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Críticas

CRÍTICA: Begotten (1991)

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[Por Aroldo Alves]

Se você assistir a Begotten sem saber o nome dos personagens nem a história representada, é mais provável que o filme torne-se um longo, tedioso teste de Rorschach cinético. É preciso certa motivação do testado para que um teste de Rorschach tenha alguma graça (ou você acha que aquilo ali é a valer? É só pro psiquiatra se divertir com a sua cara, rapaz) e, pois, um teste assim entregue sem contexto torna-se logo enfadonho. Você sabe que seu médico fanfarrão quer saber alguma coisa sua, então aparecem aquelas imagens simétricas mas amorfas e você começa a inventar alguma coisa (é um morcego! Eu sempre digo que é um morcego – o que será que eles pensam disso?). Não vou digressionar sobre a capacidade do teste de revelar a psique, mas garanto que, se você tiver que tentar uma análise de si próprio qualquer, Begotten é mais jogo, mesmo que você não descubra nada. Tanto quanto no filme quanto no teste, é muito fácil se esquivar e perder a paciência e não querer colaborar. Mas, se for noite de sexta, assista a Begotten.
O óbvio sobre Begotten é que se trata de um filme experimental. É correto, mas não serve para nada. Experimental por que, experimental como, experimental para quê? – essas são as questões pertinentes. O segundo óbvio é que, ao seu modo peculiar, trata-se de um filme de horror. Bem, tenho todo o respeito do mundo para com os tropos sacramentados do cinema, para com gêneros com códigos bem definidos, porque, se a criação cinematográfica é sempre parida, na essência, pela idiossincrasia do criador; o sustentáculo do estilo é uma força coletiva inescapável, seja quando se a abraça, seja quando é rechaçada ou subvertida. Begotten é um filme de horror apenas sob a última perspectiva, se considerarmos que filmes de horror convencionais dependem de lugares-comuns como a escuridão em oposição à luz, o suspense, o mórbido e o estranho no seio do familiar, a espera pelo assombroso latente que, a partir de certo ponto, fará ruir a sanidade da história contada. Filmes de horror, tal qual classicamente se os concebem, vivem na luz, vivem no espaço familiar, e é pelo antagonismo do mau, do desconhecido, do fantástico, que se constroem para a percepção de quem os frui. Isso não é mais ou menos claro?
Begotten começa já nas trevas, ou melhor, no cinza pesado. Não há escapatória em Begotten, a não ser fingir que não se está vendo. Assim como no teste de Rorschach, independentemente de sua validade clínica, a realidade é uma outra que as formas comuns da narrativa, seja a da realidade crua, seja a da cinematográfica mainstream.
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Então eu retorno ao ponto: é necessário saber quem são essas formas humanas que aparecem. O filme é um snuff movie do início dos tempos, conforme seu autor parece querer representar. A cena inicial mostra o Deus dessa história, o Deus Que Se Mutila, com uma máscara banhada de sangue, convulsionando como um epilético, patético, terrível, atingindo o próprio estômago com um instrumento de corte, estômago do qual saem sangue e vísceras. Uma boa olhada e percebe-se que são panos apenas, mas não são panos apenas. Se você estiver disposto, e este é um filme que precisa de sua boa vontade para entregar o melhor de suas premissas, os panos serão de fato as vísceras desse ser patético e ao mesmo tempo amedrontador, porque ele não tem rosto, só olhos e uma boca aberta que sangra. O filme é um documentário sui generis: não é um documentário, mas ressoa mais real que o mais investigativo dos documentários. O filme é um documentário de uma realidade fictícia que se torna cada vez mais real, porque é certo que os corpos estão lá, o tremor, as convulsões, a sujeira, o cinza, e tudo o mais de que falarei em breve.
Assim como o som de Heroin, do Velvet Underground, é de um cinza pesado, sujo, Begotten tem essa mesma característica da indefinição. Boa parte das cenas precisa ser assistida com rigor dos olhos e abertura da imaginação para ser entendida, e há momentos em que qualquer representação clara torna-se impossível na imagem, mas é aí que boa parte da beleza reside, quando não se entende com clareza o que acontece, como quando a estática suja da televisão começa a criar formas na imaginação, e é assim no mundo: quando o som não é tão definido, a imagem não tão perfeita, as coisas tomam de assalto nossa mente com força. É isso, aliás, uma das essência do horror também, seja cinematográfico como de outro modo. É no meio da sujeira e da dissonância que o Velvet Underground criou sua psicodelia singular, como em Heroin e Venus in Furs, músicas etéreas, oníricas, e também pesadas e angustiantes. Cores criadas a partir de um cinza intenso, como nos blues originais, uma voz, a batida de um pé e um violão repetindo acordes pentatônicos. Alguém falou sobre isso dia desses e me esqueci de manter anotado para futura referência, mas a coisa ia assim, mais ou menos: o indefinido, a imagem caótica, a estática, o preto e branco (em oposição ao colorido) reforçam a realidade das coisas, e não há nada de paradoxal nisso. Imagens coloridas estão mais acabadas e tendem a ser mais dadas à interpretação (é claro que não é tão simples assim).
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Outro lugar-comum sobre Begotten, tão verdadeiro quanto o de ser um filme experimental, é que se trata de algo a ser experienciado mais que compreendido por análise ou qualquer outra manobra do intelecto. Bem, filmes são para ser experienciados, em um grau ou outro; filmes são peças multimídia, peças sonoras e visuais com uma narrativa mais ou menos fácil de ser remontada/retrabalhada na cabeça do espectador. A ideia de Begotten é extremamente poética, no entanto, e se desvia dos padrões cinematográficos costumeiros de uma forma que põe o filme em um gênero à parte. Não como um Godard, que questiona a clareza narrativa valendo-se dos mesmos carcomidos signos através de uma nova apropriação, mas pegando a narrativa, ou diegese, e a transformando quase que na única mola propulsora do filme.
A ideia é que, nesse início dos tempos que nenhum de nós ouviu falar, porque essa é uma pré-história, de algum modo uma câmera pré-histórica foi capaz de acompanhar os fatos e apresentá-los tal qual aconteceram, não como um documentário, que é sempre representação (documento), mas como um olho que acompanha tudo. Por isso tudo é lento e caótico; lento e caótico como são os eventos reais, em oposição aos eventos resumidos, editados, das telas, por mais realistas que sejam. O único estratagema de Merhige para nos apresentar uma ideia da passagem do tempo que não apenas a ação crua são os closes no sol (ou na lua, não se sabe), indicando que o que vemos são fragmentos de uma realidade original que não se passa necessariamente no mesmo tempo fílmico, mas que tem seus fatos mais notórios apresentados tal como aconteceram.
Então, voltando ao que se passa, eis que o Deus Que Se Mutila morre, e debaixo de suas roupas uma mulher nasce, vestindo uma máscara relativamente moderna. O cadáver e a nova vida estão em uma cabana com um relógio, uma extemporaneidade certamente intencional, porque esta realidade é uma outra que a nossa história, é uma realidade da mente de um homem, uma ficção sentida de modo intenso, e o fato de máscaras de bailes franceses ou caixões estarem ali não adultera o valor “histórico” e “documental” das cenas. A mulher, que é a Mãe Terra, masturba o deus morto e espalha seu esperma em sua vagina (não fique excitado, tudo o que se vê são pelos pubianos em close). Dela, nasce o Filho da Terra, um ser patético, epilético, indefeso, incapaz de se levantar do chão. Para que eu contaria mais? Tudo está disponível na Internet. Procure.
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Begotten pertence a um gênero de sua própria liga. Assim como outros experimentos, como Amnésia ou A Bruxa de Blair, filmes cuja força reside em si (óbvio) mas também na apresentação de um paradigma cuja concretização futura em outras obras é quase uma impossibilidade (não se exasperem, a contradição é intencional e faz até sentido), as excentricidades de Begotten não são fruto de uma subversão estilística ou de uma abordagem profundamente singular de uma ideia já disponível, mas de uma ruptura mesma com a tradição. A Bruxa de Blair ajudou em muito a fomentar um subgênero de documentários falsos de horror, vertente da qual tem saído coisas fantásticas como o primeiro [REC], mas é impossível replicar com êxito a jogada de marketing de fazer passar o filme como real, e era essa ideia talvez o conceito mais interessante do filme. É pois, assim como Amnésia, aum filme de sua própria particularíssima liga.
O Cinema é pródigo nisso, em criar experimentos que não retornam nem merecem ser retornados, ao contrário da possibilidade de repetição de truques à disposição de outras formas de arte, porque é da natureza do cinema uma prodigalidade em criar ideias e esgotá-las através da ação do público, que, de certo modo, se blinda e exige novas trucagens (em alguns casos, novos engodos). Isso não é mal. O cinema é essencialmente tecnológico e essencialmente dependente de novidades, e o universo criativo do homem é capaz de criar as menores variações e transformá-las em criações artísticas renovadas e muito válidas. Diferentemente da arte pictórica (mas não muito da música e dos happenings), o cinema conforma-se bem às vicissitudes e aos caprichos do artista: essa é uma de suas essências. Não que não possa haver um novo Begotten, um novo Amnésia…mas…o que você realmente acha?
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Então Begotten é um filme de horror? Sim e não. É experimental? É, mas e daí? Deve ser experienciado? Sim, mas não sem um cérebro que, ao fundo, analise o movimento de corpos em decomposição, de violência primal, de morte, de sujeira, da saturação louca do preto total e do branco total (técnica que demorou muito tempo para ser aplicada ao filme). Experienciar, aliás, é algo mais que se render aos impulsos sensoriais. É imersão na narrativa, mas numa narrativa feita de corpos, de sangue, de lentidão e de um horror primitivo que não é o mesmo horror dos filmes de Drácula ou do J-Horror. O horror de Begotten não se insere na dicotomia do Bem e do Mal, porque é apresentado em uma “época” em que esses conceitos não faziam sentido algum. Os vilões da história, os nômades que aprisionam o Filho da Terra e estupram a Mãe Terra, são a primeira seita, a primeira religião mesma, e como tal, como religião primeva, são completamente amorais. Num mundo sem prazeres clássicos, sem sublimação, tudo o que pode haver é catarse e desejo bruto.
É da catarse e do desejo bruto, do horror aleatório que, ao final, o mundo ganha a sua primeira redenção (Jesus Cristo fodido para dar vez a um mundo melhor? A contradição como base do embate entre mal e bem? Tudo isso é válido de ser apontado, conforme Elias deixa no ar quando diz que sua história é em parte uma revisionismo do Gênesis e de outras narrativas mitológicas e, por conseguinte, encontra ecos no Novo Testamento também, pelo menos para mim, que gosto de viajar na maionese).
Direção: E. Elias Merhige
Roteiro: E. Elias Merhige
Elenco: Brian Salzberg, Donna Dempsey, Stephen Charles
Origem: EUA
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=fadhsuINHfk?feature=player_detailpage&w=640&h=360]

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0 Comments

  1. yuri

    12 de março de 2014 at 16:22

    normal,nem tem suspense :/

  2. markin

    26 de agosto de 2014 at 11:11

    gostei da descrição do filme, melhor do que o próprio filme

  3. Carol

    16 de setembro de 2014 at 00:18

    Nossa, que análise foda. Parabéns, muito profunda. Eu não consegui assistir mais do que 2 minutos do filme, fiquei com pânico. Mas vou assistir ainda e volto para ler novamente a resenha com mais atenção.

  4. Sarah Connor

    18 de fevereiro de 2015 at 17:32

    Começa um sonzinho legal,umas imagens deturpadas…beleza…do nada BANG!!!!! Aparece “Deus”se mutilando…cara, essa cena fica na tua cabeça de tao bizarra, dá uma agonia…visualmente falando o negócio impressiona, dá um mal-estar. Como a Carol falou, dá panico. Acho que o diretor se propos a algo diferenciado e cumpriu o que prometeu. Tem que ser maluco pra escrever e filmar tal conteudo…e coragem.

  5. Juliana Beatriz

    12 de maio de 2018 at 01:43

    você relacionou esse filme com a angústia da música “Heroin”. vou assistir agora!!! ^^

  6. Mandi

    9 de junho de 2019 at 13:56

    Fui pesquisar sobre filmes perturbadores e esse foi o único da lista qual eu realmente tive interesse. Fui procurar mais sobre e felizmente encontrei a sua resenha que, cá entre nós, é a melhor até o atual momento. Existem várias teorias para esse filme estranho, no sentido mais duro da palavra. Após ler a sua resenha a vontade de assisti-lo cresceu consideravelmente. Mesmo sem ter experimentado o filme na massa, enxergo as imagens, a descrição e a proposta subjetiva do filme um tanto grotesca. Talvez esse ponto seja o que mais tenha me chamado atenção.
    Gostaria de considerar o fato de que você escreve muito bem.
    Até.

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CRITICA: Frankenstein (2025)

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Frankenstein

Quando saiu o anúncio de que a nova versão cinematográfica para FRANKENSTEIN concebida por Guillermo del Toro. Como fã do livro e do diretor, fiquei animado ao mesmo tempo que receoso por motivos de: Netflix.

FRANKENSTEIN (ou O PROMETEU MODERNO) foi um livro cabuloso escrito por Mary Shelly lançado em 1818 que basicamente cravou a junção de terror com ficção científica. Sua história já foi amplamente adaptada em diversas mídias desde então, sendo até apropriada por Hollywood como um dos monstros da Universal com o clássico de 1931 no qual Boris Karllof interpreta a criatura cujo o visual ficou como o definitivo no imaginário da cultura pop. Outra adaptação que ficou marcada foi a de 1994 com Robert DeNiro encarnando o retalho de corpos ambulante. Para além do cinema, o que não faltam são adaptações e versões, diretas ou indiretas desta icônica obra literária.

Estamos em 2025 e agora temos a versão de Guillermo del Toro (O LABIRINTO DO FAUNO, ESPINHA DO DIABO, HELLBOY, BLADE 2) cineasta que marcou sua filmografia com monstros carismáticos, memoráveis, icônicos e grotescos. Na trama, a grosso modo, acompanhamos Victor Frankenstein, um médico que é obcecado em vencer a morte a todo custo. Para isso ele não poupa esforços numa empreitada para desvendar como reanimar um corpo montado a partir de vários outros cadáveres. Quando enfim tem êxito, percebe que passou dos limites e precisa encarar sua monstruosa criação.

O filme é visualmente impecável. Dos cenários ao figurino, tudo é hipnotizante. Realmente o trabalho de direção de produção, figurino e efeitos são impressionantes. É tanta exuberância que até o gore fica bonito e é aí que a versão de Guillermo del Toro para FRANKENSTEIN se mostra não tão cabulosa como o esperado, ou prometido por sua filmografia. Na medida que o filme avança, a trama não aprofunda, fica redundante e estaciona no lugar comum de um filme apenas “lindo”.

Fica nítido que del Toro não busca desafiar a audiência em momento algum, escolhendo o maniqueísmo fácil, buscando até um didatismo que chega a ser verborrágico. Até visualmente, o cineasta, tão conhecido por trazer criaturas icônicas com visuais que fogem do padrão, prefere uma estética agradável para a criatura, ousando não entregar o esperado, mas ao mesmo tempo, optando pelo caminho mais fácil para o apreço do público pelo quebra-cabeça de defuntos ambulante. O que é até contraditório com toda nojeira apresentada até então, com corpos mutilados para experimentos em todo lugar.

O elenco em geral faz o que o longa pede. O ótimo Oscar Isaac entrega um Victor Frankenstein extremamente desequilibrado e detestável sem muitas nuances, reforçando o maniqueísmo simplório do roteiro. Mia Goth faz sua versão rebelde de Elizabeth, Jacob Elord encarna uma criatura que é basicamente ele mesmo mais pálido com “cicatrizes” perfeitas e o cultuado Christoph Waltz interpreta um personagem criado para esta versão que tem seus momentos, mas no fim acaba sendo só o próprio Christoph Waltz mesmo.

Há diferenças com a obra original, e tá tudo bem sendo até esperado. O foco aqui é mais no drama familiar entre Victor e seu pai, e de Victor com a criatura. O terror fica apenas para as cenas nojentas dos experimentos do doutor e do monstro, trucidando os tripulantes de um navio, por exemplo. Dividido em capítulos, del Toro traz também o ponto de vista da criatura que pretende gerar contrapontos de julgamento, mas poderia ter ido muito além. Assim seguimos nesta dinâmica dualista: de um lado, temos o doutor extremamente babaca, horrível e odiável; do outro, uma criatura inocente, bela e amável. Assim é fácil demais, hein, Guillermo?

Infelizmente, FRANKENSTEIN, de Guillermo del Toro, não vai muito além do belo, não desafiando para uma superação do horrendo, nem instigando reflexões mais profundas. Até em A FORMA DA ÁGUA, em que o cineasta pega mais leve, tem um certo grau de desafio lançado para sua audiência. Este só não é tão esquecível feito o seu A COLINA ESCARLATE por conta do peso da obra original. Aí fica o questionamento: foram estas escolhas dele ou imposições da Netflix? No fim, nem importa tanto, pois o que fica é a obra como foi concebida.

Escala de tocância de terror:

Título original: FRANKENSTEIN
Diretor: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Elenco: Oscar Isaac, Jacob Elordi, Christoph Waltz, Mia Goth
Origem: EUA, México

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CRÍTICA: Predador – Terras Selvagens (2025)

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Predador - Terras Selvagens

Dan Trachtenberg se empolgou tanto com a franquia Predador que, só em 2025, o diretor lançou duas produções sobre o alienígena caçador. Depois da animação Assassino de Assassinos, temos agora Predador: Terras Selvagens (Predator: Badlands), que chega aos cinemas nesta quinta-feira.

Para quem não lembra, Trachtenberg já havia revivido o personagem em O Predador: A Caçada, mantendo a mitologia criada nos dois primeiros filmes (com Arnold Schwarzenegger, em 1987; e Danny Glover, em 1990). A pegada no mais recente longa, porém, dá um ‘duplo twist carpado’.

Ao invés de antagonista, o Predador é quem acompanhamos em Terras Selvagens. Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi) é um jovem extraterrestre da raça Yautja. Como todo membro dessa espécie, ele precisa passar por um ritual de caça para obter lugar em seu clã.

Dek, no entanto, não é um dos mais atléticos da sua linhagem. Assim, para provar de uma vez por todas o seu valor como guerreiro, ele resolve enfrentar Kalisk, um super monstro que é supostamente imortal.

O problema é que esse bichão vive em um planeta onde existe uma centena de ameaças tão grandes quanto ele. Nessa saga, Dek vai contar com a ajuda de Thia (Elle Fanning), uma androide avariada que ele encontra no meio do caminho.

A ideia de acompanhar o ETzão numa jornada nem é tão novidade (algo parecido já havia acontecido no famigerado Alien vs. Predador). Mas vê-lo alçado à categoria de anti-herói. lutando por justiça e fazendo amizades é bem esquisito.

Antes de qualquer coisa, falta carisma a Dek (e nem é pela clássica feiura da criatura). Pela personalidade do Predador, estabelecida ao longo dos anos, não é possível lhe atribuir características clássicas de protagonista, como senso de humor ou transparência emotiva.

A interação com a sintética Thia tenta dar uma carga dramática à história, e por vária vezes servir de alívio cômico, só que fica bem deslocado. Também é preciso muita força de vontade para acompanhá-lo numa peregrinação que culminará apenas num objetivo pessoal.

Predador: Terras Selvagens, todavia, não é um estudo de personagem, então vamos à ação e efeitos especiais. Infelizmente, também não são lá grande coisa. O planeta Genna é até decepcionante, o design de produção foi bem preguiçoso na criação da fauna local e nenhum dos monstrengos é muito marcante. Nem a conexão com a franquia Alien (a Weyland-Yutani aparece como oponente) enche os olhos, poderia ser qualquer megacorporação do mal que tava ok.

Não dá para dizer, apesar de tudo isso, que Dan Trachtenberg estragou a franquia. Mas, ao final, fica muito óbvio que a intenção do realizador é levar a trama para uma espécie de aventura espacial, numa vibe mais próxima de filme de super herói do que de terror sci-fi de carnificina. Eu prefiro o Predador caçando e desmembrando humanos do que pagando de íntegro, porém fica a critério de cada um.

Escala de tocância de terror:

Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Patrick Aison
Elenco: Elle Fanning, Dimitrius Schuster-Koloamatangi e Reuben de Jong
Origem: EUA

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CRÍTICA: Bom Menino (2025)

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Bom Menino

O filme que viralizou nos últimos meses, graças ao seu protagonista canino em um filme de terror, estreia em pleno Halloween, nos cinemas nacionais. No entanto, “Bom Menino” (Good Boy) não se resume apenas à fofura do doguinho (e adianto que ele é muito fofo mesmo).

Na trama, acompanhamos Indy, um cachorro leal que se muda com seu tutor para uma casa no meio da floresta, após o homem enfrentar um sério problema de saúde. O cão percebe imediatamente que há algo de errado com o local, e, com o tempo, essas manifestações sobrenaturais colocarão suas vidas em perigo.

Indy é, indiscutivelmente, a estrela do filme. Garanto que muitos atores gostariam de ter metade de seu carisma e presença de tela. Em poucos minutos de projeção, já estamos torcendo por ele. O trabalho de adestramento foi impecável, e é difícil imaginar o esforço que o realizador, que também é o tutor real do animal deve ter tido. Desde as cenas de afeto até as de terror, nota-se o cuidado e a boa realização em “Bom Menino“.

O diretor acerta ao usar enquadramentos e jogos de câmera quase sempre na perspectiva de Indy. Em alguns momentos, me lembrei do desenho dos Muppets Babies, em que nunca vemos o rosto da babá, embora aqui, em planos mais convencionais, sejam mostrados vislumbres ou o rosto inteiro dos personagens humanos.

O terror aqui é mais contido: uma sombra aqui e ali, vultos passageiros, mas sem o uso de trilha sonora alta ou aparições exageradas. O ritmo é lento, e a ambientação vai da casa inicialmente decrépita à mata semienevoada, com suas árvores sinistras.

Temos um longa envolto a uma atmosfera de desconforto e medo. Não espere sustos frequentes e jumpscares. Eles existem, mas em quantidade bem menor.

Apesar de em termos técnicos, a coisa funcionar, nem tudo são flores. Mesmo sendo um filme curto, com pouco mais de 70 minutos, é possível notar que a história seria mais bem contada em um curta ou média-metragem. Existem recursos narrativos que se repetem pelo menos três vezes em uma clara tentativa de esticar a duração.

A trama é a clássica da casa mal-assombrada, e a verdadeira inovação está em ser contada sob a perspectiva do cachorro. É algo eficiente que não teria o mesmo destaque se fosse narrada por humanos.

“Bom Menino” é uma agradável surpresa neste ano, dando novo fôlego a uma história que já vimos inúmeras vezes. Indy é um poço de carisma e fofura. Podem assistir sem medo, mas não espere um filme de gritos e sustos constantes.

Escala de tocância de terror:

Título original: Good Boy
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Ben Leonberg e Alex Cannon
Elenco: Indy, Shane Jensen, Arielle Friedman

* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z

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