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CRÔNICA: Phasma Terra Anglae

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Coisas estranhas da Ilha da Betinha
Por Karin von Schmalz
Southampton (So’ton, para os íntimos), ao sul da Inglaterra, é uma cidade portuária há mais de dois mil anos. Ocupada desde que trogloditas continentais invejosos viram a grama verdinha da ilha vizinha ao longe, lá pela Idade da Pedra Lascada, o ponto de encontro entre os rios Itchen e Test, bem protegido pela Ilha de Wight, tem histórias de brigas de morte e paixão. A área foi palco tanto de batalhas entre britânicos e romanos, quanto de britânicos e franceses, britânicos e víquingues e, mais recentemente, britânicos e alemães. Tanta morte e tanto terror real deu origem, é claro, a uma coleção quase interminável de histórias de aparições e fantasmas.
Muralha As muralhas de Southampton, há quase mil anos protegendo o goró inglês contra pinguços franceses.
Passeando-se no centro da cidade, dentro das bem-preservadas muralhas medievais, quase todo edifício tem seu(s) fantasma(s) particular(es). Há o jovial fantasma do pub “The Duke of Wellington”, uma construção do século XIII, cujos primeiros assombros foram registrados em 1570. Segundo o landlord atual, o moço que foi seqüestrado em frente ao bar para fazer parte de uma tripulação de piratas ainda volta ao local, e tem o excelente hábito de encher de novo os copos vazios dos convivas. Dizem que há também uma moça, que ali mesmo ficou na época que o prédio era uma hospedaria de onde saíam carruagens para Londres: o moço que tinha prometido casar-se com ela não apareceu e, no século XVIII, ela não poderia voltar para casa. Mandou-se voluntariamente para o outro lado e aparece, com olhos pidões, aos rapazes embriagados que vão aliviar-se nos escuros banheiros do bar.
Casa_Duke O velho “Duke of Wellington”, cheio de fantasmas, mas o rango é massa.
Bem próximo ao “Duke” fica a Tudor House, uma casa da Era Tudor perfeitamente preservada, com direito a vidros originais presos por tiras de chumbo e tapeçarias da época. A casa foi construída em 1492, no início da era das grandes navegações, quando Southampton era uma das cidades mais ricas da Grã-Bretanha. Em 1534, lá se hospedaram o rei Henrique VIII e sua mais famosa esposa, Ana Bolena, como convidados do Sir Richard Lyster, ministro da justiça da época. O casal real ficou no chamado “Quarto Verde”, ricamente decorado. Pois é nesse quarto que as mais horripilantes experiências têm lugar: um poltergeist agressivo puxa os cabelos das moças bonitas e chuta canelas de homens, portas batem sozinhas, objetos são atirados nas pessoas.
Hoje, a Casa Tudor é um museu, mas o Quarto Verde está fechado à visitação. Foram tantos sustos e semi-ataques cardíacos que a direção resolveu evitar um processo judicial e fechou o antro de fantasma. Alguns dizem que quem assombra lá é a própria Ana Bolena (que deve ser o fantasma mais ocupado da ilha, já que ela também assombra o Castelo de Buckingham, o de Windsor, o de Hampton Court, a Torre de Londres, etc., etc., etc.), com ciúme das mulheres e irritada com os homens. Testemunhas dizem que ela aparece nos corredores carregando uma lanterna e chorando. Coitada.
Tudor Ana Bolena, apesar de muito ocupada, acha um tempinho pra chutar canela e puxar cabelo na Tudor House, sempre que possível.
Durante a Guerra dos Cem Anos, a cidade era o estaleiro oficial do reino inglês, além de seu maior porto, por onde entravam centenas de milhares de garrafas de vinho da Normandia. Depois de algumas invasões dos franceses, que beberam tudo, os cidadãos resolveram proteger o precioso líquido construindo uma série de túneis e adegas profundas, fortificadas, por todo o centro. Essa Southampton subterrânea, que conecta toda a parte antiga da cidade, foi usada como abrigo anti-bombas durante a terrível blitz alemã durante a Segunda Guerra Mundial, que tinha o objetivo de destruir porto e estaleiro e acabar com a temível Royal Navy.
Os alemães sapecaram nada menos que 2.300 bombas de demolição e mais de 30.000 bombas incendiárias em mais de cinquenta ataques na cidade. Graças aos túneis e outros abrigos, “apenas” 650 pessoas morreram. Mas os funcionários dos hotéis e bares do centro, que usam esses locais como despensa, dizem que os gritos desesperados dos refugiados ecoam nas paredes úmidas e, de vez em quando, sombras escuras e geladas passam correndo pelos longos corredores. A grande maioria dos funcionários não desce sozinha, e muitos dizem que os espectros são mais antigos que a Blitz, já que os túneis foram usados inúmeras vezes na milenar história da cidade.
Batalha_UK Destacamento da bateria anti-aérea das docas de Southampton. Nota-se que os rapazes acharam os depósitos de vinho antes, e assim explica-se como os alemães conseguiram jogar tanta bomba na cidade.
Dois prédios do centro competem pelo título de “construção mais assombrada” de Southampton, ambos em sua rua principal, a High Street. O primeiro é o pub “Red Lion”, construído em 1148 e conectado aos túneis. No século XII, a hospedaria dividia o prédio com a corte de justiça, cujo aposento ainda é preservado no local. Lá foram condenados à morte algumas dezenas de pessoas, que saíam de lá diretamente ao cadafalso em frente ao portão da barra, o Bargate.
Dizem os fantasmólogos locais que o “Red Lion” tem 21 fantasmas frequentes, incluindo uma procissão de condenados à morte que sai do pub à meia-noite (noite de lua cheia, claro) e caminha alguns metros em direção do Bargate antes de desaparecer. Na adega, parte da rede de túneis, “mora” Bruce, um desertor enforcado no século XIV, que tinha tentado se refugiar por lá mas foi arrastado à força por soldados. E, num toque mais recente, muitos já viram uma velha senhora flutuando atrás do balcão do bar. Dizem que essa foi uma funcionária que, nos idos de 1950, foi buscar uma garrafa cheia na adega, caiu da escada e morreu, mas não sabe ainda.
Red_Lion
O “Red Lion” tem, além de uma carta de vinhos, um cardápio de fantasmas variados.
O outro antro fantasmagórico sotoniano é o Hotel “Dolphin”, a 50 metros do “Red Lion”. Construído sobre uma das principais adegas medievais, cujas enormes abóbadas pré-góticas remontam ao século XIII, o prédio tem partes em estilo gótico, Tudor, barroco, georgiano e vitoriano, num “samba do arquiteto doido” que deixa o conjunto todo com um aspecto ainda mais assustador. A mistura de estilos combina com a mistura de entidades conhecidas por lá: apesar de apenas seis ou sete fantasmas serem vistos com frequência, eles são muito mais ativos que a multidão do “Red Lion”. É só descer para a adega depois do por-do-sol para se encontrar com Tom, um senhor de meia-idade em trajes de trabalhador medieval, e seu companheiro sem nome, um jovem cabisbaixo e calado. Tom é jovial e gosta de interagir com os funcionários do hotel, que não descem sozinhos nem a pau.
No térreo, construído em 1890 sobre os velhos estábulos, muitos encontram Molly, uma camareira do hotel no início do século XIX que, por causa de um amor não-correspondido, tirou a própria vida em uma das baias. Os que a vêem descrevem uma aparição inusitada: andando de um lado a outro, com uma expressão sofrida, a moça só é visível da cintura para cima, pois suas pernas estão abaixo do assoalho moderno (o estábulo ficava em um nível mais baixo). No salão de festas, construído no século XVIII, é possível encontrar-se com Beau, um cavalheiro de peruca empoada e roupas ricas, que gosta de olhar pelas janelas semi-circulares para a rua, e pode ser visto pelos pedestres, quando as condições são propícias (depois que os bares fecham, por exemplo). No primeiro andar, uma senhora vitoriana, de saias engomadas e fitas, recentemente assustou tanto um gerente que o moço pediu demissão. Por fim, nenhum quarto do “Dolphin” escapa à visita do fantasma de um jovem brincalhão, que gosta de entrar nos quartos no meio da madrugada, abrir as portas dos guarda-roupas e roubar apenas um pé de meia.
Beau Amplia a foto e vê se dá pra ver o Beau numa das janelas.
Uma cidade com tanta história não pode escapar aos fantasmas do passado. Das docas de Southampton saíram barcos para o continente, expedições para o Novo Mundo, navios piratas, os invasores do Império Britânico, o Mayflower que levou os peregrinos à América e, famosamente, o mais trágico de todos os navios: o Titanic. A cidade oferece ghost tours que levam turistas aos locais mais assombrados, mas basta conversar com qualquer habitante para ouvir as histórias mais arrepiantes. Definitivamente, Southampton é o porto dos espíritos.

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CRÍTICA: Invocação Do Mal 4 – O Último Ritual (2025)

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Invocação Do Mal 4

Com “Invocação Do Mal 4 – O Último Ritual” (The Conjuring: The Last Rites) estamos chegando ao fim de uma das franquias mais rentáveis no universo do cinema de horror das últimas décadas. Ao todo tivemos nove filmes deste universo compartilhado de personagens e temáticas: quatro produções da série original, três da boneca Annabelle e mais dois da Freira. Um ‘invocaverso’ que daria inveja a qualquer um dos ícones de horror que já vimos anteriormente.

Bem, destes nove, apenas dois foram dirigidos pelo midas da Blumhouse, James Wan. Os outros sete ele terceirizou. E nesta terceirização de diretores, um deles se destaca: Michael Chaves, responsável pelo terceiro e quarto filme da franquia, além do horripilante (no mal sentido) “A Freira 2“. Em sua nova empreitada, Chaves executa uma obra inofensiva e capenga, sem conseguir sequer promover sustos eficientes, com jumpscares que são previsíveis de longe sem qualquer sutileza. Isso, claro, é uma façanha.

Mas vejam, ainda não peguei pesado. Poderia dizer que o filme é enfadonho e que me deixou entediado, ansioso pelo final, mas infelizmente esse era o capítulo da franquia mais longo com 2h15min. Nesse tempo todo, tivemos diversos flashbacks, diversos easter-eggs e uma série de acenos a personagens secundários e vilões que podem ‘ressuscitar’ a franquia em spin-offs daqui a um tempo. Tendo em vista que este “Invocação Do Mal 4” já detém a marca de maior pré-venda de um filme de terror na história, essa turma vai nos assombrar por vários anos.

A história em si não apresenta nada revolucionário. É uma trama que ocorre em um imóvel muito bem assombrado por espíritos zombeteiros num subúrbio de Pittsburg. O problema é que este caso ocorre na segunda metade da década de 80, época em que o casal Warren está cansado de enfrentar tantas assombrações.

E como se não bastasse o ceticismo da Igreja e do público numa época em que a Tv e o Cinema já tinham explorado ao máximo o tema sobrenatural, a família Warren começa a aumentar e junto a ela, aparecem ameaças à sua tranquilidade. Sim, este é um exemplar do que chamamos de “terror família”, em que o mal ataca o núcleo familiar e cada um dos seus integrantes começa a questionar a fé, mas sem deixar de lado o amor pelos seus parentes.

Neste estilo de “terror família” de “Invocação do Mal 4“, as ameaças não precisam fazer sentido. Bastam assustar rapidinho para criar cenas sem sentido, unicamente para preencherem o tempo. Algumas assombrações nem tem nome e depois são rapidamente esquecidas e substituídas por outras.

Mas quem está sempre lá, onipresente, aparecendo de forma gratuita em quase todos os longas da franquia é ela: Annabelle. Aqui também ela chama atenção, muito embora sua aparição pareça estar mais ligada a um pedido de fãs ou uma obrigação contratual do que algo que tivesse relevância para o desenrolar da coisa toda.

Bem, dentre as várias falhas e furos de roteiro, aponto uma aqui bem básica. Se no capítulo anterior, Lorraine Warren era uma super sensitiva que tocava até em cadáveres para entender o que estava ocorrendo no mundo dos mortos, agora ela meio que ignora esse dom e sequer percebe os perigos que rondam sua própria filha. A Judy Warren, que por sinal foi super ignorada nos capítulos anteriores, vira protagonista e centro das atenções neste epílogo que se encerra igual a uma novela com direito a casamento e funeral.

O fato é que fomos enganados pelo primeiro “Invocação do Mal” ao achar que seria algo interessante pro cinema de horror. O primeiro longa da franquia cria uma falsa expectativa ao retomar a temática clássica de eventos sobrenaturais em casas assombradas em meio a uma profusão de produções found-footage e sobre zumbis.

Claro, era um novo ciclo e a New Line/Warner soube capitalizar bem em cima do nicho. O que depõe contra o filme é que depois vieram obras muito melhores nesta mesma temática como um “Corrente do Mal” (It Follows) e um “Fale Comigo” (Talk to Me). E mesmo neste ano, o capítulo 4 da franquia não vai chamar atenção ou ser lembrado nas retrospectivas, tendo como concorrentes de peso títulos como “Pecadores” (Sinners) ou “A Hora do Mal” (Weapons).

Se for ver e tiver algum apreço pelo Invocaverso, veja só pela curiosidade em saber como tudo acaba, porque a “lição” que este “terror família” nos dá é que não há nada mais perigoso do que nossos próprios medos. Por isso é que não fugi do desafio e fui lá encarar de frente essa bronca. E estava certo em achar que não valeria a pena, só não esperava que fosse ser tão brega e medíocre assim.

Escala de tocância de terror:

Título original: The Conjuring: Last Rites
Diretor: Michael Chaves
Roteiro: Ian Goldberg, David Leslie Johnson-McGoldrick, Richard Naing
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mia Tomlinson
Ano de lançamento: 2025

* Filme visto em cabine de imprensa promovido pela Espaço Z no UCI Tacaruna Recife.

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CRÍTICA: Faça Ela Voltar (2025)

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Faça Ela Voltar

Dois anos após o sucesso de Fale Comigo, chega aos cinemas brasileiros o segundo filme dos irmãos Danny e Michael Philippou. Mais uma vez com distribuição da badalada A24, a dupla agora emplaca Faça Ela Voltar (Bring Her Back), um conto de horror suburbano que aborda o luto.

Após perderem o pai, os irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong) são colocados sob os cuidados de Laura (Sally Hawkins), uma ex-assistente social que faz de sua casa uma espécie de lar adotivo. Além deles, vive no local o menino Oliver (Jonah Wren Phillips), uma criança que não se comunica e possui hábitos estranhos.

Não demora para sabermos que Laura tem segundas intenções. Seu objetivo em acolher os órfãos é trazer o espírito da sua filha de volta e colocá-la no corpo de Piper. Para executar esse plano diabólico ela tem em mãos uma fita VHS que contém, literalmente, o passo a passo de um ritual satânico que, entre outras bizarrices, inclui até canibalismo.

Mitologia escatológica à parte, Faça Ela Voltar é mais sobre o sentimento da perda do que qualquer outra coisa. Mesmo retratada na maior parte do tempo como vilã metódica, Laura ainda deixa transparecer seu lado humano. Uma mulher que não aceita a partida da filha e que acaba deturpando seu amor icondicional, por puro desespero.

A dupla de irmãos também ganha sua cota de drama, quando Laura tenta jogar um contra o outro, pois Andy é um empecilho para o que ela planeja. Nada disso, porém, funcionaria se o trio de protagonistas não estivesse tão afiado. Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong conseguem passar credibilidade o tempo todo, seja nos momentos sóbrios ou nos sinistros.

O que nos leva para outro destaque do elenco: o pequeno Jonah Wren Phillips. A transformação pela qual seu Oliver passa ao longo da trama já o elevou ao status de mini ícone do terror do ano. São com ele as cenas mais perturbadoras, em ocasiões que fica quase impossível não desviar os olhos da tela.

A direção dos Philippou em Faça Ela Voltar segue competente, com ótimos enquadramentos e cuidado aos detalhes (preste atenção nos círculos). Como Piper é deficiente visual, a câmara brinca muito com imagens desfocadas, o que faz um paralelo interessante com a condição da personagem.

O roteiro, assinado em parceria com Bill Hinzman, consegue balancear bem o terror e o drama, no entanto deixa um gostinho de quero mais ao esconder muito sobre a origem do ritual. Mas isso é apenas eu reclamando de barriga cheia (o trocadilho fará sentido quando você assistir ao filme).

Escala de tocância de terror:

Título original: Bring Her Back
Direção: Danny Philippou e Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman
Elenco: Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong
Origem: Austrália

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CRÍTICA: Prédio Vazio (2025)

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Prédio Vazio

“Quer viver um sonho lindo que eu vivi?
Vá viver a maravilha de Guarapari”

Assim diz a letra da antiga valsinha de Pedro Caetano interpretada por Nuno Roland. Cidade do litoral do Espírito Santo, Guarapari fica bastante animada no verão, especialmente durante o carnaval onde costuma ser muito visitada por turistas. Em baixa temporada acaba sendo uma ótima pedida para curtir alguns dias de descanso, comer um peixe e tomar uma cerveja num quiosque à beira do mar.

E é buscando viver o sonho guarapariense que Marina (Rejane Arruda) resolve juntar-se ao companheiro para curtir a folia de momo no início de “Prédio Vazio“. Porém o sonho começa a virar pesadelo ao se hospedar em um antigo e decrépito edifício onde nada funciona… Enquanto conversa ao telefone com a filha, Marina presencia a morte de uma antiga moradora do prédio e, para completar, descobre que o parceiro a traiu. Ao entrar em uma violenta briga com ele, o embate só não tem um final trágico graças à intervenção da zeladora Dora (Gilda Nomacce) que nocauteia o brutamontes com um martelo.

Preocupada com a mãe, Luna (Lorena Corrêa) decide ir para Guarapari e o simpático e apaixonado Fábio (Caio Macedo), mesmo contra a vontade dela, vai junto. Lá chegando, dão de cara com a porta do Edifício Magdalena que, com o final da temporada, parece completamente vazio. Dando um “jeitinho” de conseguir entrar no prédio o casal vai descobrir da pior forma que, contrariando o título do filme, o prédio de vazio não tem nada!

O diretor Rodrigo Aragão, que o Toca o Terror acompanha a obra há muito tempo (a gente exibiu A Noite do Chupacabras em 2013!) e também já teve o prazer de encontrar e bater papo algumas vezes, dessa vez resolve contar uma história mais urbana, ambientada em sua cidade natal.

Rodrigo, entre quilos de maquiagem e galões de sangue falso, gosta de abordar algumas temáticas sociais e em Prédio Vazio não fez diferente. O filme além de ser um conto de fantasmas, também é uma crítica ao desmatamento e consequente crescimento urbano desenfreado. “Um desperdício de espaço” como diz o motorista que leva Luna e Fábio ao amaldiçoado edifício.

O decadente Edifício Magdalena, fruto da direção de arte de Priscilla Huapaya, remete aos filmes de Bava e Argento, com seus vitrais coloridos dando deixa para a fotografia de Alexandre Barcelos usar uma paleta com tons esverdeados e/ou avermelhados nos personagens. O prédio, obviamente, também traz similaridades ao elevador e os corredores de “O Iluminado“, de Stanley Kubrick. Algumas das mortes (das agora almas atormentadas) que nos são apresentadas por flashbacks ou pelo prólogo, como é o caso do simpático casal de velhinhos, impactam pela caprichada maquiagem e efeitos práticos com a assinatura do parceiro de longas datas, Joel Caetano, e supervisionadas pelo próprio diretor.

Algumas coisas infelizmente não funcionam tão bem em “Prédio Vazio“: a montagem, que só engata no último terço do filme, quando a obra abraça aspectos mais surreais. Em relação ao elenco, o casal protagonista não tem uma química muito boa apesar dos personagens funcionarem de forma independente e algumas escolhas estéticas também não me agradaram (aí é questão pessoal). Mas isso não atrapalha o conjunto da obra que é mais uma mostra do comprometimento, esmero e amor ao gênero que o diretor tem mostrado em toda sua carreira.

Curiosidades: O filme faz parte de um projeto chamado “Filme-Escola” onde Aragão aproveita a realização da obra para ensinar um grupo de alunos a fazer cinema (dessa vez foram mais de 100 pessoas!). Os fãs poderão perceber vários easter eggs remetendo a outros filmes do “Aragãoverso”, como “O Cemitério das Almas Perdidas” e “A Mata Negra“. Houve ainda a estreia da filha mais nova do casal Rodrigo Aragão e Mayra Alarcón (que também faz uma pontinha em uma cena em que sai do elevador), Alícia Margarida Aragão.

Prédio Vazio, que estreou no 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, recebeu o Prêmio Retrato Filmes de distribuição no valor de R$ 100.000,00 (Cem mil reais), garantindo sua chegada aos cinemas no próximo 12 de junho. Prestigiem!

Escala de tocância de terror:

Título original: Prédio Vazio
Diretor: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Elenco: Rejane Arruda, Gilda Nomacce, Lorena Corrêa e Caio Macedo
Origem: Brasil
Ano de produção: 2024

* Filme visto em pré-estreia promovida pela Sinny Comunicação e Retrato Filmes

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