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Críticas

CRÍTICA: O Pálido Olho Azul (2022)

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Pálido olho azul

Colocar Edgar Allan Poe como personagem de um filme de suspense já não tinha sido uma boa ideia lá em 2012, em “O Corvo“, com John Cusack na pele do escritor que se vê na obrigação de desvendar uma série de crimes. E não é que, 10 anos depois, em “O Pálido Olho Azul” (The Pale Blue Eye, 2022), lá está nosso aclamado poeta e contista em meio a uma investigação criminal?

Aqui, no entanto, Poe não conduz à caçada ao serial killer. A trama começa quando Augustus Landor (Christian Bale) é chamado para averiguar um caso mórbido ocorrido na Academia Militar dos EUA, em West Point, Nova York, no ano de 1830. O investigador particular traz dois traumas na bagagem: a morte da esposa e a fuga da filha com um desconhecido.

No quartel, ficamos sabendo que um jovem soldado foi encontrado morto e, no necrotério, teve o coração arrancado do peito. O culpado deve ser achado o mais rápido possível para que o crime não abale a reputação da instituição. É então que o cadete E. A. Poe, que não nutre grande simpatia pelos seus colegas de farda, se oferece para auxiliar na investigação.

A forma como Edgar Allan Poe – que realmente serviu em West Point – se encaixa no roteiro é a primeira decepção. No release enviado para a imprensa, o diretor e roteirista Scott Cooper afirmou o seguinte: “o que quisemos dizer é que os eventos que ocorrem no filme moldaram a visão de mundo dele, e o ajudaram a tornar-se o escritor que conhecemos. Há temas como a morte, a perda, o luto pelos mortos… Tudo é parte do romantismo sombrio da obra de Poe”.

Não sei como é no livro no qual “O Pálido Olho Azul” se baseia, mas a impressão que fica é que seu papel dentro da trama (totalmente fictícia, claro) é só uma espécie de easter egg. Pois tirando uma alusão aqui e ali (como um corvo gritando no corte de uma cena para a outra ou uma breve referência ao poema Lenora), o escritor podia muito bem ser substituído por um personagem original qualquer.

É de se elogiar, porém, a atuação de Harry Melling. Mesmo que não exista nenhuma filmagem ou gravação de Poe para se orientar, o ator moldou trejeitos e formas de falar e agir que passam credibilidade ao espectador. A semelhança física, é verdade, ajudou bastante. As demais atuações estão dentro do que se espera da qualidade dos atores: Christian Bale, Toby Jones, Lucy Boynton e Robert Duvall (em uma pequena ponta).

Só que nenhum elenco afiado salva um roteiro atolado em muletas, como um especialista em magia negra que surge do nada ou um diário que cai milagrosamente nas mãos dos nossos heróis. Mas seria fácil perdoar essas conveniências, se não fosse o marasmo que se vê em tela.

Falta impacto e incômodo, e sobra apatia, em “O Pálido Olho Azul“. E não estou falando da melancolia das obras de Poe, e sim de chatice mesmo. As revelações se resumem a descobertas súbitas, incluindo uma cena no melhor estilo Scooby-Doo de se explicar a conclusão de um mistério.

Assista pelo visual (figurinos e direção de arte muito bons na recriação da época) e pela dupla Harry Melling e Christian Bale, mas não espere muita coisa. Como disse o Corvo, no mais famoso poema de Edgar Allan Poe: nunca mais! *

* (Piada infame sugerida por Jarmeson de Lima, reclamem com ele)

Escala de tocância de terror:

Título original: The Pale Blue Eye
Direção: Scott Cooper
Roteiro: Scott Cooper (baseado no livro de Louis Bayard)
Elenco: Christian Bale, Harry Melling e Lucy Boynton
Origem: EUA

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CRÍTICA: Desconhecidos (2025)

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Desconhecidos

A graça de ver filmes em uma narrativa não-linear é que a todo instante nossa atenção está em jogo para ligar os pontos e entender melhor a história como um todo. É com base neste recurso de edição que “Desconhecidos” (Strange Darling) de JT Mollner se dá bem.

É explicado desde o início que esta é uma história em seis capítulos. Sendo que o filme já começa no Capítulo 3! E esta é justamente uma das sequências mais instigantes do longa para prender a atenção do espectador desde o começo.

O lance, é que nesta aparente perseguição entre homem e mulher em alta velocidade, sabemos muito pouco sobre cada um deles. A introdução de quem é quem e suas motivações só aparece na parte 5 de “Desconhecidos“, que equivale ao “Capítulo 2”.

Pode parecer confuso, mas funciona como um slasher também. Ainda assim, a Miramax que lançou o filme não estava botando fé e tentou na pós-produção organizar o filme em um formato convencional na ordem em que as cenas ocorrem sem consentimento do diretor.

Diante dessa briga, JT Mollner retomou as rédeas da obra se apegando a cláusulas contratuais. E foi possivelmente por conta desse impasse que estamos vendo este filme sendo lançado tão tardiamente.

Mesmo passando metade de “Desconhecidos” sem termos certeza de quem está com razão ou quem é a real vítima, a atuação de Willa Fitzgerald é a que engrandece um filme com um roteiro aparentemente tão simples, mas cheio de reviravoltas. Mas se o título nacional se refere de forma vaga aos principais personagens, isso também se deve porque eles não tem nome na trama. Foi até uma boa sacada.

Veja sem ficar com pé atrás e curta a diversão regada a sangue e muitos tiros.

Escala de tocância de terror:

Título original: Strange Darling
Diretor: JT Mollner
Roteiro: JT Mollner
Elenco: Willa Fitzgerald, Kyle Gallner, Madisen Beaty, Barbara Hershey e outros
Ano de lançamento: 2025

* Filme visto em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Espaço Z e Paris Filmes

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CRÍTICA: Entre Montanhas (2025)

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Entre Montanhas

Diretor de O Exorcismo de Emily Rose, Livrai-nos do Mal e O Telefone Preto, é inegável que Scott Derrickson transformou seu nome numa pequena grife. Com um currículo recheado de filmes medianos, mas lucrativos, foi nele que a Apple TV apostou para comandar Entre Montanhas (The Gorge, 2025), escrito por Zach Dean, autor de A Guerra do Amanhã e Velozes & Furiosos 10.

Na trama, acompanhamos dois snipers excepcionais que são recrutados para passarem um ano vigiando um desfiladeiro num lugar remoto, cuja localização é desconhecida de ambos. Levi (Miles Teller) é um ex-fuzileiro americano, deprimido e sem amigos. Drasa (Anya Taylor-Joy) é uma mercenária bielorrussa em luto pela morte do pai.

Descobrimos então que o tal precipício é o lar de criaturas maléficas e que a missão deles é impedir que as coisas saiam do buraco. Eles, porém, não estão juntos, cada um fica de um lado do abismo, isolado em sua própria torre, armados até os dentes, mas impedidos de se comunicarem.

Essa regra, claro, é quebrada. Aí rola uma química, uma paquera, o casal se apaixona e resolve se encontrar. Quando os monstros promovem um ataque pesado e eles precisam agir juntos, Entre Montanhas vira uma mistura de Sr. & Sra. Smith com Resident Evil, que passeia por vários gêneros: terror, ficção científica, ação e comédia romântica.

O problema é que, em nenhum deles, o filme empolga. E olhe que são quase duas horas e um roteiro que entope o longa com várias revelações. Scott Derrickson até nos brinda com uma cena boa, aqui e ali, e a dupla de protagonistas se esforça para nos dar um casal com um mínimo de química.

Só que a história de Zach Dean funcionaria melhor como um videogame, onde a jogabilidade preencheria o espaço da ação. Apenas assisti-la é totalmente desinteressante. A sub-trama sobre quem comanda a vigilância do desfiladeiro ainda deixa a participação de Sigourney Weaver subaproveitada.

Entre Montanhas começa com uma premissa interessante, um bom background dos personagens, mas quando o bicho pega é uma repetição de tudo que a gente já viu. Isso nem seria ruim, se fosse uma repetição de tudo que a gente já viu e gostou. Com ação genérica e soluções fáceis, é só tédio mesmo.

Escala de tocância de terror:

Título original: The Gorge
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Zach Dean
Elenco: Anya Taylor-Joy, Miles Teller e Sigourney Weaver
Origem: EUA e Inglaterra

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CRÍTICA: O Macaco (2025)

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O Macaco

Diferente de suas obras anteriores, Osgood “Oz” Perkins aproveitou o apadrinhamento de James Wan na produção pra entregar uma divertida comédia ácida de terror. Sim, o que “O Macaco” (The Monkey) tem de gore, tem também de humor acidental. E no caso, “acidental” vai ser algo muito visto ao longo da duração deste filme.

Quem já viu os longas anteriores de Perkins, pode até se questionar como é que o diretor de “February” e “Longlegs” ia conseguir fazer essa adaptação de um conto de Stephen King. Até porque sabemos que dentro da enorme produção literária do escritor americano, poucas são as adaptações que se salvam.

Este conto, inclusive, mostra apenas a ideia de onde parte o filme. E assim como ocorre na maioria dos casos, foi só a fagulha que iniciou o incêndio em forma de roteiro no qual Oz se esbaldou.

Iniciando em forma de flashback e narrações em off, “O Macaco” remonta a história de quando os irmãos Hal e Bill (Christian Convery / Theo James) descobriram de repente em sua casa um boneco de macaco que trazia consigo baquetas nas mãos e um tambor no colo.

Off: Dizem que este macaquinho deveria vir com dois pratos nas mãos, mas este tipo aí já tinha sido licenciado pela Pixar quando fizeram “Toy Story”…

Mas bem… voltando ao filme da vez… Os gêmeos Hal e Bill que não se davam bem, descobriram o macaco e logo viram que aquilo não era brinquedo não. E a menção de que o tal macaco não era um brinquedo é algo recorrente nessa trama. É como se Oz estivesse falando que o que a gente está vendo não é uma comédia normal. E de fato não é… A gente vê diversas mortes grotescas em cena e sabe que aquilo ali não é algo comum no cinema de horror mainstream. Pra brincar com esse nível de gore e crueldade recentemente, só “Evil Dead Rise” e os “Terrifier” tiveram coragem de fazer.

O Macaco“, diga-se de passagem, é mais um terrir do que um filme sério. E considerando o que Oz Perkins já fez, isso é estranho. E é estranho mesmo pra quem acha que toda comédia com horror é igual. Mas quem já viu os splatters da década de 80, vai achar a dinâmica deste longa bem de boa.

Com uma alta contagem de mortes, tudo o que dá errado começa quando alguém dá corda no tal macaco “de brinquedo”. Bastam as baquetas descerem e rufarem os tambores para algo ruim acontecer. E quando digo “algo ruim”, já imagine uma cena bem bizarra ao nível dos “acidentes” que rolavam na franquia “Premonição” com uma pitada maior de sarcasmo e exagero.

A duração relativamente curta de “O Macaco” também ajuda a gente a aproveitar a história que não traz detalhes desnecessários e nem se esforça em explicar o que acontece nas cenas. Basicamente o artefato é maligno e pronto. As pessoas morrem e a vida é assim.

Escala de tocância de terror:

Título original: The Monkey
Direção: Osgood Perkins
Roteiro: Osgood Perkins (baseado em conto de Stephen King)
Elenco: Theo James, Christian Convery, Tatiana Maslany e outros
Ano de lançamento: 2025

* Filme visto em cabine de imprensa promovida pela Espaço Z no Cinemark Rio Mar – Recife

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