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CRÍTICA: Batem à porta (2023)

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Batem à porta

Batem à Porta” (Knock at the Cabin) não é editorial de um certo jornal, mas traz várias escolhas difíceis.

[Por Tati Régis] *

Se tem uma coisa que me fascina no horror, é a iminente sensação de medo atrelada a outros diversos sentimentos que o gênero carrega e que muitas vezes nem são associadas ao terror. O novo filme de M. Night Shyamalan, “Batem à Porta“, trabalha a empatia, o amor, destruição, altruísmo, maldade, fé, escolhas e surpreende justamente por ter muito dele, mas também por não ter.

Shyamalan é um realizador que nos acostumou a certos vícios. Tem seus vacilos como qualquer outro artista, mas também tem seus momentos bem-sucedidos e é graças a eles que qualquer coisa que envolva seu nome, já causa alvoroço e cria-se expectativas. Seja para o bem ou para o mal, o homem sabe causar frisson.

Seu último filme “Tempo” (Old, 2021), quando foi lançado, teve as piores primeiras reações em tempos com críticas bem divididas e algumas até bem cruéis. Já neste aqui, o que pude observar das reações, principalmente na gringa, foram bem positivas o que só fez aumentar minha vontade de assistir.

Eu estava querendo muito ver esse novo dele no cinema, pois me dei a missão de ler o livro que serviu de base para o roteiro, “O Chalé no Fim do Mundo” de Paul G. Tremblay, mas falhei miseravelmente e sequer alcancei 50% da leitura. Isso serve para vocês saberem que não farei uma resenha baseada em comparações, mas sim em impressões apenas do que vi em tela, e o que vi, gostei muito, com algumas poucas ressalvas.

Neste horror apocalíptico, acompanhamos uma família de três pessoas que está prestes a tomar a decisão mais difícil de suas vidas. Temos Wen (Kristen Cui), uma garotinha de quase 8 anos, de origem chinesa e que foi adotada ainda bebê por dois pais os quais sempre chama pelo primeiro nome, Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldrige).
Eles estão de férias numa cabana remota, rodeada por um bosque onde ela gosta de caçar gafanhotos e é um lugar que transmite paz, conforto e segurança, no entanto tudo isso será interrompido com a chegada de Leonard (Dave Bautista) que se aproxima de Wen e num instante garante a confiança da garota quando mostra que também sabe caçar gafanhotos. Leonard é um homem grande, provavelmente o maior homem que a menina já viu e sobre a forma como Shyamalan mostra isso eu gostei demais, igualando a câmera na altura de Wen filmando de baixo para cima.

Conversa vai, conversa vem, Leonard não para de olhar para os lados como se esperasse alguém ou alguma coisa. Ele demonstra uma certa apreensão e Wen percebe que algo não está correto quando vê outras três pessoas se aproximando segurando coisas que parecem armas. Leonard avisa a Wen que aqueles são seus colegas de missão e pede a ajuda dela que, assustada, entra rapidamente em casa. Pronto, o clima de paz e segurança dá lugar ao alvoroço, tensão e violência.

Aliás, tensão é o que mais veremos ao longo de seus 100 minutos de filme. Lá fora da casa tentando entrar, temos o pavio curto Redmond (Rupert Grint), Sabrina (Nikki Amuka-Bird), Adriane (Abby Quinn) e Leonard tentando convencer Eric e Andrew a deixá-los entrar para explicar o motivo de estarem ali.

TOC TOC TOC TOC e a pergunta que não quer calar: quem quer invadir tua casa, bate à porta? Isso me fez pensar muito em outros filmes de home invasion como o recente “Sick” (2022), Nós (2019) e “Violência Gratuita” (2007), todos com gente esquisita querendo passar alguma mensagem ou apenas tocar o terror. Aqui não se explica o motivo da escolha da família de Eric e Andrew, mas o estrago já está prestes a acontecer e imagina o nível de insanidade que é tudo isso? Ainda mais em tempos atuais onde se tem valorizado tanto a desinformação, a pós verdade e as teorias de conspirações de diversos âmbitos, tu escutar de quatro desconhecidos que o mundo está há poucas horas de acabar e que para o apocalipse ser cancelado, um membro da família terá que fazer a escolha de sacrificar um deles?

Enquanto a família é refém desses 4 cavaleiros do apocalipse, acontece toda uma discussão sobre conspirações, homofobia, confiança, e relações familiares. A tensão em alta e corta para um flashback. Eu sei que é onde precisa ser dado o background dos protagonistas, mas a forma como escolheram fazer, me tirou do clima todas as vezes. Cada um dos sete personagens em tela tem decisões e escolhas a fazer e é sobre esse ponto que pega o roteiro.

Leonard e sua turma, estão ali para matar ou para morrer, mas segundo eles mesmos, eles não são pessoas ruins e se apegam às revelações e mensagens do além que tiveram para tentar convencer o casal, mas também apelam para as imagens catastróficas dos noticiários. Eles precisam fazer a escolha: vagar os três juntos em meio ao caos e à morte carregando a culpa pelo fim da humanidade ou decidir pelo sacrifício e salvar o planeta.

Concorde ou não moralmente com os temas trazidos, “Batem à Porta” busca estas reflexões acerca de profecias cristãs realizadas, do fanatismo e o final deixa a gente com uma pulguinha de insatisfação e dúvidas, sobre justamente a tal da escolha.

Não posso terminar este texto sem exaltar a força de Shyamalan que parece ter largado neste, um dos seus vícios que é a tal da reviravolta, mas, ao mesmo tempo, ele não abandona sua mania de explicar e explicar novamente o que já foi explicado, pode irritar alguns, mas a mim não incomodou. A adaptação parece também ter agradado o autor do livro, que comentou no twitter ter saído da sessão com a cabeça girando e elogiou as atuações, que olha, estão incríveis mesmo, principalmente o Dave Bautista que entregou tudo e mais um pouco em talvez seu papel mais dramático, comovente e aterrorizante. A garotinha Kristen também está excelente.

Em resumo, é isto… “Batem à Porta” chegou aos cinemas e estou muito feliz e agradecida ao Toca o Terror pelo convite e poder assistir ao filme e escrever minhas impressões para o site. Bom demais ser fã de um diretor e ser testemunha de seu regresso digno em um filme intrigante, cruel, direto, comovente e atmosférico que com certeza verei outras vezes.

Escala de tocância de terror:

Título original: Knock at the Cabin
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan, Steve Desmond e Michael Sherman
Elenco: Dave Bautista, Jonathan Groff, Ben Aldridge, Nikki Amuka-Bird e outros
Ano de lançamento: 2023

* Especial para o Toca o Terror em cabine de imprensa promovida pela Espaço Z no Recife

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CRÍTICA: Faça Ela Voltar (2025)

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Faça Ela Voltar

Dois anos após o sucesso de Fale Comigo, chega aos cinemas brasileiros o segundo filme dos irmãos Danny e Michael Philippou. Mais uma vez com distribuição da badalada A24, a dupla agora emplaca Faça Ela Voltar (Bring Her Back), um conto de horror suburbano que aborda o luto.

Após perderem o pai, os irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong) são colocados sob os cuidados de Laura (Sally Hawkins), uma ex-assistente social que faz de sua casa uma espécie de lar adotivo. Além deles, vive no local o menino Oliver (Jonah Wren Phillips), uma criança que não se comunica e possui hábitos estranhos.

Não demora para sabermos que Laura tem segundas intenções. Seu objetivo em acolher os órfãos é trazer o espírito da sua filha de volta e colocá-la no corpo de Piper. Para executar esse plano diabólico ela tem em mãos uma fita VHS que contém, literalmente, o passo a passo de um ritual satânico que, entre outras bizarrices, inclui até canibalismo.

Mitologia escatológica à parte, Faça Ela Voltar é mais sobre o sentimento da perda do que qualquer outra coisa. Mesmo retratada na maior parte do tempo como vilã metódica, Laura ainda deixa transparecer seu lado humano. Uma mulher que não aceita a partida da filha e que acaba deturpando seu amor icondicional, por puro desespero.

A dupla de irmãos também ganha sua cota de drama, quando Laura tenta jogar um contra o outro, pois Andy é um empecilho para o que ela planeja. Nada disso, porém, funcionaria se o trio de protagonistas não estivesse tão afiado. Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong conseguem passar credibilidade o tempo todo, seja nos momentos sóbrios ou nos sinistros.

O que nos leva para outro destaque do elenco: o pequeno Jonah Wren Phillips. A transformação pela qual seu Oliver passa ao longo da trama já o elevou ao status de mini ícone do terror do ano. São com eles as cenas mais perturbadoras, em ocasiões que fica quase impossível não desviar os olhos da tela.

A direção dos Philippou em Faça Ela Voltar segue competente, com ótimos enquadramentos e cuidado aos detalhes (preste atenção nos círculos). Como Piper é deficiente visual, a câmara brinca muito com imagens desfocadas, o que faz um paralelo interessante com a condição da personagem.

O roteiro, assinado em parceria com Bill Hinzman, consegue balancear bem o terror e o drama, no entanto deixa um gostinho de quero mais ao esconder muito sobre a origem do ritual. Mas isso é apenas eu reclamando de barriga cheia (o trocadilho fará sentido quando você assistir ao filme).

Escala de tocância de terror:

Título original: Bring Her Back
Direção: Danny Philippou e Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman
Elenco: Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong
Origem: Austrália

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CRÍTICA: Prédio Vazio (2025)

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Prédio Vazio

“Quer viver um sonho lindo que eu vivi?
Vá viver a maravilha de Guarapari”

Assim diz a letra da antiga valsinha de Pedro Caetano interpretada por Nuno Roland. Cidade do litoral do Espírito Santo, Guarapari fica bastante animada no verão, especialmente durante o carnaval onde costuma ser muito visitada por turistas. Em baixa temporada acaba sendo uma ótima pedida para curtir alguns dias de descanso, comer um peixe e tomar uma cerveja num quiosque à beira do mar.

E é buscando viver o sonho guarapariense que Marina (Rejane Arruda) resolve juntar-se ao companheiro para curtir a folia de momo no início de “Prédio Vazio“. Porém o sonho começa a virar pesadelo ao se hospedar em um antigo e decrépito edifício onde nada funciona… Enquanto conversa ao telefone com a filha, Marina presencia a morte de uma antiga moradora do prédio e, para completar, descobre que o parceiro a traiu. Ao entrar em uma violenta briga com ele, o embate só não tem um final trágico graças à intervenção da zeladora Dora (Gilda Nomacce) que nocauteia o brutamontes com um martelo.

Preocupada com a mãe, Luna (Lorena Corrêa) decide ir para Guarapari e o simpático e apaixonado Fábio (Caio Macedo), mesmo contra a vontade dela, vai junto. Lá chegando, dão de cara com a porta do Edifício Magdalena que, com o final da temporada, parece completamente vazio. Dando um “jeitinho” de conseguir entrar no prédio o casal vai descobrir da pior forma que, contrariando o título do filme, o prédio de vazio não tem nada!

O diretor Rodrigo Aragão, que o Toca o Terror acompanha a obra há muito tempo (a gente exibiu A Noite do Chupacabras em 2013!) e também já teve o prazer de encontrar e bater papo algumas vezes, dessa vez resolve contar uma história mais urbana, ambientada em sua cidade natal.

Rodrigo, entre quilos de maquiagem e galões de sangue falso, gosta de abordar algumas temáticas sociais e em Prédio Vazio não fez diferente. O filme além de ser um conto de fantasmas, também é uma crítica ao desmatamento e consequente crescimento urbano desenfreado. “Um desperdício de espaço” como diz o motorista que leva Luna e Fábio ao amaldiçoado edifício.

O decadente Edifício Magdalena, fruto da direção de arte de Priscilla Huapaya, remete aos filmes de Bava e Argento, com seus vitrais coloridos dando deixa para a fotografia de Alexandre Barcelos usar uma paleta com tons esverdeados e/ou avermelhados nos personagens. O prédio, obviamente, também traz similaridades ao elevador e os corredores de “O Iluminado“, de Stanley Kubrick. Algumas das mortes (das agora almas atormentadas) que nos são apresentadas por flashbacks ou pelo prólogo, como é o caso do simpático casal de velhinhos, impactam pela caprichada maquiagem e efeitos práticos com a assinatura do parceiro de longas datas, Joel Caetano, e supervisionadas pelo próprio diretor.

Algumas coisas infelizmente não funcionam tão bem em “Prédio Vazio“: a montagem, que só engata no último terço do filme, quando a obra abraça aspectos mais surreais. Em relação ao elenco, o casal protagonista não tem uma química muito boa apesar dos personagens funcionarem de forma independente e algumas escolhas estéticas também não me agradaram (aí é questão pessoal). Mas isso não atrapalha o conjunto da obra que é mais uma mostra do comprometimento, esmero e amor ao gênero que o diretor tem mostrado em toda sua carreira.

Curiosidades: O filme faz parte de um projeto chamado “Filme-Escola” onde Aragão aproveita a realização da obra para ensinar um grupo de alunos a fazer cinema (dessa vez foram mais de 100 pessoas!). Os fãs poderão perceber vários easter eggs remetendo a outros filmes do “Aragãoverso”, como “O Cemitério das Almas Perdidas” e “A Mata Negra“. Houve ainda a estreia da filha mais nova do casal Rodrigo Aragão e Mayra Alarcón (que também faz uma pontinha em uma cena em que sai do elevador), Alícia Margarida Aragão.

Prédio Vazio, que estreou no 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, recebeu o Prêmio Retrato Filmes de distribuição no valor de R$ 100.000,00 (Cem mil reais), garantindo sua chegada aos cinemas no próximo 12 de junho. Prestigiem!

Escala de tocância de terror:

Título original: Prédio Vazio
Diretor: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Elenco: Rejane Arruda, Gilda Nomacce, Lorena Corrêa e Caio Macedo
Origem: Brasil
Ano de produção: 2024

* Filme visto em pré-estreia promovida pela Sinny Comunicação e Retrato Filmes

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CRÍTICA: O Ritual (2025)

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O Ritual

Jesus, às vezes, se disfarça de filme ruim pra testar a bondade dos homens. Só isso explica a existência de O Ritual (The Ritual, 2025), escrito e dirigido por David Midell. Essa presepada é mais uma produção que se apresenta sob a alcunha de “baseada numa história real”, que inclusive teria inspirado William Peter Blatty a escrever O Exorcista. Ok, vamos lá.

No ano de 1928, na cidade de Earling, em Iowa, uma jovem chamada Emma Schmidt (Abigail Cowen) está encapetada já há um certo tempo. Para resolver essa peleja de uma vez por todas, a igreja católica convoca o sacerdote Theophilus Riesinger (Al Pacino). Nessa missão, ele terá ao seu lado o padre Joseph Steiger (Dan Stevens) e a freira Rose (Ashley Greene).

Theophilus Riesinger e Joseph Steiger realmente existiram e o exorcismo de Emma Schmidt é considerado um dos casos de possessão mais documentados do século XX, incluindo até uma reportagem na revista Time. Mas isso tem no Wikipedia, aqui você vai ficar sabendo como David Midell conseguiu fazer um dos piores filmes de terror do ano.

Para início de conversa, o longa é um festival de clichês. Prepare-se para ver uma jovem amarrada na cama, sofrendo com chagas e feridas, gritando blasfêmias e fazendo objetos se moverem com a força da mente; enquanto os mocinhos rezam e mostram crucifixos.

Depois de tantos filmes de exorcismo, o público até se conforma que verá esse tipo de dinâmica, o problema é que o roteiro nem sequer tenta trazer um mínimo de criatividade. Pior, ele copia a mesma relação padre experiente/padre inexperiente de O Exorcista, incluindo aí uma morte traumática na família do personagem mais jovem.

(Pessoas de bom coração dirão que não tem como fugir, já que foi essa história que inspirou o livro, mas a gente sabe que isso é balela).

Há também o fato de que todos os protagonistas são apresentados em minutos, o que faz com que nenhum drama realmente importe para o espectador. Nem mesmo a pobre da possuída desperta nossa simpatia. E quando o demônio usa os traumas dos personagens contra eles (outra clichê do gênero), isso tem zero impacto, pois… ninguém liga.

Visualmente, O Ritual também é sofrível. A maquiagem é até competente, mas nada marcante. A fotografia é podre e, não satisfeito em falhar como roteirista, David Midell também teve as piores escolhas na direção, com uma INJUSTIFICADA câmera na mão, para dar às cenas um ar documental (Talvez? Sei Lá!).

No meio dessa lambança toda, duas boas ideias surgem. Um suposto affair entre o padre Steiger e irmã Rose; e como o exorcismo está impactando a pequena comunidade rural, com pessoas em pânico e animais morrendo. No entanto, nada disso vai adiante.

E se você chegou até aqui perguntando o que levou Al Pacino a entrar nessa barca furada, nem Jesus sabe a resposta. Em um determinado momento seu personagem abre a boca para dizer: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Sim, meteram essa frase em 2025, esperando causar impacto. Que Deus te elimine.

Escala de tocância de terror:

Direção: David Midell
Roteiro: David Midell
Elenco: Al Pacino, Dan Stevens e Ashley Greene
Origem: EUA

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