Críticas
ENTREVISTA: Cíntia Domit Bittar

A convite do Cine PE, Cíntia Domit Bittar veio ao Recife para conferir a exibição do seu filme “O Segredo da Família Urso” selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas do festival. O curta foi exibido a um grande público no Cinema São Luiz e agradou tanto ao público quanto ao júri do evento conquistando ao todo cinco prêmios: Melhor Filme no Júri Popular, Melhor Atriz pra Liz Comerlatto; Melhor Direção de Arte pra Dicezar Leandro; Melhor Edição de Som pra Gustavo de Souza e Melhor Direção pra Cíntia Domit Bittar.
Quem acompanha o Toca o Terror já sabe que “O Segredo da Família Urso” foi exibido na cidade ano passado em sessões conjuntas com o Janela Internacional de Cinema. Mas agora, aproveitando a passagem da diretora catarinense pela capital pernambucana, Jarmeson de Lima fez uma entrevista com ela sobre a produção do curta, suas exibições pelo país e os planos futuros da realizadora.

Quanto tempo durou desde a produção do curta até a sua finalização?
Cíntia Bittar – Do momento de aprovação em um edital até a finalização demorou mais ou menos um ano. Foi por conta também do tempo que passamos até encontrar a casa certa para filmar. Começamos as filmagens em junho de 2013 e foi exibido pela primeira vez em maio do ano passado em Porto Alegre.
E por que houve esta demora na escolha da locação?
Cíntia Bittar – É que a casa que pensamos pro filme tinha características bem específicas. Passamos um bom tempo buscando e pesquisando um espaço que se aproximasse ao que pensamos porque também não havia verba suficiente para criar um cenário e reconstruir este ambiente. Foi mais fácil mesmo pesquisar e encontrar o lugar. E nesse sentido a direção de arte é o que chama bastante atenção no filme.
Como você avalia a vida de “O Segredo da Família Urso” após um ano de lançamento?
Cíntia Bittar – Ele foi lançado há quase um ano no Fantaspoa onde ganhou prêmio de Júri Popular e de lá pra cá que ele ainda tem muito caminho para fazer em festivais e outros eventos. Ele vai participar do Kaliber 35 em Munique, vai pro Mexico no Cine en el Desierto e em breve vamos começar a conversar com alguns canais de TV por assinatura para licenciamento e exibição. Então acredito que ainda tem muito mais tempo de vida.
O que achou da recepção do filme no Recife dentro do Cine PE?
Cíntia Bittar – Foi bem interessante ver que havia bastante gente interessada nele. Interagiram bastante, deram gritinhos, riram um pouco, ficaram tensos e ele foi muito aplaudido no final. Teve quem gostou muito e gente que achou caricato, mas como ele tem um pouco dessa estética também então não sei o que podem ter pensado. No fundo, acho que as pessoas ainda não estão muito acostumadas em ver filmes deste gênero falados em português.

Você sente uma diferença de aceitação de um curta assim em festivais de cinema fantástico e outros que são mais genéricos?
Cíntia Bittar – Em festivais de gênero as pessoas costumam gostar bastante do filme. Tanto que no Fantaspoa ele ganhou o prêmio de Júri Popular. Mas mesmo assim os festivais como o Cine PE que não são específicos de gênero também poderiam adotar mais filmes assim também em sua programação e parar com este preconceito. Nesta mesma edição foi selecionado tanto “O Segredo da Família Urso” quanto “O Amuleto“, de Jefferson De. Por isso, acho que os festivais tem que apostar sim, diversificar um pouco e acreditar no gênero.
Depois de ter feito três curtas, tem um longa-metragem nos seus planos também?
Cíntia Bittar – Sim, mas só não produzi ainda porque o Prêmio Catarinense de Cinema 2013/2014 que ganhamos ainda está sendo contestado na Justiça. É o projeto para um longa de terror chamado “Quebranto”, num estilo bem diferente de “O Segredo da Familia Urso”, só que muito mais pesado. É um filme com elementos do folclore ilhéu de Santa Catarina com histórias de bruxas, mas com uma bruxa que não se vê. A trama fala de um engenheiro que tem a missão de urbanizar uma ilha que não tem ligação com o continente. É uma comunidade de pescadores em uma ilha que até hoje não tem luz elétrica, mas que a Prefeitura do local quer urbanizar e transformar em um ponto turístico. Pode esperar momentos de bastante suspense, planos longos e imagens tensas na floresta mas dentro de uma decupagem clássica, sem câmeras tremidas. (risos) Estamos só esperando as coisas se desenrolarem e a verba ser liberada para começarmos a filmar.
Com relação a utilizar elementos do Folclore Brasileiro para inspirar histórias de terror, por que acha que só agora os diretores nacionais estão se arriscando a fazer filmes assim?
Cíntia Bittar – Acho que sempre se teve esse conhecimento das lendas e do folclore nacional. O que acontece agora tem muito a ver com a popularização do cinema digital e o acesso que os produtores estão tendo para finalmente fazer estas histórias. Até porque é muito difícil captar recursos pra fazer um filme de gênero. Ninguém quer colocar sua marca em uma produção “sanguinolenta”. (risos) Então, agora com esse acesso ao cinema digital é possível ter mais infraestrutura. Daí agora as pessoas estão podendo falar mais daquilo que queriam falar e fazer.
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Críticas
CRÍTICA: Anaconda (2025)

A nostalgia é algo incrível. Lembro-me de assistir ao “Anaconda” original lá em 1997, no cinema e sozinho. Inclusive foi um dos primeiros filmes que vi sozinho. Para um menino de prédio como eu, e com uma mãe superprotetora, foi um avanço e tanto.
Lembro de ter adorado o filme e, quando saiu na locadora, aluguei tantas vezes que cheguei a decorar alguns diálogos. Anos depois, após várias sequências ruins (que vi todas!) foi anunciado esse reboot. Fui conferir com o pé atrás e olha… é ruim mesmo. Aliás, pior!

Na trama, acompanhamos um grupo de amigos adultos que têm em comum o amor pelo cinema de terror, principalmente pelo filme “Anaconda” original. Estagnados na vida, tanto financeira quanto emocionalmente, eles decidem refilmar de forma independente a obra querida, se lançando na Amazônia brasileira. Os problemas de produção são esquecidos quando a famosa cobrona se revela uma ameaça real.
Não me importei quando foi dito que seria uma sátira ao original, que, convenhamos, tirando toda a memória afetiva, é bem trash. A questão é que, mesmo tendo ideias interessantes, como os perrengues do cinema de guerrilha e o amor por isso, tudo é muito raso e esquecido rapidamente.

A parte cômica é extremamente datada, lembrando coisas do final dos anos 90 e início dos anos 2000. Os diálogos estão entre os piores que ouvi este ano, e olha que já assisti a cada bomba…
O terror foi totalmente descartado, e os ataques da cobra são muito sem graça. Ela mal aparece, e seus efeitos são dignos do início da geração do PS4. Para se ter uma ideia, a cobra original era bem mais realista. “Anaconda” está mais interessado em subtramas que não agregam nada e numa metalinguagem batida, que faria o Deadpool ter vergonha.

O elenco está tão perdido que dá até pena. Ninguém se destaca de fato, e até a participação de Selton Mello é tão over que é melhor esquecer. Finalizando: não vale a pena sair de casa para assistir a isso. Esperem sair em algum streaming.
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CRÍTICA: A Empregada (2025)

Com a presença de Sydney Sweeney e Amanda Seyfried, “A Empregada” (The Housemaid), filme inspirado no livro homônimo de Freida McFadden, não se esforça muito para ser um thriller que apresenta nada menos do que uma temática abordada inúmeras vezes no cinema na relação de patrões e empregados. Justiça seja feita, a história guarda boas reviravoltas e apesar da duração de mais de duas horas, a narrativa flui bem.
A trama começa quando vemos Millie (Sweeney) indo a mais uma entrevista de emprego em que se apresenta como doméstica para uma família ricaça. À primeira impressão, a garota, que tem boa aparência, possui boas qualificações profissionais e poderia estar apta a este ou outro trabalho, mas como possui antecedentes criminais não revelados e mora praticamente num carro, ela mesma não está muito animada com a possibilidade de contratação.

A patroa Nina (Seyfried), também à primeira vista, parece ser gente boa com uma filha e um marido que é símbolo do CEO moderno sempre ocupado, mas com tempo suficiente para se dedicar à família e sua mansão. É neste núcleo familiar que Millie vai lidar no dia-a-dia após ser recrutada fazendo o que pode para deixar o casarão impecável, descansando à noite no quartinho claustrofóbico que fica no sótão.
E não bastou nem um dia de trabalho para que a nova doméstica começasse a suspeitar que esta casa não era nem de longe o emprego que valesse o salário. Instável e com cobranças abusivas de serviços a fazer, Nina passa de patroa boazinha para megera em poucos segundos, escancarando ainda a hipocrisia que certas madames possuem quando estão ao lado de suas amigas ricas.

As situações vão se complicando e até mesmo cenas com forte insinuação sexual aparecem para revelar uma química entre Millie e o chefe de família Andrew (Brandon Sklenar). “A Empregada” vai levando a tensão ao limite, até que no meio do filme, rola o primeiro grande plot-twist para entendermos o contexto da história através de uma diferente perspectiva. É quando descobrimos que os segredos do passado dos personagens são bem mais comprometedores do que vimos na tela.
Até esse momento poderia ser “só” um thriller comum para ser exibido no Supercine num sábado à noite, mas o longa esconde propositalmente várias nuances e vai se revelando em camadas para chegar ao fim com sequências de tortura e vingança como forma de catarse. No fim das contas, mesmo que não escancare o fato desde o começo, o filme de Paul Feig também se mostra uma obra feminista e com apelo de sororidade.

“A Empregada” expõe não só relações de poder trabalhista, mas também de classe e de gênero. Aquilo que vemos é uma representação não apenas de uma obra de ficção, mas que nos transporta para um microuniverso de dominação econômica situado praticamente só em uma casa, mas a regra é igual em todo canto: manda quem pode e obedece quem precisa do salário.
Título original: The Housemaid
Direção: Paul Feig
Roteiro: Rebecca Sonnenshine e Freida McFadden
Elenco: Sydney Sweeney, Amanda Seyfried e Brandon Sklenar
Ano de lançamento: 2025
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Críticas
CRÍTICA: Pecadores (2025)

“Se você continua a dançar com o diabo, um dia ele vai te seguir até sua casa.”
Estas são as palavras do pastor Jedidiah para o filho que volta para casa, como na parábola do filho pródigo. Cansado, machucado e arrependido, ele é a testemunha dos acontecimentos que conheceremos ao longo da história de Pecadores (Sinners).
Mississippi, 1932. Os irmãos Elias e Elijah, mais conhecidos como Fuligem e Fumaça (interpretados por Michael B. Jordan), retornam à sua cidade natal após uma temporada em Chicago, com o objetivo de abrir um juke joint (um tipo de inferninho com comida farta, bebida, jogatina e muita música) e recomeçar suas vidas. Para a inauguração do estabelecimento, os gêmeos começam a reunir sua “trupe”.
É assim que conhecemos ‘Pastorzinho’ Sammie (o cantor Miles Caton, em sua estreia), o jovem do começo do filme, primo dos gêmeos, que, apesar da pouca idade, se mostra um talentoso bluesman. O pianista Delta Slim (Delroy Lindo, fazendo jus ao sobrenome como sempre), os Chow (Yao e Helena Hu), Cornbread (Omar Miller) e Annie (Wunmi Mosaku), ex-esposa de Fumaça e sacerdotisa hoodoo, que será responsável pela cozinha do lugar (e também por explicar aos demais os acontecimentos sobrenaturais que virão). Com a chegada inesperada de Mary (Hailee Steinfeld), ex-namorada de Fuligem, o núcleo está completo.

Ryan Coogler, que dirigiu anteriormente filmes como Creed: Nascido para Lutar e os Pantera Negra, não tem pressa em chegar às vias de fato: dedica a primeira hora de Pecadores a um drama com tons ensolarados e ritmo refinado.
O foco está na construção cuidadosa de um mundo marcado pela persistente sombra da escravidão e pelas desigualdades de um Sul dos Estados Unidos em que pessoas que acordam antes do amanhecer para colher algodão recebem o pagamento em moedas de madeira ou títulos de plantação, em vez de dinheiro; presidiários acorrentados trabalham nas estradas; e a Ku Klux Klan que pode, a qualquer momento, bater à sua porta.

Nessa realidade, o blues oferece uma fuga e uma cura. A música, que permeia todo o filme, é refúgio e ponte entre o passado e o futuro. Isso é demonstrado de forma magistral em um dos momentos mais belos — e ao mesmo tempo estranhos — do filme, durante a inauguração do empreendimento dos gêmeos. Mas tanta energia positiva, gerada por aqueles que são musical ou metafisicamente talentosos, acaba atraindo seu oposto. E é aí que entra o charmoso e ameaçador Remmick.
Remmick (Jack O’Connell) bate à porta de Bert (Peter Dreimanis) e sua esposa Joan (Lola Kirke) — que logo descobrimos serem membros da KKK —, pedindo ajuda e alegando estar sendo perseguido por “terríveis indígenas”. No entanto, tudo não passa de um disfarce para conseguir ser convidado a entrar na casa deles. O convite selará seus destinos (e também mudará o ritmo da história dali em diante).

Apesar de ser o primeiro trabalho totalmente autoral de Coogler, Pecadores também confirma parcerias de longa data. O compositor Ludwig Göransson e Michael B. Jordan estão presentes em todos os filmes do diretor. O mesmo vale para a montagem de Michael P. Shawver. A direção de fotografia é de Autumn Durald Arkapaw, que também trabalhou em Pantera Negra: Wakanda para Sempre. Enfim, trata-se de um filme em que o entrosamento da equipe é notável e que Ryan conduz como um blues de Buddy Guy (que faz uma pontinha na cena entre-créditos): de vez em quando tem umas notinhas fora, mas ainda assim é uma obra-prima.

P.S.: Tem uma cena pós-créditos que quem gostou do filme, como eu, vai curtir.
P.S.2: Não vou postar teaser nem trailer pois eles têm muita revelação desnecessária. Aliás, façam como eu e não leiam mais nada além dessa resenha, nem assistam os trailers de Pecadores. Apenas vão pro cinema e assistam (no IMAX, se possível).

Título original: Sinners
Diretor: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Elenco: Michael B. Jordan, Miles Caton, Delroy Lindo
Origem: EUA
Ano de produção: 2024
* Filme visto em pré-estreia promovida pela Espaço Z no IMAX do UCI Recife
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josesjunior
10 de maio de 2015 at 21:02
Seguindo seu blog. Achei as postagens inteiramente atraentes.
https://etempodepauta.wordpress.com/