Críticas
CRÍTICA: Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016)
[Por Jarmeson de Lima e Jota Bosco]
Houve um tempo em que os filmes sobre zumbis se tornaram chatos, previsíveis e repetitivos. Todos eram ambientados num futuro distópico apocalíptico onde os personagens não possuíam carisma e você sentia mais empatia pelos zumbis e pela matança do que pelos protagonistas. Até que um filme inverteu a lógica, voltou alguns séculos no tempo e situou o apocalipse zumbi no Século XIX em uma Inglaterra ainda com seus lordes e costumes de época. Este filme acaba de ser lançado e se chama Orgulho e Preconceito e Zumbis, baseado em obra homônima de Seth Grahame-Smith que por sua vez é um mashup com o clássico de 1813 de Jane Austen.
Mas então, o que esperar de um filme dirigido por um cara que só fez séries de TV e DOIS filmes com Zac Efron? Que tal… a melhor coisa com zumbis que aconteceu recentemente?!! Sim! Orgulho e Preconceito e Zumbis é exatamente o que se propõe! Tudo o que importa da obra de Jane Austen está lá: A trama, os personagens e até várias falas são idênticas ao livro, com o adendo, claro, de zumbis.
Como vemos em uma bela abertura estilo Teatro de Papel, tudo começou com a Peste Negra e sua proliferação nos navios colonizadores. Em semanas, os mortos voltaram caçando carne humana. Londres foi destruída e isolada por muralhas. Os poucos sobreviventes da sociedade inglesa agora vivem isolados entre essas muralhas e o resto da Inglaterra, no chamado “In-Between”. Mesmo assim eles tentam manter seus costumes e tradições mesmo com uma horda de mortos-vivos querendo comer seus cérebros por aí (sim, os zumbis são no estilo A Volta dos Mortos-Vivos!).
Em um baile, as cinco irmãs Bennet, guerreiras especialistas em artes marciais com destaque para Jane (Bella Heathcote, do horrível Dark Shadows, de Tim Burton) e Elizabeth (Lily James, da série Downton Abbey), conhecem Mr. Bingley (Douglas Booth, de Noé. Sim. Aquele com Russel Crowe…) e seu pedante amigo, Mr. Darcy (Sam Riley, que interpretou Ian Curtis em Control), recém-chegados à cidade. Enquanto Mr. Bingley se interessa por Jane, Elizabeth e Mr. Darcy dão início a uma relação de amor e ódio que se estenderá por todo o filme.
Com os romances engatilhados e uma boa dose de ação e humor, a trama vai se desenvolvendo (e se complicando). Apesar de uns furos irrelevantes aqui e acolá, o filme consegue se sustentar muito bem, não apenas pelas soluções criativas do diretor e roteirista Burr Steers, mas também por um casting muito eficiente. Além dos quatro já citados (tirando Douglas Booth. Esse é bem ruinzinho!), os atores e atrizes estão bem à vontade em seus papéis e ainda temos Charles Dance (Game of Thrones), como o pai das belas jovens, e um impagável Matt Smith (Sim! O 11º Doctor Who!) que rouba todas as cenas em que aparece.
Interessante também observar como Lena Headey, depois de Terminator: The Sarah Connor Chronicles e Game of Thrones tornou-se um tipo de “Fernanda Montenegro nerd” e é chamada pra quase toda obra da seção “Filmes de ação com mulheres fortes” do Netflix. Bom pra ela e pra gente, também!
E em um momento em que se discute cada vez mais o protagonismo feminino e o empoderamento das mulheres, vemos que tanto a obra de Jane Austen quanto esta nova adaptação cinematográfica já colocavam estas questões de frente. A personagem Liz Bennet enfrenta tabus, sabe se defender com ou sem armas, desafia o modelo patriarcal de casar e servir a família e não quer ser a coitadinha que é salva por um príncipe.
Por fim, mais alguns detalhes importantes… Nunca vimos um filme de zumbis com tanta produção e capricho em figurino e direção de arte como neste aqui. Apesar de termos uma produção chique e zumbis que são uma representação do horror moderno, o filme não apela pra uma trilha com música pop ou edição frenética. É tudo mais contido, com uma trilha sonora clássica e uma montagem elegante ao contrário do que o trailer sugere.
Nossas considerações finais são: Nada como um autêntica novela com zumbis em tempos de novelas disfarçadas com o uso de zumbis. Deixe seu orgulho e preconceito em casa e vá se divertir no cinema!

Diretor: Burr Steers
Roteiro: Burr Steers
Elenco: Lily James, Sam Riley, Charles Dance e outros
Origem: EUA
* Filme visto na cabine de imprensa promovida pela Espaço Z no Cinemark Recife
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CRÍTICA: Faça Ela Voltar (2025)
Dois anos após o sucesso de Fale Comigo, chega aos cinemas brasileiros o segundo filme dos irmãos Danny e Michael Philippou. Mais uma vez com distribuição da badalada A24, a dupla agora emplaca Faça Ela Voltar (Bring Her Back), um conto de horror suburbano que aborda o luto.
Após perderem o pai, os irmãos Andy (Billy Barratt) e Piper (Sora Wong) são colocados sob os cuidados de Laura (Sally Hawkins), uma ex-assistente social que faz de sua casa uma espécie de lar adotivo. Além deles, vive no local o menino Oliver (Jonah Wren Phillips), uma criança que não se comunica e possui hábitos estranhos.
Não demora para sabermos que Laura tem segundas intenções. Seu objetivo em acolher os órfãos é trazer o espírito da sua filha de volta e colocá-la no corpo de Piper. Para executar esse plano diabólico ela tem em mãos uma fita VHS que contém, literalmente, o passo a passo de um ritual satânico que, entre outras bizarrices, inclui até canibalismo.
Mitologia escatológica à parte, Faça Ela Voltar é mais sobre o sentimento da perda do que qualquer outra coisa. Mesmo retratada na maior parte do tempo como vilã metódica, Laura ainda deixa transparecer seu lado humano. Uma mulher que não aceita a partida da filha e que acaba deturpando seu amor icondicional, por puro desespero.
A dupla de irmãos também ganha sua cota de drama, quando Laura tenta jogar um contra o outro, pois Andy é um empecilho para o que ela planeja. Nada disso, porém, funcionaria se o trio de protagonistas não estivesse tão afiado. Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong conseguem passar credibilidade o tempo todo, seja nos momentos sóbrios ou nos sinistros.
O que nos leva para outro destaque do elenco: o pequeno Jonah Wren Phillips. A transformação pela qual seu Oliver passa ao longo da trama já o elevou ao status de mini ícone do terror do ano. São com eles as cenas mais perturbadoras, em ocasiões que fica quase impossível não desviar os olhos da tela.
A direção dos Philippou em Faça Ela Voltar segue competente, com ótimos enquadramentos e cuidado aos detalhes (preste atenção nos círculos). Como Piper é deficiente visual, a câmara brinca muito com imagens desfocadas, o que faz um paralelo interessante com a condição da personagem.
O roteiro, assinado em parceria com Bill Hinzman, consegue balancear bem o terror e o drama, no entanto deixa um gostinho de quero mais ao esconder muito sobre a origem do ritual. Mas isso é apenas eu reclamando de barriga cheia (o trocadilho fará sentido quando você assistir ao filme).

Título original: Bring Her Back
Direção: Danny Philippou e Michael Philippou
Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman
Elenco: Sally Hawkins, Billy Barratt e Sora Wong
Origem: Austrália
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Críticas
CRÍTICA: Prédio Vazio (2025)
“Quer viver um sonho lindo que eu vivi?
Vá viver a maravilha de Guarapari”
Assim diz a letra da antiga valsinha de Pedro Caetano interpretada por Nuno Roland. Cidade do litoral do Espírito Santo, Guarapari fica bastante animada no verão, especialmente durante o carnaval onde costuma ser muito visitada por turistas. Em baixa temporada acaba sendo uma ótima pedida para curtir alguns dias de descanso, comer um peixe e tomar uma cerveja num quiosque à beira do mar.
E é buscando viver o sonho guarapariense que Marina (Rejane Arruda) resolve juntar-se ao companheiro para curtir a folia de momo no início de “Prédio Vazio“. Porém o sonho começa a virar pesadelo ao se hospedar em um antigo e decrépito edifício onde nada funciona… Enquanto conversa ao telefone com a filha, Marina presencia a morte de uma antiga moradora do prédio e, para completar, descobre que o parceiro a traiu. Ao entrar em uma violenta briga com ele, o embate só não tem um final trágico graças à intervenção da zeladora Dora (Gilda Nomacce) que nocauteia o brutamontes com um martelo.
Preocupada com a mãe, Luna (Lorena Corrêa) decide ir para Guarapari e o simpático e apaixonado Fábio (Caio Macedo), mesmo contra a vontade dela, vai junto. Lá chegando, dão de cara com a porta do Edifício Magdalena que, com o final da temporada, parece completamente vazio. Dando um “jeitinho” de conseguir entrar no prédio o casal vai descobrir da pior forma que, contrariando o título do filme, o prédio de vazio não tem nada!
O diretor Rodrigo Aragão, que o Toca o Terror acompanha a obra há muito tempo (a gente exibiu A Noite do Chupacabras em 2013!) e também já teve o prazer de encontrar e bater papo algumas vezes, dessa vez resolve contar uma história mais urbana, ambientada em sua cidade natal.
Rodrigo, entre quilos de maquiagem e galões de sangue falso, gosta de abordar algumas temáticas sociais e em Prédio Vazio não fez diferente. O filme além de ser um conto de fantasmas, também é uma crítica ao desmatamento e consequente crescimento urbano desenfreado. “Um desperdício de espaço” como diz o motorista que leva Luna e Fábio ao amaldiçoado edifício.
O decadente Edifício Magdalena, fruto da direção de arte de Priscilla Huapaya, remete aos filmes de Bava e Argento, com seus vitrais coloridos dando deixa para a fotografia de Alexandre Barcelos usar uma paleta com tons esverdeados e/ou avermelhados nos personagens. O prédio, obviamente, também traz similaridades ao elevador e os corredores de “O Iluminado“, de Stanley Kubrick. Algumas das mortes (das agora almas atormentadas) que nos são apresentadas por flashbacks ou pelo prólogo, como é o caso do simpático casal de velhinhos, impactam pela caprichada maquiagem e efeitos práticos com a assinatura do parceiro de longas datas, Joel Caetano, e supervisionadas pelo próprio diretor.
Algumas coisas infelizmente não funcionam tão bem em “Prédio Vazio“: a montagem, que só engata no último terço do filme, quando a obra abraça aspectos mais surreais. Em relação ao elenco, o casal protagonista não tem uma química muito boa apesar dos personagens funcionarem de forma independente e algumas escolhas estéticas também não me agradaram (aí é questão pessoal). Mas isso não atrapalha o conjunto da obra que é mais uma mostra do comprometimento, esmero e amor ao gênero que o diretor tem mostrado em toda sua carreira.
Curiosidades: O filme faz parte de um projeto chamado “Filme-Escola” onde Aragão aproveita a realização da obra para ensinar um grupo de alunos a fazer cinema (dessa vez foram mais de 100 pessoas!). Os fãs poderão perceber vários easter eggs remetendo a outros filmes do “Aragãoverso”, como “O Cemitério das Almas Perdidas” e “A Mata Negra“. Houve ainda a estreia da filha mais nova do casal Rodrigo Aragão e Mayra Alarcón (que também faz uma pontinha em uma cena em que sai do elevador), Alícia Margarida Aragão.
Prédio Vazio, que estreou no 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, recebeu o Prêmio Retrato Filmes de distribuição no valor de R$ 100.000,00 (Cem mil reais), garantindo sua chegada aos cinemas no próximo 12 de junho. Prestigiem!

Título original: Prédio Vazio
Diretor: Rodrigo Aragão
Roteiro: Rodrigo Aragão
Elenco: Rejane Arruda, Gilda Nomacce, Lorena Corrêa e Caio Macedo
Origem: Brasil
Ano de produção: 2024
* Filme visto em pré-estreia promovida pela Sinny Comunicação e Retrato Filmes
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Críticas
CRÍTICA: O Ritual (2025)
Jesus, às vezes, se disfarça de filme ruim pra testar a bondade dos homens. Só isso explica a existência de O Ritual (The Ritual, 2025), escrito e dirigido por David Midell. Essa presepada é mais uma produção que se apresenta sob a alcunha de “baseada numa história real”, que inclusive teria inspirado William Peter Blatty a escrever O Exorcista. Ok, vamos lá.
No ano de 1928, na cidade de Earling, em Iowa, uma jovem chamada Emma Schmidt (Abigail Cowen) está encapetada já há um certo tempo. Para resolver essa peleja de uma vez por todas, a igreja católica convoca o sacerdote Theophilus Riesinger (Al Pacino). Nessa missão, ele terá ao seu lado o padre Joseph Steiger (Dan Stevens) e a freira Rose (Ashley Greene).
Theophilus Riesinger e Joseph Steiger realmente existiram e o exorcismo de Emma Schmidt é considerado um dos casos de possessão mais documentados do século XX, incluindo até uma reportagem na revista Time. Mas isso tem no Wikipedia, aqui você vai ficar sabendo como David Midell conseguiu fazer um dos piores filmes de terror do ano.
Para início de conversa, o longa é um festival de clichês. Prepare-se para ver uma jovem amarrada na cama, sofrendo com chagas e feridas, gritando blasfêmias e fazendo objetos se moverem com a força da mente; enquanto os mocinhos rezam e mostram crucifixos.
Depois de tantos filmes de exorcismo, o público até se conforma que verá esse tipo de dinâmica, o problema é que o roteiro nem sequer tenta trazer um mínimo de criatividade. Pior, ele copia a mesma relação padre experiente/padre inexperiente de O Exorcista, incluindo aí uma morte traumática na família do personagem mais jovem.
(Pessoas de bom coração dirão que não tem como fugir, já que foi essa história que inspirou o livro, mas a gente sabe que isso é balela).
Há também o fato de que todos os protagonistas são apresentados em minutos, o que faz com que nenhum drama realmente importe para o espectador. Nem mesmo a pobre da possuída desperta nossa simpatia. E quando o demônio usa os traumas dos personagens contra eles (outra clichê do gênero), isso tem zero impacto, pois… ninguém liga.
Visualmente, O Ritual também é sofrível. A maquiagem é até competente, mas nada marcante. A fotografia é podre e, não satisfeito em falhar como roteirista, David Midell também teve as piores escolhas na direção, com uma INJUSTIFICADA câmera na mão, para dar às cenas um ar documental (Talvez? Sei Lá!).
No meio dessa lambança toda, duas boas ideias surgem. Um suposto affair entre o padre Steiger e irmã Rose; e como o exorcismo está impactando a pequena comunidade rural, com pessoas em pânico e animais morrendo. No entanto, nada disso vai adiante.
E se você chegou até aqui perguntando o que levou Al Pacino a entrar nessa barca furada, nem Jesus sabe a resposta. Em um determinado momento seu personagem abre a boca para dizer: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”. Sim, meteram essa frase em 2025, esperando causar impacto. Que Deus te elimine.

Direção: David Midell
Roteiro: David Midell
Elenco: Al Pacino, Dan Stevens e Ashley Greene
Origem: EUA
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Camis
10 de junho de 2016 at 11:37
Vocês chegaram a ler o livro? Se sim, é tão bom quanto o filme?
Cristiane Meire
27 de fevereiro de 2017 at 12:11
Muito bom,já perdi a conta de vezes…que assisti!! espero que tenha uma sequência,seria ótimo.❤