Connect with us

Críticas

CRÍTICA: A Chorona (2019)

Published

on

[Por Gilson Moura Henrique Junior]*

Pôster de

A lenda da Chorona é muito popular no México, na América Central e em áreas do norte da América do Sul e no sul do Texas. Trata-se da história de uma mulher vítima de violência e abusos domésticos que mata seus filhos após descobrir a infidelidade de seu marido e que depois se mata, tornando-se um espectro vingativo que vaga nas proximidades de corpos d’água. A este espectro, que supostamente assombra a América desde antes da invasão Espanhola, são atribuídas maldições que causam infortúnios a quem ouve seu choro e até sequestros de crianças.

Cena de

Com esse currículo, era bastante óbvio que seriam feitos filmes a respeito da moça. Em 1961, o cineasta Rafael Baledón dirigiu seu “A Maldição da Chorona” (La maldición de la llorona), produção mexicana que talvez seja a melhor produção sobre a lenda, embora a produção tenha optado por uma licença poética bastante ampla na adaptação. Foi bem elogiado pela crítica por sua direção e atuação que criam um filme gótico com um horror sutil e eficiente.

A lenda ainda foi adaptada para uma animação da Netflix, “A Lenda da Chorona” (2011), virou uma produção da trupe de James Wan/Blumhouse, “A Maldição da Chorona” (2019) e também em 2019 ganhou uma adaptação que quase rivaliza com a obra de 1961. Neste caso, a lenda se insere em um subtexto sobre ditadura, memória, genocídio e esquecimento. Estamos falando do guatemalteco “A Chorona” (La Llorona).

Cena de

Dirigido por Jayro Bustamante, a obra trata de Enrique Monteverde, general que está sendo julgado por genocídio devido à sua atuação como figura de proa da ditadura que governou o país. Embora negue as acusações, ele começa a ouvir uma mulher chorando na sua rica mansão até o ponto em que pega sua arma e quase mata sua esposa ao confundi-la com a mulher. Contido por seu segurança Letona e pela empregada/filha fora do casamento, a indígena Valeriana, o general não teria mais sossego.

Cena de "A Chorona"

 

O ex-militar aposentado, que vive na casa com familiares e os empregados todos de ascendência indígena, vê sua criadagem toda pedir demissão com medo da casa estar amaldiçoada. Diante da situação, ficam só Valeriana, e depois Alma, uma jovem também indígena que misteriosamente chega na casa para trabalhar como empregada e inicia um processo de ampliação da pressão psicológica e sobrenatural sobre o velho e sua família.

Cena de

Em meio a isso, ocorre o tão aguardado julgamento do velho pela Justiça. Mas enquanto o processo judicial se desenrola na Suprema Corte, a família do general encara algo muito além do que o abandono de sua criadagem: um cerco permanente de manifestantes pedindo justiça por seus crimes, que incluem execuções e estupros.

Cena de

Com um pano de fundo calcado no julgamento da Ditadura que governou a república da Guatemala de 1954 até 1993, matando mais de cento e quarenta mil guatemaltecos – algumas entidades de luta por Direitos Humanos calculam mais de duzentos e cinquenta mil vítimas – “A Chorona” tem uma trama de queima lenta, com um horror mais psicológico que explícito, com pouco gore, embora com uma violência simbólica enorme. Vale ressaltar especialmente a forma como a família do militar trata e enxerga os indígenas, como os tolera e justifica cada ato da ditadura, buscando silenciar qualquer questionamento a respeito.

Cena de

A presença de Alma é tão sutil quanto seu nome indica. Seu papel na trama e o crescimento de sua presença como alavancadora da conclusão, amplia a maldição pela transferência da experiência de vítimas da ditadura para a pele dos brancos que silenciam e toleram suas barbaridades em nome do anticomunismo. O filme chega ao clímax com muita beleza e com um peso ampliado pela observação dos muitos mortos pelos generais do ato final de justiça.

Além de um filme muito bom, “A Chorona” é um cuidadoso pedaço de memória sobre processos autoritários que a América Latina viveu. Ele se junta a outro filmaço, “Aparecidos” (2007) como obras que juntam o horror com seu papel crítico e que servem para muito mais que entretenimento.

Alma, protagonista de "A Chorona"

Como não é um filme de terror de shopping, não é um filme para todos os gostos, inclusive por seu perfil que tem generosas doses de drama político, mas se insere no horror sem vergonha de ser uma obra do gênero e entrega com louvor cada pedaço em que a tensão e o medo precisam estar presentes.

A Chorona” está disponível no Prime Vídeo/Looke e nas locadoras populares.

Escala de tocância de terror:

Titulo original: La Llorona
Direção: Jayro Bustamante
Roteiro: Jayro Bustamante e Lisandro Sanchez
Elenco: María Mercedes Coroy, Sabrina De La Hoz, Margarita Kenéfic e mais
Ano de lançamento: 2019

* Gilson Moura Henrique Junior é mestre e doutorando em História pelo PPGH-UFPEL, tricolor carioca, comunista, petista, amante e estudioso de cinema de horror

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Click to comment

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Críticas

CRÍTICA: Predador – Terras Selvagens (2025)

Published

on

Predador - Terras Selvagens

Dan Trachtenberg se empolgou tanto com a franquia Predador que, só em 2025, o diretor lançou duas produções sobre o alienígena caçador. Depois da animação Assassino de Assassinos, temos agora Predador: Terras Selvagens (Predator: Badlands), que chega aos cinemas nesta quinta-feira.

Para quem não lembra, Trachtenberg já havia revivido o personagem em O Predador: A Caçada, mantendo a mitologia criada nos dois primeiros filmes (com Arnold Schwarzenegger, em 1987; e Danny Glover, em 1990). A pegada no mais recente longa, porém, dá um ‘duplo twist carpado’.

Ao invés de antagonista, o Predador é quem acompanhamos em Terras Selvagens. Dek (Dimitrius Schuster-Koloamatangi) é um jovem extraterrestre da raça Yautja. Como todo membro dessa espécie, ele precisa passar por um ritual de caça para obter lugar em seu clã.

Dek, no entanto, não é um dos mais atléticos da sua linhagem. Assim, para provar de uma vez por todas o seu valor como guerreiro, ele resolve enfrentar Kalisk, um super monstro que é supostamente imortal.

O problema é que esse bichão vive em um planeta onde existe uma centena de ameaças tão grandes quanto ele. Nessa saga, Dek vai contar com a ajuda de Thia (Elle Fanning), uma androide avariada que ele encontra no meio do caminho.

A ideia de acompanhar o ETzão numa jornada nem é tão novidade (algo parecido já havia acontecido no famigerado Alien vs. Predador). Mas vê-lo alçado à categoria de anti-herói. lutando por justiça e fazendo amizades é bem esquisito.

Antes de qualquer coisa, falta carisma a Dek (e nem é pela clássica feiura da criatura). Pela personalidade do Predador, estabelecida ao longo dos anos, não é possível lhe atribuir características clássicas de protagonista, como senso de humor ou transparência emotiva.

A interação com a sintética Thia tenta dar uma carga dramática à história, e por vária vezes servir de alívio cômico, só que fica bem deslocado. Também é preciso muita força de vontade para acompanhá-lo numa peregrinação que culminará apenas num objetivo pessoal.

Predador: Terras Selvagens, todavia, não é um estudo de personagem, então vamos à ação e efeitos especiais. Infelizmente, também não são lá grande coisa. O planeta Genna é até decepcionante, o design de produção foi bem preguiçoso na criação da fauna local e nenhum dos monstrengos é muito marcante. Nem a conexão com a franquia Alien (a Weyland-Yutani aparece como oponente) enche os olhos, poderia ser qualquer megacorporação do mal que tava ok.

Não dá para dizer, apesar de tudo isso, que Dan Trachtenberg estragou a franquia. Mas, ao final, fica muito óbvio que a intenção do realizador é levar a trama para uma espécie de aventura espacial, numa vibe mais próxima de filme de super herói do que de terror sci-fi de carnificina. Eu prefiro o Predador caçando e desmembrando humanos do que pagando de íntegro, porém fica a critério de cada um.

Escala de tocância de terror:

Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Patrick Aison
Elenco: Elle Fanning, Dimitrius Schuster-Koloamatangi e Reuben de Jong
Origem: EUA

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Continue Reading

Críticas

CRÍTICA: Bom Menino (2025)

Published

on

Bom Menino

O filme que viralizou nos últimos meses, graças ao seu protagonista canino em um filme de terror, estreia em pleno Halloween, nos cinemas nacionais. No entanto, “Bom Menino” (Good Boy) não se resume apenas à fofura do doguinho (e adianto que ele é muito fofo mesmo).

Na trama, acompanhamos Indy, um cachorro leal que se muda com seu tutor para uma casa no meio da floresta, após o homem enfrentar um sério problema de saúde. O cão percebe imediatamente que há algo de errado com o local, e, com o tempo, essas manifestações sobrenaturais colocarão suas vidas em perigo.

Indy é, indiscutivelmente, a estrela do filme. Garanto que muitos atores gostariam de ter metade de seu carisma e presença de tela. Em poucos minutos de projeção, já estamos torcendo por ele. O trabalho de adestramento foi impecável, e é difícil imaginar o esforço que o realizador, que também é o tutor real do animal deve ter tido. Desde as cenas de afeto até as de terror, nota-se o cuidado e a boa realização em “Bom Menino“.

O diretor acerta ao usar enquadramentos e jogos de câmera quase sempre na perspectiva de Indy. Em alguns momentos, me lembrei do desenho dos Muppets Babies, em que nunca vemos o rosto da babá, embora aqui, em planos mais convencionais, sejam mostrados vislumbres ou o rosto inteiro dos personagens humanos.

O terror aqui é mais contido: uma sombra aqui e ali, vultos passageiros, mas sem o uso de trilha sonora alta ou aparições exageradas. O ritmo é lento, e a ambientação vai da casa inicialmente decrépita à mata semienevoada, com suas árvores sinistras.

Temos um longa envolto a uma atmosfera de desconforto e medo. Não espere sustos frequentes e jumpscares. Eles existem, mas em quantidade bem menor.

Apesar de em termos técnicos, a coisa funcionar, nem tudo são flores. Mesmo sendo um filme curto, com pouco mais de 70 minutos, é possível notar que a história seria mais bem contada em um curta ou média-metragem. Existem recursos narrativos que se repetem pelo menos três vezes em uma clara tentativa de esticar a duração.

A trama é a clássica da casa mal-assombrada, e a verdadeira inovação está em ser contada sob a perspectiva do cachorro. É algo eficiente que não teria o mesmo destaque se fosse narrada por humanos.

“Bom Menino” é uma agradável surpresa neste ano, dando novo fôlego a uma história que já vimos inúmeras vezes. Indy é um poço de carisma e fofura. Podem assistir sem medo, mas não espere um filme de gritos e sustos constantes.

Escala de tocância de terror:

Título original: Good Boy
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Ben Leonberg e Alex Cannon
Elenco: Indy, Shane Jensen, Arielle Friedman

* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Continue Reading

Críticas

CRÍTICA: Medo Real (2025)

Published

on

Medo Real

Nesta temporada de Halloween de 2025, a Netflix trouxe para seus assinantes a série documental “Medo Real” (True Haunting), que aborda dois casos sobrenaturais ocorridos na história recente dos EUA. A produção ainda tem a grife de James Wan para agregar mais valor, mas será que vale seu tempo ou está mais para um derivado sem graça de tantas outras obras sobrenaturais?

As histórias mostradas são:
O Caso de Erie Hall: Nos anos 80, um jovem promissor consegue entrar numa renomada faculdade de NY. Entre estudos e farras, o jovem começa a ser assediado por uma força sobrenatural que cerca o local e que, com o tempo, se mostra uma ameaça a todos que o cercam.
Essa Casa Me Matou: Mostra uma família que se muda para a casa dos sonhos e acaba descobrindo que é um lar de pesadelos.

Esses eventos são mostrados ao longo de cinco episódios – três para o primeiro caso e dois para o segundo, respectivamente. A série conta com a presença de vários envolvidos, e seus relatos são dramatizados.

Embora seja em caráter documental, é inegável a influência da série de filmes “Invocação do Mal” nos momentos de dramatização. Inclusive, o casal Warren faz uma rápida participação em um dos casos (claro, interpretado por outros atores). O tom e a trilha sonora remetem muito aos filmes famosos, mas com uma vibe mais contida. Não espere sustos a cada cinco minutos.

Medo Real” tem alguns bons momentos exatamente por não optar por exageros, embora eles também existam, o que demonstra a indecisão dos realizadores sobre o tom que queriam dar ao material. A forma de conduzir as histórias lembra programas como “Linha Direta” e as matérias sobrenaturais vistas no “Domingo Legal” nos anos 90. Sim, existem programas assim no exterior, e inclusive alguns produtores daqui são desse tipo de programa, mas quis usar exemplos nacionais.

No geral, a série é bacana, servindo mais como uma diversão escapista do que algo sério e relevante. Não existem contrapontos para a história, e, para mim, essa é a pior falha – não dá para acreditar em tudo o que é mostrado como verdade absoluta.

Finalizando, “Medo Real” é uma série relativamente curta, com episódios de cerca de 30 minutos, que se mostra superior (mas nem tanto) ao que normalmente chega ao catálogo de originais da Netflix quando o assunto é terror.

Escala de tocância de terror:

Gosta de nosso trabalho? Então nos dê aquela forcinha contribuindo através do PicPay!

Continue Reading

Trending