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CRÍTICA: Regressão (2016)

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Regressão

[Por Júlio Carvalho]

De cara somos informados que na década de 80, uma onda de rituais satânicos apavora a população americana e que esse filme é baseado em fatos reais. A trama de “Regressão” (Regression), na verdade, se passa em 1990 na cidade de Hoyer, Minnesota. O engodo começa quando um cara se entrega à polícia local alegando que abusa sexualmente de sua filha, mas que não se lembra disso. A vítima, Angela Grey (Emma Watson), fugiu de casa, mora na igreja e enviou uma denúncia escrita na qual ela descreve os estupros sofridos. Mesmo sem lembrar, o homem não nega as acusações.

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Diante amnésia do suspeito, o detetive Bruce Kenner (Ethan Hawke) decide que precisa de um psicólogo pra ajudá-lo com o caso, e é aí que entra o Professor Kenneth Raines (David Thewlis) que acredita que o método de regressão seja a única maneira de despertar essas tais memórias reprimidas por parte do pai agressor. A merda começa a feder quando logo na primeira sessão, o suspeito confesso começa realmente a se lembrar de uma das suas visitas ao quarto da garota. Só que além de ambos, tinha mais alguém no quarto: um policial do departamento.

De agora em diante, a cada depoimento de Angela (Watson), o caso ganha elementos cabulosos como rituais satânicos, orgias, canibalismo, etc. A medida em que tudo vai ficando mais sinistro, o cético detetive começa a ficar afetado com o caso e começa a cogitar a presença do Diabo na treta toda. A quimica entre Bruce e Kenneth funciona muito bem. Tanto Ethan Hawke quanto David Thewlis nos conferem carisma pelos seus personagens. Já Emma Watson, ao contrário da bruxinha cheia de atitude que todos conhecem, está numa atuação mais contida e necessária ao drama da pobre Angela.

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Anemámbar (Os Outros, Abra los Ojos, Thesis) sabe conduzir a trama de “Regressão” de forma exemplar. O jogo constante de dúvida e paranoia lembra clássicos como O Bebê de Rosemary (1968) e O Homem de Palha (1973), por exemplo. Quanto mais informações o detetive Kenner coleta, mais cabuloso o caso fica. Claro que o belo visual, com suas cores fortes em ambientes sombrios e úmidos, concebido pelo diretor de fotografia Daniel Aranyó ajuda muito. Vale destacar também a trilha sonora criada por Roque Baños que, mesmo não chamando a atenção para si com melodias chicletes, sutilmente fica na cabeça.

Apesar dos elogios, temos um tropeço bobo. Em certo momento, um pôster de uma banda de Black Metal polonesa chamada Behemoth ganha destaque em cena por alguns segundos.
– Sim, mas qual o problema, Júlio? Faz sentido, não?
– Faria, se o filme não se passasse em 1990, fera.
Só pra constar, a foto em questão é de 2013/14 e essa banda se formou em 1991. Tudo errado. Até comentei isso com minha esposa no ato. Bom, se era pra fazer essa referência, bastava pesquisar no Google por alguma banda da época, né, produção?

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Temas como o poder de sugestão, histeria coletiva, satanismo, o medo que a mídia espalha, etc, são uma constante durante todo o enredo. Mas talvez, ironicamente, o grande problema de Regression seja que, por ser tão bem construído e nos levar à paranoia junto com o protagonista, tudo leva à uma conclusão que soa brochante e acaba nos fazendo lembrar do aviso inicial de que tudo aqui se trata de fatos reais. Um pena que aquela nostalgia boa dos clássicos não dure tanto.

No fim das contas, mesmo aceitando o seu desfecho sem sal, não dá pra negar que um pouco de dualidade não faria mal algum. Pelo contrário, enriqueceria a obra e não me faria chegar a triste conclusão que estamos falando de um bom filme que – mesmo contando com um belo roteiro, grande elenco e um diretor de peso – será facilmente esquecido.

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Escala de tocância de terror:

Nota 1 : Uma curiosidade aqui é que mesmo com essas celebridades, o longa vem rodando pela Europa e Ásia desde setembro de 2015, mas só vai estrear nos EUA agora em 2016. Vai entender.

Nota 2: No IMDB consta que o filme é falado em espanhol, mas na verdade é em inglês mesmo.

Diretor: Alejandro Amenábar
Roteiro: Alejandro Amenábar
Elenco: Emma Watson, Ethan Hawke e David Thewlis
Origem: Canadá / Espanha

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0 Comments

  1. Helton Azevedo

    10 de fevereiro de 2016 at 17:27

    Gosto muito do Ethan Hawke… Tem feito muita coisa legal!

  2. ju

    9 de março de 2016 at 18:01

    pra quem, como eu, sabe da história, o único final possível era esse mesmo, o que não deixou o filme previsível só mais factível. Achei um filme excelente!

  3. Aline L.

    17 de agosto de 2016 at 16:06

    Falou tudo: desfecho sem sal. Uma pena, poderia ser mto melhor!

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CRÍTICA: Rua do Medo – Rainha do Baile (2025)

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Rua do Medo - Rainha do Baile

Comprada pela Netflix, a franquia “Rua do Medo” (Fear Street) se revelou um baita sucesso para a plataforma de streaming. Os primeiros filmes arrebataram tanto os fãs dos livros em que foi baseada, como também um novo público. E agora quatro anos depois daquele primeiro lançamento, um novo filme foi lançado.

No ano de 1988, a cidade de Shadyside está prestes a presenciar mais um massacre quando um misterioso assassino mascarado está eliminando todas as candidatas a Rainha do Baile e qualquer um que apareça em seu caminho. Alheias a isso num primeiro momento, as candidatas se envolvem em dramas teens no mesmo estilo Meninas Malvadas (2004) e vão em breve descobrir que os problemas adolescentes são os menores dos problemas que enfrentarão.

Eu já adianto que não sou grande fã da franquia. Gostei mesmo do segundo filme “Rua do Medo: 1978” (2023) que é uma homenagem aos slashers de acampamento. Partes do terceiro filme da saga, “Rua do Medo: 1666” (2023) também merece uma olhada, já que ele segue a linha do folk horror. Dito isso, não estava muito animado com o hype para esse novo capítulo da saga.

Ainda assim posso dizer que a produção me surpreendeu. E como era de se esperar, “Rua do Medo: Rainha do Baile” é um divertido slasher teen no melhor e pior sentido. A estrutura básica é a mesma de sempre, podendo ter desenvolvido mais a maioria das personagens para que não fossem só pedaços de carne indo para o abate. Eu sei que a maioria dos slashers são assim e eu amo, mas seria um diferencial. A protagonista tem um bom pano de fundo e a atriz é carismática, coisa que não aconteceu com as protagonistas dos filmes anteriores.

A direção é bem convencional e poderia ter brilhado nos momentos de perseguição, mas eu acho que o diretor estava com certa preguiça de criar tensão nesses momentos ou medo de deixar o público alvo muito nervoso. Agora, onde o filme brilha mesmo são nas sequências de assassinatos. O sangue jorra e o longa brilha prestando homenagens a slashers não tão conhecidos como “Quem Matou Rosemary“, “Pouco Antes do Amanhecer” e, claro, “A Morte Convida Para Dançar“. Todos vindos dos anos 80.

Resumindo… “Rua do Medo: Rainha do Baile” diverte a quem curte slashers. O filme é meio boboca e sangrento, mas mesmo sem ter muitas conexões com os filmes anteriores, isso não me irritou. E por isso mesmo pode ser visto de forma isolada pra quem ficou com preguiça de ver os demais da série.

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CRÍTICA: Until Dawn – Noite de Terror (2025)

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Until Dawn - Noite de Terror

Eu tenho um carinho especial por Until Dawn. Foi o game que me fez querer de fato um PlayStation 4. Tanto é que ganhei da minha irmã pouco antes de ter o console. E como sabem, slashers são minha paixão antiga. Com isso, a chance de moldar os eventos do game foi muito tentadora. O jogo é uma clássica história desse subgênero e no fim me diverti muito. E quando o filme foi anunciado, fiquei cabreiro. Quando saiu o trailer, o receio parecia real. Hoje, tendo assistido ao longa “Until Dawn – Noite de Terror“, fiquem com as minhas impressões abaixo…

Antes, vamos ao enredo. Uma garota viaja acompanhada com seus amigos a procura de pistas de sua irmã desaparecida um ano atrás. A busca os leva para uma casa no meio do nada que esconde um segredo mortal: todas as noites algo tenebroso ronda o local e o objetivo é sobreviver até o amanhecer, sendo que a morte não significa o fim. Uma vez tendo falhado, você volta pouco antes do anoitecer para uma nova rodada de terror com novas ameaças, repetindo o ciclo até conseguir derrotar as criaturas terríveis ou se tornar parte da escuridão.

Olha, eu nunca imaginei uma adaptação direta do game porque por mais que tenha gostado no fim é uma história básica… Um slasher com todos os clichês possíveis com o diferencial da possibilidade de moldar a história. A adaptação me pareceu ser um roteiro que já estava pronto e os roteiristas e diretor só incluíram alguns detalhes visuais do jogo pra justificar o título como um desses filmes com loop de tempo.

Nunca reclamei de elenco de slashers… Geralmente são atores fracos mesmo e em início de carreira, mas aqui eles meteram o louco e escalaram atores tão ruins, mas tão ruins que não conseguem nem o básico. Sério, fiquei impressionado com a mediocridade desses personagens mesmo sendo rascunho de pessoas e sendo estereótipos ambulantes.

A trama segue fraca servindo uma colcha de retalhos de vários estilos, mas nenhum deles realmente dignos de nota. “Until Dawn” tem, obviamente, jumpscares tão cretinos que até eu que levo susto com minha sombra não fui afetado. O real chamariz é o gore e o filme de fato justifica sua classificação 18 anos. O sangue, vísceras e partes de corpos explodem com gosto pra cima da tela.

Esse filme faz parte de uma iniciativa da PlayStation em expandir suas franquias para outras mídias. Na Tv e no streaming, por exemplo, a série The Last Of Usestá sendo um sucesso total, mas no cinema, a empresa de games ainda não encontrou algo pra chamar de hit. Basta ainda lembrar do fraco “Uncharted: Fora do Mapa” (2023).

Mas bem, sinceramente esperem “Until Dawn – Noite de Terror” em algum serviço de streaming porque no cinema não dá pra recomendar.

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CRÍTICA: Pecadores (2025)

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Se você continua a dançar com o diabo, um dia ele vai te seguir até sua casa.”
Estas são as palavras do pastor Jedidiah para o filho que volta para casa, como na parábola do filho pródigo. Cansado, machucado e arrependido, ele é a testemunha dos acontecimentos que conheceremos ao longo da história de Pecadores (Sinners).

Mississippi, 1932. Os irmãos Elias e Elijah, mais conhecidos como Fuligem e Fumaça (interpretados por Michael B. Jordan), retornam à sua cidade natal após uma temporada em Chicago, com o objetivo de abrir um juke joint (um tipo de inferninho com comida farta, bebida, jogatina e muita música) e recomeçar suas vidas. Para a inauguração do estabelecimento, os gêmeos começam a reunir sua “trupe”.

É assim que conhecemos ‘Pastorzinho’ Sammie (o cantor Miles Caton, em sua estreia), o jovem do começo do filme, primo dos gêmeos, que, apesar da pouca idade, se mostra um talentoso bluesman. O pianista Delta Slim (Delroy Lindo, fazendo jus ao sobrenome como sempre), os Chow (Yao e Helena Hu), Cornbread (Omar Miller) e Annie (Wunmi Mosaku), ex-esposa de Fumaça e sacerdotisa hoodoo, que será responsável pela cozinha do lugar (e também por explicar aos demais os acontecimentos sobrenaturais que virão). Com a chegada inesperada de Mary (Hailee Steinfeld), ex-namorada de Fuligem, o núcleo está completo.

Ryan Coogler, que dirigiu anteriormente filmes como Creed: Nascido para Lutar e os Pantera Negra, não tem pressa em chegar às vias de fato: dedica a primeira hora de Pecadores a um drama com tons ensolarados e ritmo refinado.

O foco está na construção cuidadosa de um mundo marcado pela persistente sombra da escravidão e pelas desigualdades de um Sul dos Estados Unidos em que pessoas que acordam antes do amanhecer para colher algodão recebem o pagamento em moedas de madeira ou títulos de plantação, em vez de dinheiro; presidiários acorrentados trabalham nas estradas; e a Ku Klux Klan que pode, a qualquer momento, bater à sua porta.

Nessa realidade, o blues oferece uma fuga e uma cura. A música, que permeia todo o filme, é refúgio e ponte entre o passado e o futuro. Isso é demonstrado de forma magistral em um dos momentos mais belos — e ao mesmo tempo estranhos — do filme, durante a inauguração do empreendimento dos gêmeos. Mas tanta energia positiva, gerada por aqueles que são musical ou metafisicamente talentosos, acaba atraindo seu oposto. E é aí que entra o charmoso e ameaçador Remmick.

Remmick (Jack O’Connell) bate à porta de Bert (Peter Dreimanis) e sua esposa Joan (Lola Kirke) — que logo descobrimos serem membros da KKK —, pedindo ajuda e alegando estar sendo perseguido por “terríveis indígenas”. No entanto, tudo não passa de um disfarce para conseguir ser convidado a entrar na casa deles. O convite selará seus destinos (e também mudará o ritmo da história dali em diante).

Apesar de ser o primeiro trabalho totalmente autoral de Coogler, Pecadores também confirma parcerias de longa data. O compositor Ludwig Göransson e Michael B. Jordan estão presentes em todos os filmes do diretor. O mesmo vale para a montagem de Michael P. Shawver. A direção de fotografia é de Autumn Durald Arkapaw, que também trabalhou em Pantera Negra: Wakanda para Sempre. Enfim, trata-se de um filme em que o entrosamento da equipe é notável e que Ryan conduz como um blues de Buddy Guy (que faz uma pontinha na cena entre-créditos): de vez em quando tem umas notinhas fora, mas ainda assim é uma obra-prima.

P.S.: Tem uma cena pós-créditos que quem gostou do filme, como eu, vai curtir.

P.S.2: Não vou postar teaser nem trailer pois eles têm muita revelação desnecessária. Aliás, façam como eu e não leiam mais nada além dessa resenha, nem assistam os trailers de Pecadores. Apenas vão pro cinema e assistam (no IMAX, se possível).

Escala de tocância de terror:

Título original: Sinners
Diretor: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Elenco: Michael B. Jordan, Miles Caton, Delroy Lindo
Origem: EUA
Ano de produção: 2024

* Filme visto em pré-estreia promovida pela Espaço Z no IMAX do UCI Recife

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