguém menos que Stephen King. Como se não bastasse tudo isso, o vilão ainda é interpretado pelo duas vezes indicado ao Oscar, Ethan Hawke. Bom, o golpe tá aí… cai quem quer.
O filme se passa no subúrbio de North Denver, Colorado, em 1978. A vizinhança está assustada, pois crianças estão sendo raptadas na área. A polícia segue as pistas do serial killer, apelidado pela imprensa de The Grabber (Ethan Hawke), mas pouco se sabe sobre ele, apenas que dirige um furgão e usa balões pretos para encobrir seus ataques.
O tema central do O Telefone Preto é o bullying, problema enfrentado por Finney (Mason Thames), jovem de classe média baixa que é perseguido na escola, e que será a vítima do The Grabber que iremos acompanhar no decorrer do filme. A clássica história de superação dos próprios medos, materializados na figura bizarra do vilão.
Enquanto o garoto é mantido refém, sua irmã Gwen (Madeleine McGraw) corre por fora para convencer as autoridades que seus dons paranormais podem ajudar na busca. Mas o sobrenatural não está presente só nesse recorte da trama. O tal telefone do título é um aparelho quebrado, que fica no cativeiro de Finney, e pelo qual ele recebe ligações das vítimas anteriores. Nas interações, os meninos assassinados tentam ajudá-lo a derrotar o psicopata.
O problema é que O Telefone Preto, em nenhum momento, nos dá qualquer indício de que todo esse enredo vai terminar fora do lugar comum. Nada sai da fórmula hollywoodiana. E com crianças como protagonistas, todos os vícios de produções recentes, como IT – A Coisa e Stranger Things, são requentados, mesmo que a fotografia de Brett Jutkiewicz deixe a obra mais sombria que a tendência atual
Nem Ethan Hawke, que parecia ser o trunfo do filme, pela sua aparência bizarra, se mostra tão ameaçador. Não é preciso mostrar tudo da vida pregressa do antagonista. Muitas vezes, a falta de informação funciona melhor para endossar o mistério sobre seus atos. Só que o roteiro o relegou ao papel de um mascarado que entra e sai de um cômodo, dizendo frases soltas, como se só isso bastasse para externar sua loucura.
Talvez no conto, Joe Hill tenha conseguido lhe dar mais personalidade, mas a trama desenvolvida por Scott Derrickson e C. Robert Cargill pena para trazer qualquer aflição ao espectador. O Telefone Preto é só mais um exemplo de terror que tenta assustar com um personagem feio, um sustinho aqui, outro ali, e uma história universal sobre superação. Recuse a chamada.

Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Scott Derrickson e C. Robert Cargill (baseado no conto de Joe Hill)
Elenco: Mason Thames, Madeleine McGraw e Ethan Hawke
Origem: EUA
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RESENHA: Fúria (2019)
Quando saiu a notícia que iria rolar um remake de RABID, clássico de ninguém menos que David Cronenberg – filme que aqui no Brasil saiu com o título infame de “ENRAIVECIDA NA FÚRIA DO SEXO” – eu fiquei num misto de curiosidade e medo do que viria. Mas aí vi que essa empreitada seria realizada pelas Irmãs Soska e fiquei bem animado, pois as gêmeas diretoras tem uns filmes cabulosos no currículo.
Nesta nova versão (chamada no Brasil de “Fúria“), dirigida por Jen e Sylvia Soska, a partir do roteiro de John Serge no qual elas também assinam, acompanhamos Rose, uma design de moda que se envolve em um acidente e fica com o rosto desfigurado. Sem esperanças de recuperar a aparência e voltar ao mundo da moda, resolve se inscrever numa clínica de estética adepta de um movimento chamado “TRANS-HU-MA-NI-SMO” que não é aceito pela comunidade médica. Como voluntária, acaba se submetendo ao procedimento milagroso que restaura toda estrutura do seu rosto. Não bastasse a aparência, a moça passa a se sentir melhor em todos os sentidos. Mas não demoram a surgir os efeitos colaterais… e eles são pra lá de sinistros.
Em nenhum momento as diretoras escondem sua admiração por Cronenberg. Há referências frequentes de sua obra durante o longa, sendo que uma em especial acaba se destacando de tão gritante que é. E é claro que o sadismo aqui impera, marca registrada das gêmeas cineastas em seus longas anteriores – vide “T IS FOR TORTURE PORN” e “AMERICAN MARY“. E assim como o diretor canadense, as irmãs também são chegadas a um body horror raiz. Aqui, usam e abusam de efeitos práticos pra nos conferir muita nojeira e bizarrice. Em uma cena temos uma “cobra” e uma axila… Bem, basta dizer que esta cena dificilmente será esquecida, por exemplo.
Apesar de seguir a mesma premissa do “RABID” original, este remake tem suas diferenças – o que já é esperado – e a mais importante é a forma com que Rose, vivida por Laura Vandervoort (Biten), é construída. Ao contrário do original, nossa protagonista não passa o filme todo assistindo impassiva às transformações que seu corpo e mente sofrem. Aqui, nossa heroína evolui dentro da trama, passando a ter domínio de suas ações, dando força e profundidade à personagem.
O ponto forte aqui tá no desenvolvimento da personagem principal, como já mencionado, e na violência extremamente gráfica toda artesanal, que garante uma seboseira danada com muito sangue em tela. Infelizmente, a maquiagem dá uns vacilos como na deformidade do rosto da protagonista, o que as vezes fica bem fake. Há também umas cenas toscas aqui e ali, mas os pontos fracos mesmos estão mais em alguns personagens que poderiam simplesmente nem existir, tipo o boyzinho que fica enchendo o saco da moça o filme todo.
Esta nova versão de “RABID” peca por tentar acrescentar mais elementos à trama do que ele precisaria de fato, mas nada que estrague a sua experiência. No fim das contas, o remake das Irmãs Soska agrada e acaba fazendo “bonito”. Pena que esta refilmagem passou meio batida pelo público do gênero e pouco se falou a respeito. Quem ainda tá torcendo o nariz e ainda não viu, tá vacilando.

Direção: Jen e Sylvia Soska
Roteiro: John Serge e Irmãs Soska
Elenco: Laura Vandervoort, Benjamin Hollingsworth, Ted Atherton
Ano de lançamento: 2019
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RESENHA: Eles Existem (2014)
Em 1999, a dupla Daniel Myrick e Eduardo Sánchez concebeu ao mundo o icônico A Bruxa de Blair (The Witch Blair Project) que chamou a atenção por deixar muita gente com a pulga atrás da orelha se perguntando se as imagens exibidas das tais fitas VHS achadas eram reais, ressuscitando assim o estilo found-footage já existente, porém, até então não tão popularizado. 15 anos depois, Eduardo Sánchez revisita estilo que o lançou, mas seria melhor que não o tivesse feito. (mais…)
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