Críticas
CRÍTICA: The History Of Metal And Horror (2022)

[Por Frederico Toscano] *
Algumas combinações são tão óbvias que podem até passar desapercebidas. Arroz e feijão. Praia e caldinho. Carnaval e frevo. Família Bolsonaro e cadeia. Fuça de fascista e murro. Por isso, é até com um certo espanto que constatamos que só em 2022 foi lançado um documentário que busca explicar as ligações entre o Heavy Metal e o cinema de horror. A tarefa ficou para o filme The History Of Metal And Horror, escrito e dirigido por Mike Schiff.
Existe uma espécie de meta-narrativa que costura as tradicionais imagens de arquivo e “cabeças falantes” de especialistas (ou não) que são típicas de produções desse tipo: um sobrevivente do apocalipse chamado Christopher (Alex Rafala) perambula por ruas vazias em busca de vestígios de um mundo que não mais existe. Acaba encontrando um conjunto de fitas que, de maneira muito conveniente (e puxando para a comédia), busca explicar como funcionava a sociedade (americana, claro) antes do fim.
O didatismo descamba para o sinistro quando Christopher decide combinar dois assuntos aparentemente afastados, justamente Metal e horror. Surge então o Anfitrião, o grande Michael Berryman, com seu rosto marcante, voz aveludada e gestos suaves, permitindo que a educação do sobrevivente (e a nossa) possa começar propriamente.

Mas aí antes de continuar, vamos abrir alguns parênteses… Hoje em dia, e felizmente, há muitos documentários sobre cinema de horror por aí, de maior ou menor qualidade e com vieses distintos: o excelente Woodlands Dark and Days Bewitched: A History of Folk Horror se dedica, como o título indica, ao subgênero do terror folk, enquanto o gigantesco In Search of Darkness basicamente traz toda a produção do tipo da década de 1980.
Horror Noire monta uma original (e necessária) perspectiva do cinema de horror produzido, dirigido e protagonizado por homens e mulheres negras. E por fim, Scream, Queen! My Nightmare on Elm Street conta especificamente a história de Mark Patton, ator homossexual que protagonizou o hoje clássico A Hora do Pesadelo II, mas que sofreu perseguições e quase teve sua carreira (para não falar sua vida) destruídos pelo preconceito de Hollywood. Da mesma forma, não faltam filmes que biografam o Heavy Metal, seja o estilo musical como um todo e/ou bandas específicas. Portanto, para quem já possui um certo conhecimento sobre os temas abordados, o começo do documentário pode ser um tanto repetitivo e didático.
Assim, vemos um desfile de clássicos, como os famosos filmes de monstro da Universal, comentados por estudiosos, gente do meio e, o que é meio esquisito, descendentes de atores que participaram dessas produções. Dessa forma, é Ron Chaney, neto de Lon Chaney e filho de Lon Chaney Jr, que aparece para falar do trabalho dos seus ancestrais famosos.
No lado do Metal, bem mais recente do que o cinema de horror, felizmente poremos contar com muitos dos próprios músicos que fizeram e fazem parte do estilo até hoje. Podemos ver na tela nomes como Alice Cooper, Rob Zombie e os lunáticos da Gwar (estes seriam mais do que obrigatórios), mas foi uma grata surpresa ver os depoimentos de Dani Filth, Scott Ian, Kirk Hammet, Corey Taylor, Marky Ramone e até mesmo Derrick Green e Paulo Jr. da nossa querida Sepultura. Phil Anselmo, com o cérebro claramente decomposto (se pelas drogas ou se pelo racismo reincidente, não se sabe) aparece para balbuciar algo de maneira quase ininteligível.

O lado cinematográfico de The History Of Metal And Horror se dá muito melhor quando traz os medalhões da indústria que, se não são exatamente uma participação original, por outro lado são sempre muito bem-vindos: o bacaníssimo Doug Bradley, o arroz de festa (isso não é uma crítica, ao contrário) Tom Savini e o semideus do horror John Carpenter, entre outros.
No final, como se poderia imaginar, temos um bando de malucos falando de maneira entusiasmada de cinema e música, traçando conexões (algumas bem pensadas, outras um tanto forçadas) entre Metal e horror. É um prazer ver o fandom perseguir de maneira saudável e respeitosa (nerdolas e gamers, estou olhando para vocês) suas paixões, frequentando shows e convenções, se empolgando com as músicas e filmes que fizeram suas cabeças quando crianças ou adolescentes, e que continuam fazendo-os saltar da poltrona ou bater cabeça como se fosse a primeira vez.
The History Of Metal And Horror é um documentário feito de fãs para fãs, que não esconde (e nem deveria) seu amor pelos temas abordados. Não há muito espaço para críticas ou mesmo debates muito aprofundados, mas cumpre sua função de informar e entreter. A quem se interessar, é possível alugar o filme via Google Play, YouTube, Apple TV e Amazon.
* Especial para o Toca o Terror
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Críticas
CRITICA: Frankenstein (2025)

Quando saiu o anúncio de que a nova versão cinematográfica para FRANKENSTEIN concebida por Guillermo del Toro. Como fã do livro e do diretor, fiquei animado ao mesmo tempo que receoso por motivos de: Netflix.

FRANKENSTEIN (ou O PROMETEU MODERNO) foi um livro cabuloso escrito por Mary Shelly lançado em 1818 que basicamente cravou a junção de terror com ficção científica. Sua história já foi amplamente adaptada em diversas mídias desde então, sendo até apropriada por Hollywood como um dos monstros da Universal com o clássico de 1931 no qual Boris Karllof interpreta a criatura cujo o visual ficou como o definitivo no imaginário da cultura pop. Outra adaptação que ficou marcada foi a de 1994 com Robert DeNiro encarnando o retalho de corpos ambulante. Para além do cinema, o que não faltam são adaptações e versões, diretas ou indiretas desta icônica obra literária.
Estamos em 2025 e agora temos a versão de Guillermo del Toro (O LABIRINTO DO FAUNO, ESPINHA DO DIABO, HELLBOY, BLADE 2) cineasta que marcou sua filmografia com monstros carismáticos, memoráveis, icônicos e grotescos. Na trama, a grosso modo, acompanhamos Victor Frankenstein, um médico que é obcecado em vencer a morte a todo custo. Para isso ele não poupa esforços numa empreitada para desvendar como reanimar um corpo montado a partir de vários outros cadáveres. Quando enfim tem êxito, percebe que passou dos limites e precisa encarar sua monstruosa criação.

O filme é visualmente impecável. Dos cenários ao figurino, tudo é hipnotizante. Realmente o trabalho de direção de produção, figurino e efeitos são impressionantes. É tanta exuberância que até o gore fica bonito e é aí que a versão de Guillermo del Toro para FRANKENSTEIN se mostra não tão cabulosa como o esperado, ou prometido por sua filmografia. Na medida que o filme avança, a trama não aprofunda, fica redundante e estaciona no lugar comum de um filme apenas “lindo”.
Fica nítido que del Toro não busca desafiar a audiência em momento algum, escolhendo o maniqueísmo fácil, buscando até um didatismo que chega a ser verborrágico. Até visualmente, o cineasta, tão conhecido por trazer criaturas icônicas com visuais que fogem do padrão, prefere uma estética agradável para a criatura, ousando não entregar o esperado, mas ao mesmo tempo, optando pelo caminho mais fácil para o apreço do público pelo quebra-cabeça de defuntos ambulante. O que é até contraditório com toda nojeira apresentada até então, com corpos mutilados para experimentos em todo lugar.

O elenco em geral faz o que o longa pede. O ótimo Oscar Isaac entrega um Victor Frankenstein extremamente desequilibrado e detestável sem muitas nuances, reforçando o maniqueísmo simplório do roteiro. Mia Goth faz sua versão rebelde de Elizabeth, Jacob Elord encarna uma criatura que é basicamente ele mesmo mais pálido com “cicatrizes” perfeitas e o cultuado Christoph Waltz interpreta um personagem criado para esta versão que tem seus momentos, mas no fim acaba sendo só o próprio Christoph Waltz mesmo.
Há diferenças com a obra original, e tá tudo bem sendo até esperado. O foco aqui é mais no drama familiar entre Victor e seu pai, e de Victor com a criatura. O terror fica apenas para as cenas nojentas dos experimentos do doutor e do monstro, trucidando os tripulantes de um navio, por exemplo. Dividido em capítulos, del Toro traz também o ponto de vista da criatura que pretende gerar contrapontos de julgamento, mas poderia ter ido muito além. Assim seguimos nesta dinâmica dualista: de um lado, temos o doutor extremamente babaca, horrível e odiável; do outro, uma criatura inocente, bela e amável. Assim é fácil demais, hein, Guillermo?

Infelizmente, FRANKENSTEIN, de Guillermo del Toro, não vai muito além do belo, não desafiando para uma superação do horrendo, nem instigando reflexões mais profundas. Até em A FORMA DA ÁGUA, em que o cineasta pega mais leve, tem um certo grau de desafio lançado para sua audiência. Este só não é tão esquecível feito o seu A COLINA ESCARLATE por conta do peso da obra original. Aí fica o questionamento: foram estas escolhas dele ou imposições da Netflix? No fim, nem importa tanto, pois o que fica é a obra como foi concebida.
Título original: FRANKENSTEIN
Diretor: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Elenco: Oscar Isaac, Jacob Elordi, Christoph Waltz, Mia Goth
Origem: EUA, México
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Críticas
CRÍTICA: Predador – Terras Selvagens (2025)

Dan Trachtenberg se empolgou tanto com a franquia Predador que, só em 2025, o diretor lançou duas produções sobre o alienígena caçador. Depois da animação Assassino de Assassinos, temos agora Predador: Terras Selvagens (Predator: Badlands), que chega aos cinemas nesta quinta-feira.
Para quem não lembra, Trachtenberg já havia revivido o personagem em O Predador: A Caçada, mantendo a mitologia criada nos dois primeiros filmes (com Arnold Schwarzenegger, em 1987; e Danny Glover, em 1990). A pegada no mais recente longa, porém, dá um ‘duplo twist carpado’.

Ao invés de antagonista, o Predador é quem acompanhamos em Terras Selvagens. Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi) é um jovem extraterrestre da raça Yautja. Como todo membro dessa espécie, ele precisa passar por um ritual de caça para obter lugar em seu clã.
Dek, no entanto, não é um dos mais atléticos da sua linhagem. Assim, para provar de uma vez por todas o seu valor como guerreiro, ele resolve enfrentar Kalisk, um super monstro que é supostamente imortal.
O problema é que esse bichão vive em um planeta onde existe uma centena de ameaças tão grandes quanto ele. Nessa saga, Dek vai contar com a ajuda de Thia (Elle Fanning), uma androide avariada que ele encontra no meio do caminho.

A ideia de acompanhar o ETzão numa jornada nem é tão novidade (algo parecido já havia acontecido no famigerado Alien vs. Predador). Mas vê-lo alçado à categoria de anti-herói. lutando por justiça e fazendo amizades é bem esquisito.
Antes de qualquer coisa, falta carisma a Dek (e nem é pela clássica feiura da criatura). Pela personalidade do Predador, estabelecida ao longo dos anos, não é possível lhe atribuir características clássicas de protagonista, como senso de humor ou transparência emotiva.
A interação com a sintética Thia tenta dar uma carga dramática à história, e por vária vezes servir de alívio cômico, só que fica bem deslocado. Também é preciso muita força de vontade para acompanhá-lo numa peregrinação que culminará apenas num objetivo pessoal.

Predador: Terras Selvagens, todavia, não é um estudo de personagem, então vamos à ação e efeitos especiais. Infelizmente, também não são lá grande coisa. O planeta Genna é até decepcionante, o design de produção foi bem preguiçoso na criação da fauna local e nenhum dos monstrengos é muito marcante. Nem a conexão com a franquia Alien (a Weyland-Yutani aparece como oponente) enche os olhos, poderia ser qualquer megacorporação do mal que tava ok.
Não dá para dizer, apesar de tudo isso, que Dan Trachtenberg estragou a franquia. Mas, ao final, fica muito óbvio que a intenção do realizador é levar a trama para uma espécie de aventura espacial, numa vibe mais próxima de filme de super herói do que de terror sci-fi de carnificina. Eu prefiro o Predador caçando e desmembrando humanos do que pagando de íntegro, porém fica a critério de cada um.
Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Patrick Aison
Elenco: Elle Fanning, Dimitrius Schuster-Koloamatangi e Reuben de Jong
Origem: EUA
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CRÍTICA: Bom Menino (2025)

O filme que viralizou nos últimos meses, graças ao seu protagonista canino em um filme de terror, estreia em pleno Halloween, nos cinemas nacionais. No entanto, “Bom Menino” (Good Boy) não se resume apenas à fofura do doguinho (e adianto que ele é muito fofo mesmo).
Na trama, acompanhamos Indy, um cachorro leal que se muda com seu tutor para uma casa no meio da floresta, após o homem enfrentar um sério problema de saúde. O cão percebe imediatamente que há algo de errado com o local, e, com o tempo, essas manifestações sobrenaturais colocarão suas vidas em perigo.
Indy é, indiscutivelmente, a estrela do filme. Garanto que muitos atores gostariam de ter metade de seu carisma e presença de tela. Em poucos minutos de projeção, já estamos torcendo por ele. O trabalho de adestramento foi impecável, e é difícil imaginar o esforço que o realizador, que também é o tutor real do animal deve ter tido. Desde as cenas de afeto até as de terror, nota-se o cuidado e a boa realização em “Bom Menino“.

O diretor acerta ao usar enquadramentos e jogos de câmera quase sempre na perspectiva de Indy. Em alguns momentos, me lembrei do desenho dos Muppets Babies, em que nunca vemos o rosto da babá, embora aqui, em planos mais convencionais, sejam mostrados vislumbres ou o rosto inteiro dos personagens humanos.
O terror aqui é mais contido: uma sombra aqui e ali, vultos passageiros, mas sem o uso de trilha sonora alta ou aparições exageradas. O ritmo é lento, e a ambientação vai da casa inicialmente decrépita à mata semienevoada, com suas árvores sinistras.
Temos um longa envolto a uma atmosfera de desconforto e medo. Não espere sustos frequentes e jumpscares. Eles existem, mas em quantidade bem menor.

Apesar de em termos técnicos, a coisa funcionar, nem tudo são flores. Mesmo sendo um filme curto, com pouco mais de 70 minutos, é possível notar que a história seria mais bem contada em um curta ou média-metragem. Existem recursos narrativos que se repetem pelo menos três vezes em uma clara tentativa de esticar a duração.
A trama é a clássica da casa mal-assombrada, e a verdadeira inovação está em ser contada sob a perspectiva do cachorro. É algo eficiente que não teria o mesmo destaque se fosse narrada por humanos.
“Bom Menino” é uma agradável surpresa neste ano, dando novo fôlego a uma história que já vimos inúmeras vezes. Indy é um poço de carisma e fofura. Podem assistir sem medo, mas não espere um filme de gritos e sustos constantes.
Título original: Good Boy
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Ben Leonberg e Alex Cannon
Elenco: Indy, Shane Jensen, Arielle Friedman
* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z
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