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Críticas

CRÍTICA: O Sono da Morte (2016)

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Sono da Morte

[Por Júlio Carvalho]

Estamos na era dos filmes de terror ‘do bem’, nos quais as ameaças não são tão ameaçadoras assim, os demônios não são tão perigosos assim, as conclusões são forçadamente otimistas e o excesso de jumpscares passa a ser o principal atrativo dessas produções. Sucessos como a franquia Invocação do Mal e Annabelle estão aí pra comprovar isso. Dito isso, está em cartaz O Sono da Morte (Before I Wake) que tenta desastrosamente se enquadrar nessa categoria. Por mais bobos que sejam, tem filmes que ainda podem ser chamados de horror. Sendo que neste caso, nem isso.

O longa ao menos traz uma premissa até interessante: Jesse e Mark descobrem que não podem mais ter filhos e decidem adotar uma criança. É aí que Cody, um menino meigo e super educado, entra para a família recatada e do lar. Enquanto isso, Jesse faz terapia de grupo pra tentar superar a morte do pequeno Sean, o filho biológico do casal. Não tarda e logo descobrem que o filho adotivo tem um dom mágico de materializar seus sonhos.

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Escrito e dirigido por Mike Flanagan, que ficou conhecido pelo bom Oculus (2013) e o recente Hush (2016), O Sono da Morte traz elementos de fantasia e terror. Essa mistura a princípio funciona bem.  A primeira aparição do falecido garoto, por exemplo, com a mesma feição da foto da família é cabulosa e ganha pontos por ser às claras mostrando a segurança do diretor. Mas essa segurança não dura muito, pois a partir da segunda metade do longa, tudo começa a soar didático demais. E esse didatismo só aumenta conforme o fim vai se aproximando. Fica a dúvida se Flanagan não confia na inteligência do público ou no próprio taco.

O destaque do filme fica para o pequeno Cody, que é vivido por Jacob Tremblay (O Quarto de Jack). O moleque é aficionado por borboletas e evita ao máximo dormir, carregando consigo uma caixa com energéticos. O ator mirim realmente faz tudo direitinho e sem exageros, ao contrário da fraquíssima Kate Bosworth (Terror na Ilha), que interpreta a fragilizada Jesse, sua mãe adotiva. Isso prejudica e muito o desenvolvimento dessa relação familiar, já que vem dela todas as atitudes importantes pra trama. Temos também o já conhecido canastrão do Thomas Jane (The Veil) no papel de Mark, o pai adotivo, que aqui, até que funciona bem, mesmo o personagem não tendo tanto peso pra trama que é focada na relação mãe e filho.

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Quando os sonhos de Cody começam, borboletas luminosas se juntam para “trazer” o falecido Sean de volta a vida para o casal. Jesse então passa a mostrar uma face cruel antes desconhecida pelo marido, passando a usar o fragilizado garoto como uma espécie de portal do além, chegando até a drogar o menino pra prolongar seu sono. Mas como nem tudo são borboletas, o menino também tem pesadelos que, assim como os sonhos, se materializam e não são nada coloridos e amigáveis.

Então somos apresentados ao tal do “Homem Cancro”, que seria uma espécie de Freddy Krueger. Mas esta criatura não ataca as pessoas dentro do pesadelo, mas na realidade. O bicho se materializa e sequestra as pessoas para o além. Até seria legal, se a criatura gerada via computador não fosse simplesmente patética. Lembra um alienígena com anorexia. O monstro parece até que foi feito pra um jogo da primeira geração de Playstation. E isso é uma pena, pois por ter um visual bem simples, poderia muito bem ser interpretado em tempo integral por alguém fantasiado e maquiado, o que daria mais veracidade e, quem sabe, até medo.
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Não basta o longa ser cansativo, tem de nos levar à uma conclusão bem previsível e explicadinha até demais. É curioso, já que isso vai contra seus longas anteriores, nos quais Flanagan primou por manter o mistério. Sem contar que aqui, tem aquela forçadinha de barra pra tentar arrancar lágrimas do espectador. Aí já é querer demais, né, cara? Tudo bem que no finalzinho tem um detalhe ousado e até intrigante com relação a Jesse, mas, infelizmente isso não é capaz de salvar o longa da mediocridade.

Sem querer ser cretino, mas já sendo, o grande problema de O Sono da Morte é que realmente dá um sono mortal (será esse o real motivo do título nacional?). Não é pelo ritmo lento ou pela premissa, que é boa, mas por uma execução medíocre que não mostra nada de assustador ou no mínimo interessante. É nítida a pretensão do cineasta de fazer parte da cena mainstream do horror atual, mas o drama familiar é abordado sem a sensibilidade necessária para envolver o espectador, denunciando assim que apesar de tecnicamente competente, o diretor tem que comer muito feijão com arroz pra chegar ao nível de um James Wan da vida (que nem é lá essas coisas, mas é o nome da vez).

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No fim das contas, o filme não diz pra que veio, pois não consegue se assumir como horror de fato, resultando num filme bobo e decepcionante para os fãs do estilo. E se você ainda for encarar essa bomba no cinema, aconselho tomar umas latas de bebida energética antes. Se for assistir em casa (o longa está disponível no youtube completo, legendado e em HD), deixe uma garrafa cheia de café o mais próximo possível, pois vai precisar.

Escala de tocância de terror:
Título original: Before I Wake
Direção; Mike Flanagan
Roteiro: Mike Flanagan, Jeff Howard
Elenco: Jacob Tremblay, Kate Bosworth, Thomas Jane
Origem: EUA
TRAILER

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0 Comments

  1. carmoj

    17 de novembro de 2016 at 15:45

    Analise exagerada, principalmente considerando que a intenção do filme não é ser um filme de horror.

    • Jair

      24 de junho de 2018 at 00:30

      Verdade o Filme mostra um tanto o lado espírita.Quem conhece a doutrina espirita vai entender perfeitamente que no filme o menino é medium de premonição só que p gerar um pouco de terror as mortes acontecem um pouco diferente.
      Tanto que no final o Pai se encontrou com o filho já falecido(Desencarnado

  2. Williane

    15 de setembro de 2018 at 14:54

    Uma crítica construtiva pode ser feita sem desmerecer o trabalho do outro.

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CRÍTICA: Bom Menino (2025)

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Bom Menino

O filme que viralizou nos últimos meses, graças ao seu protagonista canino em um filme de terror, estreia em pleno Halloween, nos cinemas nacionais. No entanto, “Bom Menino” (Good Boy) não se resume apenas à fofura do doguinho (e adianto que ele é muito fofo mesmo).

Na trama, acompanhamos Indy, um cachorro leal que se muda com seu tutor para uma casa no meio da floresta, após o homem enfrentar um sério problema de saúde. O cão percebe imediatamente que há algo de errado com o local, e, com o tempo, essas manifestações sobrenaturais colocarão suas vidas em perigo.

Indy é, indiscutivelmente, a estrela do filme. Garanto que muitos atores gostariam de ter metade de seu carisma e presença de tela. Em poucos minutos de projeção, já estamos torcendo por ele. O trabalho de adestramento foi impecável, e é difícil imaginar o esforço que o realizador, que também é o tutor real do animal deve ter tido. Desde as cenas de afeto até as de terror, nota-se o cuidado e a boa realização em “Bom Menino“.

O diretor acerta ao usar enquadramentos e jogos de câmera quase sempre na perspectiva de Indy. Em alguns momentos, me lembrei do desenho dos Muppets Babies, em que nunca vemos o rosto da babá, embora aqui, em planos mais convencionais, sejam mostrados vislumbres ou o rosto inteiro dos personagens humanos.

O terror aqui é mais contido: uma sombra aqui e ali, vultos passageiros, mas sem o uso de trilha sonora alta ou aparições exageradas. O ritmo é lento, e a ambientação vai da casa inicialmente decrépita à mata semienevoada, com suas árvores sinistras.

Temos um longa envolto a uma atmosfera de desconforto e medo. Não espere sustos frequentes e jumpscares. Eles existem, mas em quantidade bem menor.

Apesar de em termos técnicos, a coisa funcionar, nem tudo são flores. Mesmo sendo um filme curto, com pouco mais de 70 minutos, é possível notar que a história seria mais bem contada em um curta ou média-metragem. Existem recursos narrativos que se repetem pelo menos três vezes em uma clara tentativa de esticar a duração.

A trama é a clássica da casa mal-assombrada, e a verdadeira inovação está em ser contada sob a perspectiva do cachorro. É algo eficiente que não teria o mesmo destaque se fosse narrada por humanos.

“Bom Menino” é uma agradável surpresa neste ano, dando novo fôlego a uma história que já vimos inúmeras vezes. Indy é um poço de carisma e fofura. Podem assistir sem medo, mas não espere um filme de gritos e sustos constantes.

Escala de tocância de terror:

Título original: Good Boy
Direção: Ben Leonberg
Roteiro: Ben Leonberg e Alex Cannon
Elenco: Indy, Shane Jensen, Arielle Friedman

* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z

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CRÍTICA: Medo Real (2025)

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Medo Real

Nesta temporada de Halloween de 2025, a Netflix trouxe para seus assinantes a série documental “Medo Real” (True Haunting), que aborda dois casos sobrenaturais ocorridos na história recente dos EUA. A produção ainda tem a grife de James Wan para agregar mais valor, mas será que vale seu tempo ou está mais para um derivado sem graça de tantas outras obras sobrenaturais?

As histórias mostradas são:
O Caso de Erie Hall: Nos anos 80, um jovem promissor consegue entrar numa renomada faculdade de NY. Entre estudos e farras, o jovem começa a ser assediado por uma força sobrenatural que cerca o local e que, com o tempo, se mostra uma ameaça a todos que o cercam.
Essa Casa Me Matou: Mostra uma família que se muda para a casa dos sonhos e acaba descobrindo que é um lar de pesadelos.

Esses eventos são mostrados ao longo de cinco episódios – três para o primeiro caso e dois para o segundo, respectivamente. A série conta com a presença de vários envolvidos, e seus relatos são dramatizados.

Embora seja em caráter documental, é inegável a influência da série de filmes “Invocação do Mal” nos momentos de dramatização. Inclusive, o casal Warren faz uma rápida participação em um dos casos (claro, interpretado por outros atores). O tom e a trilha sonora remetem muito aos filmes famosos, mas com uma vibe mais contida. Não espere sustos a cada cinco minutos.

Medo Real” tem alguns bons momentos exatamente por não optar por exageros, embora eles também existam, o que demonstra a indecisão dos realizadores sobre o tom que queriam dar ao material. A forma de conduzir as histórias lembra programas como “Linha Direta” e as matérias sobrenaturais vistas no “Domingo Legal” nos anos 90. Sim, existem programas assim no exterior, e inclusive alguns produtores daqui são desse tipo de programa, mas quis usar exemplos nacionais.

No geral, a série é bacana, servindo mais como uma diversão escapista do que algo sério e relevante. Não existem contrapontos para a história, e, para mim, essa é a pior falha – não dá para acreditar em tudo o que é mostrado como verdade absoluta.

Finalizando, “Medo Real” é uma série relativamente curta, com episódios de cerca de 30 minutos, que se mostra superior (mas nem tanto) ao que normalmente chega ao catálogo de originais da Netflix quando o assunto é terror.

Escala de tocância de terror:

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CRÍTICA: Faça Ela Voltar (2025)

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Faça Ela Voltar

Dois anos após o sucesso de Fale Comigo, chega aos cinemas brasileiros o segundo filme dos irmãos Danny e Michael Philippou. Mais uma vez com distribuição da badalada A24, a dupla agora emplaca Faça Ela Voltar (Bring Her Back), um conto de horror suburbano que aborda o luto.

Após perderem o pai, os irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong) são colocados sob os cuidados de Laura (Sally Hawkins), uma ex-assistente social que faz de sua casa uma espécie de lar adotivo. Além deles, vive no local o menino Oliver (Jonah Wren Phillips), uma criança que não se comunica e possui hábitos estranhos.

Não demora para sabermos que Laura tem segundas intenções. Seu objetivo em acolher os órfãos é trazer o espírito da sua filha de volta e colocá-la no corpo de Piper. Para executar esse plano diabólico ela tem em mãos uma fita VHS que contém, literalmente, o passo a passo de um ritual satânico que, entre outras bizarrices, inclui até canibalismo.

Mitologia escatológica à parte, Faça Ela Voltar é mais sobre o sentimento da perda do que qualquer outra coisa. Mesmo retratada na maior parte do tempo como vilã metódica, Laura ainda deixa transparecer seu lado humano. Uma mulher que não aceita a partida da filha e que acaba deturpando seu amor icondicional, por puro desespero.

A dupla de irmãos também ganha sua cota de drama, quando Laura tenta jogar um contra o outro, pois Andy é um empecilho para o que ela planeja. Nada disso, porém, funcionaria se o trio de protagonistas não estivesse tão afiado. Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong conseguem passar credibilidade o tempo todo, seja nos momentos sóbrios ou nos sinistros.

O que nos leva para outro destaque do elenco: o pequeno Jonah Wren Phillips. A transformação pela qual seu Oliver passa ao longo da trama já o elevou ao status de mini ícone do terror do ano. São com ele as cenas mais perturbadoras, em ocasiões que fica quase impossível não desviar os olhos da tela.

A direção dos Philippou em Faça Ela Voltar segue competente, com ótimos enquadramentos e cuidado aos detalhes (preste atenção nos círculos). Como Piper é deficiente visual, a câmara brinca muito com imagens desfocadas, o que faz um paralelo interessante com a condição da personagem.

O roteiro, assinado em parceria com Bill Hinzman, consegue balancear bem o terror e o drama, no entanto deixa um gostinho de quero mais ao esconder muito sobre a origem do ritual. Mas isso é apenas eu reclamando de barriga cheia (o trocadilho fará sentido quando você assistir ao filme).

Escala de tocância de terror:

Título original: Bring Her Back
Direção: Danny Philippou e Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman
Elenco: Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong
Origem: Austrália

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