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Críticas

CRÍTICA: Tigers Are Not Afraid / Vuelven (2017)

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Vuelven

[Por Frederico Toscano] *

Guillermo Del Toro deveria ter dirigido isso”, é a primeira coisa que vem à cabeça. Mas não. O filme é de Issa López, que além de cineasta, é escritora, e já ganhou o National Novel Award concedido pelo Instituto de Belas Artes e Literatura do México. Mas a referência faz sentido. “Tigers are not Afraid” / “Vuelven” é uma espécie de conto de fadas, contemporâneo e sombrio, bem ao gosto do diretor mais famoso.

Nele, crianças que moram em uma favela mexicana acabam se envolvendo com traficantes, após uma delas roubar um celular com vídeos de execuções. A partir daí, elas passam a perambular pela periferia, tentando sobreviver à violência, ao frio, à fome e ao abandono, contando apenas uns com os outros e suas imaginações infantis.

O sobrenatural vem pela forma como a protagonista, a menina Estrella (Paola Lara, talentosíssima), enxerga o mundo, acreditando que possui três pedaços de giz mágicos, capazes de realizar desejos. Contudo, bem ao estilo do clássico conto de horror A Pata do Macaco, algo sempre dá terrivelmente errado a cada vez que ela faz um pedido. Ou assim ela acredita.

A história de Vuelven caminha sobre a linha tênue que separa o real do fantástico, pendendo para um lado e para o outro até o espetacular final. As crianças roubam todas as cenas. Cada um dos pequenos atores criam personagens inesquecíveis – e, por vezes, bem engraçados.

Mas não se engane, isso aqui não é Os Goonies ou mesmo Stranger Things. Apesar do sobrenatural, é a vida real que mais traz sofrimento e tristeza para esses meninos. E há muito de ambos.

Com uma história incrível – e que poderia facilmente se passar no Brasil -, direção delicada, grandes atuações e algumas imagens bem tenebrosas, Vuelven é obrigatório para quem gosta de filmes belos e tristes. O horror é só bônus. Pra quem se interessar, ele se encontra disponível na plataforma Shudder.

Escala de tocância de terror:

Título original: Vuelven
Diretora: Issa López
Roteirista: Issa López
País de origem: Mexico

* Especial para o Toca o Terror

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CRÍTICA: Extermínio – A Evolução (2025)

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Extermínio - A Evolução

Quer arruinar uma franquia e não sabe como? Pergunte a Danny Boyle e Alex Garland. Fizeram juntos o primeiro hit de filmes de “zumbis/infectados” nos anos 2000 com o primeiro Extermínio(28 Days Later) para chegar agora com um arremedo das piores temporadas de “The Walking Dead” e “Guerra Mundial Z” em paisagens rurais.

Cercado de expectativas, o novo longa desses “pioneiros” na revitalização do gênero acabou repleto de soluções fáceis e uma história forçada com cenas que explodem de clichês. Da premissa original, praticamente o que conhecemos da franquia só aparece no começo pra contextualizar a parada. Poucos minutos depois, surge o título na tela e é como se “Extermínio – A Evolução” fosse outro negócio. É quando começam a despontar coisas, no mínimo, questionáveis.

Pois bem… de 28 dias, passaram-se 28 semanas e agora são 28 anos no pobre reino da Grã-Bretanha. O fato é que o vírus da Raiva do Cão Chupando Manga se alastrou de forma incontrolável pela Inglaterra e os países na Europa acharam por bem isolar o país numa quarentena sem fim. A ilha ficou em estado de Gaza sem ajuda e sem nenhum tipo de empatia por parte do mundo. Então quem ficou por lá já se presume que morreu ou está como um morto-vivo ambulante.

Mas ainda assim, existem sobreviventes que estão em uma pequena aldeia em uma ilhota ligada ao continente por uma passagem estreita que só pode ser usada na maré baixa. É nesta típica aldeia de recursos escassos que vivem Spike (Alfie Williams), seu pai aventureiro Jamie (Aaron Taylor-Johnson) e sua mãe Isla (Jodie Comer), que sofre de uma doença crônica não-detectada.

Vez por outra os habitantes da aldeia cruzam a travessia e vão caçar e treinar seus filhos em um terreno bem maior que o povoado onde se abrigam. É por lá que Spike vai aprender a matar infectados e ter um primeiro contato com uma Inglaterra devastada e isolada do mundo. É também quando os problemas de “Extermínio – A Evolução” começam a ficar evidentes…

Não satisfeitos com os inserts, flashbacks e placas/legendas que mostram até para o espectador mais desavisado o que está acontecendo, Boyle/Garland metem um “dadsplaining” em que Jamie vai detalhando tudo o que se passa a seu filho. Aparentemente é tudo coisa que a escola da vila não ensina às crianças e jovens da ilha.

É graças a essas divagações que começamos a ver que não existem só os infectados-maratonistas tão conhecidos do primeiro filme. Agora existem também os Rastejadores(!), que são infectados obesos que se arrastam de forma discreta e silenciosa… E como se não bastasse isso, temos aqui os infectados “Alfa” que são mais fortes e inteligentes que os demais. Qualquer semelhança com produções ruins tipo “Army of the Dead” não é lá muita coincidência, tendo em vista que até infectada grávida aparece em cena.

Na tentativa de tentar dar um viés crítico e mais político à trama, militares vindos de uma certa organização do Atlântico Norte surgem do nada no meio da história para ajudar a situar os personagens sobre o que está acontecendo no mundo exterior. E se você pensa que já viu coisa demais, creia que o longa ainda cai na cafonice trazendo uma tentativa de superação de traumas e conformismo com a morte.

Se no primeiro filme, a raiva era transmitida por animais e as pessoas tinham o maior receio em até estar junto deles, aqui vemos até os pássaros beberem sangue de infectados sem acontecer nada demais. Isso sem falar do descuido dos humanos sadios em entrar em contato com o sangue dos doentes no meio da confusão generalizada.

Incoerente e repleto de situações que extrapolam nossa boa vontade, “Exterminio – A Evolução” só vale a pena assistir se você não tiver visto nenhum outro filme de mortos-vivos nos últimos 28 anos.

Escala de tocância de terror:

Titulo original: 28 Years Later
Direção: Danny Boyle
Roteiro Alex Garland
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Jodie Comer, Alfie Williams e mais
Ano de lançamento: 2025

* Filme visto em Cabine de Imprensa promovida pela Espaço Z no Cinemark RioMar Recife

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CRÍTICA: Prédio Vazio (2025)

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Prédio Vazio

“Quer viver um sonho lindo que eu vivi?
Vá viver a maravilha de Guarapari”

Assim diz a letra da antiga valsinha de Pedro Caetano interpretada por Nuno Roland. Cidade do litoral do Espírito Santo, Guarapari fica bastante animada no verão, especialmente durante o carnaval onde costuma ser muito visitada por turistas. Em baixa temporada acaba sendo uma ótima pedida para curtir alguns dias de descanso, comer um peixe e tomar uma cerveja num quiosque à beira do mar.

E é buscando viver o sonho guarapariense que Marina (Rejane Arruda) resolve juntar-se ao companheiro para curtir a folia de momo no início de “Prédio Vazio“. Porém o sonho começa a virar pesadelo ao se hospedar em um antigo e decrépito edifício onde nada funciona… Enquanto conversa ao telefone com a filha, Marina presencia a morte de uma antiga moradora do prédio e, para completar, descobre que o parceiro a traiu. Ao entrar em uma violenta briga com ele, o embate só não tem um final trágico graças à intervenção da zeladora Dora (Gilda Nomacce) que nocauteia o brutamontes com um martelo.

Preocupada com a mãe, Luna (Lorena Corrêa) decide ir para Guarapari e o simpático e apaixonado Fábio (Caio Macedo), mesmo contra a vontade dela, vai junto. Lá chegando, dão de cara com a porta do Edifício Magdalena que, com o final da temporada, parece completamente vazio. Dando um “jeitinho” de conseguir entrar no prédio o casal vai descobrir da pior forma que, contrariando o título do filme, o prédio de vazio não tem nada!

O diretor Rodrigo Aragão, que o Toca o Terror acompanha a obra há muito tempo (a gente exibiu A Noite do Chupacabras em 2013!) e também já teve o prazer de encontrar e bater papo algumas vezes, dessa vez resolve contar uma história mais urbana, ambientada em sua cidade natal.

Rodrigo, entre quilos de maquiagem e galões de sangue falso, gosta de abordar algumas temáticas sociais e em Prédio Vazio não fez diferente. O filme além de ser um conto de fantasmas, também é uma crítica ao desmatamento e consequente crescimento urbano desenfreado. “Um desperdício de espaço” como diz o motorista que leva Luna e Fábio ao amaldiçoado edifício.

O decadente Edifício Magdalena, fruto da direção de arte de Priscilla Huapaya, remete aos filmes de Bava e Argento, com seus vitrais coloridos dando deixa para a fotografia de Alexandre Barcelos usar uma paleta com tons esverdeados e/ou avermelhados nos personagens. O prédio, obviamente, também traz similaridades ao elevador e os corredores de “O Iluminado“, de Stanley Kubrick. Algumas das mortes (das agora almas atormentadas) que nos são apresentadas por flashbacks ou pelo prólogo, como é o caso do simpático casal de velhinhos, impactam pela caprichada maquiagem e efeitos práticos com a assinatura do parceiro de longas datas, Joel Caetano, e supervisionadas pelo próprio diretor.

Algumas coisas infelizmente não funcionam tão bem em “Prédio Vazio“: a montagem, que só engata no último terço do filme, quando a obra abraça aspectos mais surreais. Em relação ao elenco, o casal protagonista não tem uma química muito boa apesar dos personagens funcionarem de forma independente e algumas escolhas estéticas também não me agradaram (aí é questão pessoal). Mas isso não atrapalha o conjunto da obra que é mais uma mostra do comprometimento, esmero e amor ao gênero que o diretor tem mostrado em toda sua carreira.

Curiosidades: O filme faz parte de um projeto chamado “Filme-Escola” onde Aragão aproveita a realização da obra para ensinar um grupo de alunos a fazer cinema (dessa vez foram mais de 100 pessoas!). Os fãs poderão perceber vários easter eggs remetendo a outros filmes do “Aragãoverso”, como “O Cemitério das Almas Perdidas” e “A Mata Negra“. Houve ainda a estreia da filha mais nova do casal Rodrigo Aragão e Mayra Alarcón (que também faz uma pontinha em uma cena em que sai do elevador), Alícia Margarida Aragão.

Prédio Vazio, que estreou no 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, recebeu o Prêmio Retrato Filmes de distribuição no valor de R$ 100.000,00 (Cem mil reais), garantindo sua chegada aos cinemas no próximo 12 de junho. Prestigiem!

Escala de tocância de terror:

Título original: Prédio Vazio
Diretor: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Elenco: Rejane Arruda, Gilda Nomacce, Lorena Corrêa e Caio Macedo
Origem: Brasil
Ano de produção: 2024

* Filme visto em pré-estreia promovida pela Sinny Comunicação e Retrato Filmes

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CRÍTICA: A Chorona (2019)

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[Por Gilson Moura Henrique Junior]*

Pôster de

A lenda da Chorona é muito popular no México, na América Central e em áreas do norte da América do Sul e no sul do Texas. Trata-se da história de uma mulher vítima de violência e abusos domésticos que mata seus filhos após descobrir a infidelidade de seu marido e que depois se mata, tornando-se um espectro vingativo que vaga nas proximidades de corpos d’água. A este espectro, que supostamente assombra a América desde antes da invasão Espanhola, são atribuídas maldições que causam infortúnios a quem ouve seu choro e até sequestros de crianças.

Cena de

Com esse currículo, era bastante óbvio que seriam feitos filmes a respeito da moça. Em 1961, o cineasta Rafael Baledón dirigiu seu “A Maldição da Chorona” (La maldición de la llorona), produção mexicana que talvez seja a melhor produção sobre a lenda, embora a produção tenha optado por uma licença poética bastante ampla na adaptação. Foi bem elogiado pela crítica por sua direção e atuação que criam um filme gótico com um horror sutil e eficiente.

A lenda ainda foi adaptada para uma animação da Netflix, “A Lenda da Chorona” (2011), virou uma produção da trupe de James Wan/Blumhouse, “A Maldição da Chorona” (2019) e também em 2019 ganhou uma adaptação que quase rivaliza com a obra de 1961. Neste caso, a lenda se insere em um subtexto sobre ditadura, memória, genocídio e esquecimento. Estamos falando do guatemalteco “A Chorona” (La Llorona).

Cena de

Dirigido por Jayro Bustamante, a obra trata de Enrique Monteverde, general que está sendo julgado por genocídio devido à sua atuação como figura de proa da ditadura que governou o país. Embora negue as acusações, ele começa a ouvir uma mulher chorando na sua rica mansão até o ponto em que pega sua arma e quase mata sua esposa ao confundi-la com a mulher. Contido por seu segurança Letona e pela empregada/filha fora do casamento, a indígena Valeriana, o general não teria mais sossego.

Cena de "A Chorona"

 

O ex-militar aposentado, que vive na casa com familiares e os empregados todos de ascendência indígena, vê sua criadagem toda pedir demissão com medo da casa estar amaldiçoada. Diante da situação, ficam só Valeriana, e depois Alma, uma jovem também indígena que misteriosamente chega na casa para trabalhar como empregada e inicia um processo de ampliação da pressão psicológica e sobrenatural sobre o velho e sua família.

Cena de

Em meio a isso, ocorre o tão aguardado julgamento do velho pela Justiça. Mas enquanto o processo judicial se desenrola na Suprema Corte, a família do general encara algo muito além do que o abandono de sua criadagem: um cerco permanente de manifestantes pedindo justiça por seus crimes, que incluem execuções e estupros.

Cena de

Com um pano de fundo calcado no julgamento da Ditadura que governou a república da Guatemala de 1954 até 1993, matando mais de cento e quarenta mil guatemaltecos – algumas entidades de luta por Direitos Humanos calculam mais de duzentos e cinquenta mil vítimas – “A Chorona” tem uma trama de queima lenta, com um horror mais psicológico que explícito, com pouco gore, embora com uma violência simbólica enorme. Vale ressaltar especialmente a forma como a família do militar trata e enxerga os indígenas, como os tolera e justifica cada ato da ditadura, buscando silenciar qualquer questionamento a respeito.

Cena de

A presença de Alma é tão sutil quanto seu nome indica. Seu papel na trama e o crescimento de sua presença como alavancadora da conclusão, amplia a maldição pela transferência da experiência de vítimas da ditadura para a pele dos brancos que silenciam e toleram suas barbaridades em nome do anticomunismo. O filme chega ao clímax com muita beleza e com um peso ampliado pela observação dos muitos mortos pelos generais do ato final de justiça.

Além de um filme muito bom, “A Chorona” é um cuidadoso pedaço de memória sobre processos autoritários que a América Latina viveu. Ele se junta a outro filmaço, “Aparecidos” (2007) como obras que juntam o horror com seu papel crítico e que servem para muito mais que entretenimento.

Alma, protagonista de "A Chorona"

Como não é um filme de terror de shopping, não é um filme para todos os gostos, inclusive por seu perfil que tem generosas doses de drama político, mas se insere no horror sem vergonha de ser uma obra do gênero e entrega com louvor cada pedaço em que a tensão e o medo precisam estar presentes.

A Chorona” está disponível no Prime Vídeo/Looke e nas locadoras populares.

Escala de tocância de terror:

Titulo original: La Llorona
Direção: Jayro Bustamante
Roteiro: Jayro Bustamante e Lisandro Sanchez
Elenco: María Mercedes Coroy, Sabrina De La Hoz, Margarita Kenéfic e mais
Ano de lançamento: 2019

* Gilson Moura Henrique Junior é mestre e doutorando em História pelo PPGH-UFPEL, tricolor carioca, comunista, petista, amante e estudioso de cinema de horror

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