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CRÍTICA: Prédio Vazio (2025)

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Prédio Vazio

“Quer viver um sonho lindo que eu vivi?
Vá viver a maravilha de Guarapari”

Assim diz a letra da antiga valsinha de Pedro Caetano interpretada por Nuno Roland. Cidade do litoral do Espírito Santo, Guarapari fica bastante animada no verão, especialmente durante o carnaval onde costuma ser muito visitada por turistas. Em baixa temporada acaba sendo uma ótima pedida para curtir alguns dias de descanso, comer um peixe e tomar uma cerveja num quiosque à beira do mar.

E é buscando viver o sonho guarapariense que Marina (Rejane Arruda) resolve juntar-se ao companheiro para curtir a folia de momo no início de “Prédio Vazio“. Porém o sonho começa a virar pesadelo ao se hospedar em um antigo e decrépito edifício onde nada funciona… Enquanto conversa ao telefone com a filha, Marina presencia a morte de uma antiga moradora do prédio e, para completar, descobre que o parceiro a traiu. Ao entrar em uma violenta briga com ele, o embate só não tem um final trágico graças à intervenção da zeladora Dora (Gilda Nomacce) que nocauteia o brutamontes com um martelo.

Preocupada com a mãe, Luna (Lorena Corrêa) decide ir para Guarapari e o simpático e apaixonado Fábio (Caio Macedo), mesmo contra a vontade dela, vai junto. Lá chegando, dão de cara com a porta do Edifício Magdalena que, com o final da temporada, parece completamente vazio. Dando um “jeitinho” de conseguir entrar no prédio o casal vai descobrir da pior forma que, contrariando o título do filme, o prédio de vazio não tem nada!

O diretor Rodrigo Aragão, que o Toca o Terror acompanha a obra há muito tempo (a gente exibiu A Noite do Chupacabras em 2013!) e também já teve o prazer de encontrar e bater papo algumas vezes, dessa vez resolve contar uma história mais urbana, ambientada em sua cidade natal.

Rodrigo, entre quilos de maquiagem e galões de sangue falso, gosta de abordar algumas temáticas sociais e em Prédio Vazio não fez diferente. O filme além de ser um conto de fantasmas, também é uma crítica ao desmatamento e consequente crescimento urbano desenfreado. “Um desperdício de espaço” como diz o motorista que leva Luna e Fábio ao amaldiçoado edifício.

O decadente Edifício Magdalena, fruto da direção de arte de Priscilla Huapaya, remete aos filmes de Bava e Argento, com seus vitrais coloridos dando deixa para a fotografia de Alexandre Barcelos usar uma paleta com tons esverdeados e/ou avermelhados nos personagens. O prédio, obviamente, também traz similaridades ao elevador e os corredores de “O Iluminado“, de Stanley Kubrick. Algumas das mortes (das agora almas atormentadas) que nos são apresentadas por flashbacks ou pelo prólogo, como é o caso do simpático casal de velhinhos, impactam pela caprichada maquiagem e efeitos práticos com a assinatura do parceiro de longas datas, Joel Caetano, e supervisionadas pelo próprio diretor.

Algumas coisas infelizmente não funcionam tão bem em “Prédio Vazio“: a montagem, que só engata no último terço do filme, quando a obra abraça aspectos mais surreais. Em relação ao elenco, o casal protagonista não tem uma química muito boa apesar dos personagens funcionarem de forma independente e algumas escolhas estéticas também não me agradaram (aí é questão pessoal). Mas isso não atrapalha o conjunto da obra que é mais uma mostra do comprometimento, esmero e amor ao gênero que o diretor tem mostrado em toda sua carreira.

Curiosidades: O filme faz parte de um projeto chamado “Filme-Escola” onde Aragão aproveita a realização da obra para ensinar um grupo de alunos a fazer cinema (dessa vez foram mais de 100 pessoas!). Os fãs poderão perceber vários easter eggs remetendo a outros filmes do “Aragãoverso”, como “O Cemitério das Almas Perdidas” e “A Mata Negra“. Houve ainda a estreia da filha mais nova do casal Rodrigo Aragão e Mayra Alarcón (que também faz uma pontinha em uma cena em que sai do elevador), Alícia Margarida Aragão.

Prédio Vazio, que estreou no 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, recebeu o Prêmio Retrato Filmes de distribuição no valor de R$ 100.000,00 (Cem mil reais), garantindo sua chegada aos cinemas no próximo 12 de junho. Prestigiem!

Escala de tocância de terror:

Título original: Prédio Vazio
Diretor: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Elenco: Rejane Arruda, Gilda Nomacce, Lorena Corrêa e Caio Macedo
Origem: Brasil
Ano de produção: 2024

* Filme visto em pré-estreia promovida pela Sinny Comunicação e Retrato Filmes

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Simpático de corpo™ Vimeo: https://vimeo.com/jotabosco/ Youtube: https://www.youtube.com/user/sonicbosco/videos

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CRÍTICA: Pecadores (2025)

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Se você continua a dançar com o diabo, um dia ele vai te seguir até sua casa.”
Estas são as palavras do pastor Jedidiah para o filho que volta para casa, como na parábola do filho pródigo. Cansado, machucado e arrependido, ele é a testemunha dos acontecimentos que conheceremos ao longo da história de Pecadores (Sinners).

Mississippi, 1932. Os irmãos Elias e Elijah, mais conhecidos como Fuligem e Fumaça (interpretados por Michael B. Jordan), retornam à sua cidade natal após uma temporada em Chicago, com o objetivo de abrir um juke joint (um tipo de inferninho com comida farta, bebida, jogatina e muita música) e recomeçar suas vidas. Para a inauguração do estabelecimento, os gêmeos começam a reunir sua “trupe”.

É assim que conhecemos ‘Pastorzinho’ Sammie (o cantor Miles Caton, em sua estreia), o jovem do começo do filme, primo dos gêmeos, que, apesar da pouca idade, se mostra um talentoso bluesman. O pianista Delta Slim (Delroy Lindo, fazendo jus ao sobrenome como sempre), os Chow (Yao e Helena Hu), Cornbread (Omar Miller) e Annie (Wunmi Mosaku), ex-esposa de Fumaça e sacerdotisa hoodoo, que será responsável pela cozinha do lugar (e também por explicar aos demais os acontecimentos sobrenaturais que virão). Com a chegada inesperada de Mary (Hailee Steinfeld), ex-namorada de Fuligem, o núcleo está completo.

Ryan Coogler, que dirigiu anteriormente filmes como Creed: Nascido para Lutar e os Pantera Negra, não tem pressa em chegar às vias de fato: dedica a primeira hora de Pecadores a um drama com tons ensolarados e ritmo refinado.

O foco está na construção cuidadosa de um mundo marcado pela persistente sombra da escravidão e pelas desigualdades de um Sul dos Estados Unidos em que pessoas que acordam antes do amanhecer para colher algodão recebem o pagamento em moedas de madeira ou títulos de plantação, em vez de dinheiro; presidiários acorrentados trabalham nas estradas; e a Ku Klux Klan que pode, a qualquer momento, bater à sua porta.

Nessa realidade, o blues oferece uma fuga e uma cura. A música, que permeia todo o filme, é refúgio e ponte entre o passado e o futuro. Isso é demonstrado de forma magistral em um dos momentos mais belos — e ao mesmo tempo estranhos — do filme, durante a inauguração do empreendimento dos gêmeos. Mas tanta energia positiva, gerada por aqueles que são musical ou metafisicamente talentosos, acaba atraindo seu oposto. E é aí que entra o charmoso e ameaçador Remmick.

Remmick (Jack O’Connell) bate à porta de Bert (Peter Dreimanis) e sua esposa Joan (Lola Kirke) — que logo descobrimos serem membros da KKK —, pedindo ajuda e alegando estar sendo perseguido por “terríveis indígenas”. No entanto, tudo não passa de um disfarce para conseguir ser convidado a entrar na casa deles. O convite selará seus destinos (e também mudará o ritmo da história dali em diante).

Apesar de ser o primeiro trabalho totalmente autoral de Coogler, Pecadores também confirma parcerias de longa data. O compositor Ludwig Göransson e Michael B. Jordan estão presentes em todos os filmes do diretor. O mesmo vale para a montagem de Michael P. Shawver. A direção de fotografia é de Autumn Durald Arkapaw, que também trabalhou em Pantera Negra: Wakanda para Sempre. Enfim, trata-se de um filme em que o entrosamento da equipe é notável e que Ryan conduz como um blues de Buddy Guy (que faz uma pontinha na cena entre-créditos): de vez em quando tem umas notinhas fora, mas ainda assim é uma obra-prima.

P.S.: Tem uma cena pós-créditos que quem gostou do filme, como eu, vai curtir.

P.S.2: Não vou postar teaser nem trailer pois eles têm muita revelação desnecessária. Aliás, façam como eu e não leiam mais nada além dessa resenha, nem assistam os trailers de Pecadores. Apenas vão pro cinema e assistam (no IMAX, se possível).

Escala de tocância de terror:

Título original: Sinners
Diretor: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Elenco: Michael B. Jordan, Miles Caton, Delroy Lindo
Origem: EUA
Ano de produção: 2024

* Filme visto em pré-estreia promovida pela Espaço Z no IMAX do UCI Recife

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CRÍTICA: Faça Ela Voltar (2025)

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Faça Ela Voltar

Dois anos após o sucesso de Fale Comigo, chega aos cinemas brasileiros o segundo filme dos irmãos Danny e Michael Philippou. Mais uma vez com distribuição da badalada A24, a dupla agora emplaca Faça Ela Voltar (Bring Her Back), um conto de horror suburbano que aborda o luto.

Após perderem o pai, os irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong) são colocados sob os cuidados de Laura (Sally Hawkins), uma ex-assistente social que faz de sua casa uma espécie de lar adotivo. Além deles, vive no local o menino Oliver (Jonah Wren Phillips), uma criança que não se comunica e possui hábitos estranhos.

Não demora para sabermos que Laura tem segundas intenções. Seu objetivo em acolher os órfãos é trazer o espírito da sua filha de volta e colocá-la no corpo de Piper. Para executar esse plano diabólico ela tem em mãos uma fita VHS que contém, literalmente, o passo a passo de um ritual satânico que, entre outras bizarrices, inclui até canibalismo.

Mitologia escatológica à parte, Faça Ela Voltar é mais sobre o sentimento da perda do que qualquer outra coisa. Mesmo retratada na maior parte do tempo como vilã metódica, Laura ainda deixa transparecer seu lado humano. Uma mulher que não aceita a partida da filha e que acaba deturpando seu amor icondicional, por puro desespero.

A dupla de irmãos também ganha sua cota de drama, quando Laura tenta jogar um contra o outro, pois Andy é um empecilho para o que ela planeja. Nada disso, porém, funcionaria se o trio de protagonistas não estivesse tão afiado. Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong conseguem passar credibilidade o tempo todo, seja nos momentos sóbrios ou nos sinistros.

O que nos leva para outro destaque do elenco: o pequeno Jonah Wren Phillips. A transformação pela qual seu Oliver passa ao longo da trama já o elevou ao status de mini ícone do terror do ano. São com ele as cenas mais perturbadoras, em ocasiões que fica quase impossível não desviar os olhos da tela.

A direção dos Philippou em Faça Ela Voltar segue competente, com ótimos enquadramentos e cuidado aos detalhes (preste atenção nos círculos). Como Piper é deficiente visual, a câmara brinca muito com imagens desfocadas, o que faz um paralelo interessante com a condição da personagem.

O roteiro, assinado em parceria com Bill Hinzman, consegue balancear bem o terror e o drama, no entanto deixa um gostinho de quero mais ao esconder muito sobre a origem do ritual. Mas isso é apenas eu reclamando de barriga cheia (o trocadilho fará sentido quando você assistir ao filme).

Escala de tocância de terror:

Título original: Bring Her Back
Direção: Danny Philippou e Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman
Elenco: Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong
Origem: Austrália

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CRITICA: Frankenstein (2025)

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Frankenstein

Quando saiu o anúncio de que a nova versão cinematográfica para FRANKENSTEIN concebida por Guillermo del Toro. Como fã do livro e do diretor, fiquei animado ao mesmo tempo que receoso por motivos de: Netflix.

FRANKENSTEIN (ou O PROMETEU MODERNO) foi um livro cabuloso escrito por Mary Shelly lançado em 1818 que basicamente cravou a junção de terror com ficção científica. Sua história já foi amplamente adaptada em diversas mídias desde então, sendo até apropriada por Hollywood como um dos monstros da Universal com o clássico de 1931 no qual Boris Karllof interpreta a criatura cujo o visual ficou como o definitivo no imaginário da cultura pop. Outra adaptação que ficou marcada foi a de 1994 com Robert DeNiro encarnando o retalho de corpos ambulante. Para além do cinema, o que não faltam são adaptações e versões, diretas ou indiretas desta icônica obra literária.

Estamos em 2025 e agora temos a versão de Guillermo del Toro (O LABIRINTO DO FAUNO, ESPINHA DO DIABO, HELLBOY, BLADE 2) cineasta que marcou sua filmografia com monstros carismáticos, memoráveis, icônicos e grotescos. Na trama, a grosso modo, acompanhamos Victor Frankenstein, um médico que é obcecado em vencer a morte a todo custo. Para isso ele não poupa esforços numa empreitada para desvendar como reanimar um corpo montado a partir de vários outros cadáveres. Quando enfim tem êxito, percebe que passou dos limites e precisa encarar sua monstruosa criação.

O filme é visualmente impecável. Dos cenários ao figurino, tudo é hipnotizante. Realmente o trabalho de direção de produção, figurino e efeitos são impressionantes. É tanta exuberância que até o gore fica bonito e é aí que a versão de Guillermo del Toro para FRANKENSTEIN se mostra não tão cabulosa como o esperado, ou prometido por sua filmografia. Na medida que o filme avança, a trama não aprofunda, fica redundante e estaciona no lugar comum de um filme apenas “lindo”.

Fica nítido que del Toro não busca desafiar a audiência em momento algum, escolhendo o maniqueísmo fácil, buscando até um didatismo que chega a ser verborrágico. Até visualmente, o cineasta, tão conhecido por trazer criaturas icônicas com visuais que fogem do padrão, prefere uma estética agradável para a criatura, ousando não entregar o esperado, mas ao mesmo tempo, optando pelo caminho mais fácil para o apreço do público pelo quebra-cabeça de defuntos ambulante. O que é até contraditório com toda nojeira apresentada até então, com corpos mutilados para experimentos em todo lugar.

O elenco em geral faz o que o longa pede. O ótimo Oscar Isaac entrega um Victor Frankenstein extremamente desequilibrado e detestável sem muitas nuances, reforçando o maniqueísmo simplório do roteiro. Mia Goth faz sua versão rebelde de Elizabeth, Jacob Elord encarna uma criatura que é basicamente ele mesmo mais pálido com “cicatrizes” perfeitas e o cultuado Christoph Waltz interpreta um personagem criado para esta versão que tem seus momentos, mas no fim acaba sendo só o próprio Christoph Waltz mesmo.

Há diferenças com a obra original, e tá tudo bem sendo até esperado. O foco aqui é mais no drama familiar entre Victor e seu pai, e de Victor com a criatura. O terror fica apenas para as cenas nojentas dos experimentos do doutor e do monstro, trucidando os tripulantes de um navio, por exemplo. Dividido em capítulos, del Toro traz também o ponto de vista da criatura que pretende gerar contrapontos de julgamento, mas poderia ter ido muito além. Assim seguimos nesta dinâmica dualista: de um lado, temos o doutor extremamente babaca, horrível e odiável; do outro, uma criatura inocente, bela e amável. Assim é fácil demais, hein, Guillermo?

Infelizmente, FRANKENSTEIN, de Guillermo del Toro, não vai muito além do belo, não desafiando para uma superação do horrendo, nem instigando reflexões mais profundas. Até em A FORMA DA ÁGUA, em que o cineasta pega mais leve, tem um certo grau de desafio lançado para sua audiência. Este só não é tão esquecível feito o seu A COLINA ESCARLATE por conta do peso da obra original. Aí fica o questionamento: foram estas escolhas dele ou imposições da Netflix? No fim, nem importa tanto, pois o que fica é a obra como foi concebida.

Escala de tocância de terror:

Título original: FRANKENSTEIN
Diretor: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Elenco: Oscar Isaac, Jacob Elordi, Christoph Waltz, Mia Goth
Origem: EUA, México

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