Críticas
CRÍTICA: Vôo 7500 (2014)
Por Júlio Carvalho
Diretores orientais vez por outra se aventuram em Hollywood e de vez em quando dá merda. Este é o caso de Vôo 7500. O importado da vez é o conceituado diretor japonês Takashi Shimizu. O rapaz é simplesmente o responsável por belezuras do J-Horror como O Grito 1 e 2 (Jun-on, 2002 e 2003), Marebito (2004) e outros. Apesar de estar em cartaz agora, Vôo 7500 é uma produção de 2014.
Não é a primeira vez que Shimizu filma para os EUA, pois realizou as refilmagens americanas dos seus ótimos O Grito 1 e 2 (como Michael Haneke fez com seu Funny Games), mas é o primeiro filme com roteiro original na terra do Tio Sam. Escrito por Craig Rosenberg (O Mistério das Duas Irmãs, A Marca do Medo), acompanhamos os eventos cabulosos ocorridos no vôo 7500 da Vista Pacific de Los Angeles para Tóquio.
O longa abre logo com uma pista do que vai acontecer, mostrando uma sequência de pânico em que os passageiros são jogados pra cima e pra baixo dentro do avião dando a impressão de estarem passando por uma forte turbulência. Mas aí repentinamente, voltamos no tempo e somos apresentados às aeromoças e passageiros, ainda sorridentes, ‘escolhendo’ suas poltronas.
Com uma apresentação porca de personagens, o filme gasta quase que toda sua primeira metade sem conseguir com que o expectador crie empatia por alguém ali. Por ser praticamente um estudo de personagens, falta, por exemplo, a competência de um Frank Darabont como no ótimo O Nevoeiro (The Mist, 2007) onde toda a tensão gira em torno de um grupo de pessoas isoladas em um mesmo ambiente sob ameaça de um perigo exterior. Falta também a malícia na hora de mostrar os signos do que está acontecendo, como feito no eficiente O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999) do ‘finado’ Mr. Shyamalan.
Além de uma direção preguiçosa e nada inventiva, o roteiro também não ajuda. A intenção é boa, mas disso aí o Inferno tá cheio. Tentando se valer da onda de medo – e do teor de mistério – das recentes tragédias com aviões de passageiros que tem ocorrido, o longa peca por tentar desviar demais a atenção do espectador com falsas dicas. Isso seria legal, mas quando isso ocorre, fica na cara que é “pegadinha” da trama. Aliás, trama essa que não tem muito o que falar, e o pouco que tem pode entregar o plot twist.
A real é que a produção em geral é bem fraquinha. Até em detalhes bobos, como as tatuagens da metaleira gótica, por exemplo, são nitidamente artificiais. As tomadas externas, obviamente em CGI, parecem de filmes trash dos anos 90. Quase todas as cenas de sustos e aparições falham vergonhosamente. Falta timing pra tudo aqui, inclusive para os diálogos. Até as sequências de tensão são ineficientes, salvando-se alguns pouquíssimos sustos por não apelarem pra explosões sonoras.
Falando em personagens, o elenco é bem fraquinho mesmo. Não espere rostos conhecidos do grande público aqui. Além do nosso herói Brad (Ryan Kwanten – True Blood) e claro, da linda aeromoça japonesa californiana Suzy Lee vivida por Jamie Chung (Sin City: A Dama Fatal), ninguém tem importância real pra o desenrolar da história. Suas personas bidimensionais dão um sono danado e apenas desperta um desejo de que todos morram logo de uma vez pra o filme acabar.
Resumindo, Voo 7500 não passa de mais um filme inexpressivo, sem novidades e que no máximo causa uma sensação de “Ah, tá. Ok.” ao seu fim. Volta pro Japão, Takashi Shimizu! Por favor!

Título original: 7500
Direção: Takashi Shimizu
Roteiro: Craig Rosenberg
Elenco: Jamie Chung, Leslie Bibb, Ryan Kwanten
Origem: EUA, Japão
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Críticas
CRÍTICA: Presença (2025)
No fim de 2024, o anúncio do novo filme de Steven Soderbergh surge dando o que falar. Primeiro por se tratar de um filme de gênero do diretor e, segundo, por prometer nos colocar literalmente no ponto de vista do malassombro.
Em PRESENÇA (Presence), acompanhamos a rotina de uma família que acaba de chegar de mudança, porém nunca saímos da casa, pois, como dito, vemos tudo pelo olhar da presença sobrenatural que ali habita. Nesta dinâmica, vagamos com o fantasma por todos os cômodos, sempre procurando ficar perto dos personagens, ora evitando ser notado, ora interagindo com o ambiente.
É interessante que de início temos uma estranheza por estarmos no ponto de vista da tal presença, mas não demora pra nos acostumarmos ao ponto de chegarmos a ser o malassombro em si. É legal que suas – ou seriam nossas? – Interações físicas com as personagens e ambiente são simples, eficazes e críveis. Detalhe que a câmera não flutua, mas anda com movimentos humanos reforçando sempre que este personagem existe em cena.
Seteven Soderbergh é um cineasta com uma longa trajetória no audiovisual. Desde a década de 80 vem realizando vídeos clipes, curtas, séries, filmes etc, somando mais de 40 anos de carreira com produções undergrounds e mainstreams, sempre buscando experimentar formatos com muito apuro estético. Como o parâmetro geral é o Oscar, ele já teve 3 indicações, vencendo em 2001 pela direção de TRAFFIC. Para além, ele tem muitos filmes conhecidos como ONZE HOMENS E UM SEGREDO, 2 longas sobre Che Guevara (um deles com Rodrigo Santoro no elenco), CONTÁGIO, que foi amplamente revisitado durante a pandemia da COVID-19, um remake de SOLARIS e muitos outros.
Aqui em PRESENÇA, o cineasta também busca experimentar. Agora com uma câmera de mão e uma lente 14mm que funciona como o olhar do espírito – e nosso! – que passeia pelos cômodos da casa. O uso de mínimo de equipamentos não é uma novidade na filmografia de Soderbergh. Vide o seu interessante DISTÚRBIO (Unsane, 2017), também de terror, que foi filmado só com um iPhone 7.
Estamos diante de um caso raro em que a busca pelo realismo funciona sem perder a magia. Soderbergh trabalha o drama familiar de uma forma tão palpável que beira a realidade. Os diálogos soam naturais e precisos, rendendo momentos legitimamente ternos e tensos. Apesar de termos a veterana Lucy Liu, que vive a mãe, no elenco, é focada na sua filha Cloe, vivida por Callina Liang, na qual todas as motivações pairam. Os outros arcos das demais personagens são muito bem trabalhados também.
Apesar das qualidades, nem tudo é legal aqui. Por exemplo, o excesso de cortes secos com longas pausas em tela preta que sinalizam saltos temporais. Isso não seria um problema se não fosse pela quantidade e em curtos espaços de tempo. Essas interrupções constantes podem incomodar e até tirar da imersão pretendida que vinha sendo bem construída. Algo que também pode desagradar, é a simplicidade de toda situação. Pra quem espera sequências mais elaboradas, tão comuns e esperadas em filmes da mesma temática, a falta de muita “pirotecnia” pode soar frustrante.
Simples, direto e eficaz, PRESENÇA acerta o tom dentro do formato proposto, entregando exatamente o que promete sendo um ótimo começo de ano para o terror. Sem contar que é sempre bom ver cineastas de longa data se aventurando em filmes “menores” e de gênero.

Título original: Presence
Diretor: Steven Soderbergh
Roteiro: David Koepp
Elenco: Lucy Liu, Chris Sullivan, Callina Liang
Origem: EUA
Ano de produção: 2024
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Críticas
CRÍTICA: Desconhecidos (2025)
A graça de ver filmes em uma narrativa não-linear é que a todo instante nossa atenção está em jogo para ligar os pontos e entender melhor a história como um todo. É com base neste recurso de edição que “Desconhecidos” (Strange Darling) de JT Mollner se dá bem.
É explicado desde o início que esta é uma história em seis capítulos. Sendo que o filme já começa no Capítulo 3! E esta é justamente uma das sequências mais instigantes do longa para prender a atenção do espectador desde o começo.
O lance, é que nesta aparente perseguição entre homem e mulher em alta velocidade, sabemos muito pouco sobre cada um deles. A introdução de quem é quem e suas motivações só aparece na parte 5 de “Desconhecidos“, que equivale ao “Capítulo 2”.
Pode parecer confuso, mas funciona como um slasher também. Ainda assim, a Miramax que lançou o filme não estava botando fé e tentou na pós-produção organizar o filme em um formato convencional na ordem em que as cenas ocorrem sem consentimento do diretor.
Diante dessa briga, JT Mollner retomou as rédeas da obra se apegando a cláusulas contratuais. E foi possivelmente por conta desse impasse que estamos vendo este filme sendo lançado tão tardiamente.
Mesmo passando metade de “Desconhecidos” sem termos certeza de quem está com razão ou quem é a real vítima, a atuação de Willa Fitzgerald é a que engrandece um filme com um roteiro aparentemente tão simples, mas cheio de reviravoltas. Mas se o título nacional se refere de forma vaga aos principais personagens, isso também se deve porque eles não tem nome na trama. Foi até uma boa sacada.
Veja sem ficar com pé atrás e curta a diversão regada a sangue e muitos tiros.

Título original: Strange Darling
Diretor: JT Mollner
Roteiro: JT Mollner
Elenco: Willa Fitzgerald, Kyle Gallner, Madisen Beaty, Barbara Hershey e outros
Ano de lançamento: 2025
* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z e Paris Filmes
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Críticas
CRÍTICA: Entre Montanhas (2025)
Diretor de O Exorcismo de Emily Rose, Livrai-nos do Mal e O Telefone Preto, é inegável que Scott Derrickson transformou seu nome numa pequena grife. Com um currículo recheado de filmes medianos, mas lucrativos, foi nele que a Apple TV apostou para comandar Entre Montanhas (The Gorge, 2025), escrito por Zach Dean, autor de A Guerra do Amanhã e Velozes & Furiosos 10.
Na trama, acompanhamos dois snipers excepcionais que são recrutados para passarem um ano vigiando um desfiladeiro num lugar remoto, cuja localização é desconhecida de ambos. Levi (Miles Teller) é um ex-fuzileiro americano, deprimido e sem amigos. Drasa (Anya Taylor-Joy) é uma mercenária bielorrussa em luto pela morte do pai.
Descobrimos então que o tal precipício é o lar de criaturas maléficas e que a missão deles é impedir que as coisas saiam do buraco. Eles, porém, não estão juntos, cada um fica de um lado do abismo, isolado em sua própria torre, armados até os dentes, mas impedidos de se comunicarem.
Essa regra, claro, é quebrada. Aí rola uma química, uma paquera, o casal se apaixona e resolve se encontrar. Quando os monstros promovem um ataque pesado e eles precisam agir juntos, Entre Montanhas vira uma mistura de Sr. & Sra. Smith com Resident Evil, que passeia por vários gêneros: terror, ficção científica, ação e comédia romântica.
O problema é que, em nenhum deles, o filme empolga. E olhe que são quase duas horas e um roteiro que entope o longa com várias revelações. Scott Derrickson até nos brinda com uma cena boa, aqui e ali, e a dupla de protagonistas se esforça para nos dar um casal com um mínimo de química.
Só que a história de Zach Dean funcionaria melhor como um videogame, onde a jogabilidade preencheria o espaço da ação. Apenas assisti-la é totalmente desinteressante. A sub-trama sobre quem comanda a vigilância do desfiladeiro ainda deixa a participação de Sigourney Weaver subaproveitada.
Entre Montanhas começa com uma premissa interessante, um bom background dos personagens, mas quando o bicho pega é uma repetição de tudo que a gente já viu. Isso nem seria ruim, se fosse uma repetição de tudo que a gente já viu e gostou. Com ação genérica e soluções fáceis, é só tédio mesmo.

Título original: The Gorge
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Zach Dean
Elenco: Anya Taylor-Joy, Miles Teller e Sigourney Weaver
Origem: EUA e Inglaterra
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